Grupo da Enfermagem estuda técnica para diagnóstico precoce da hanseníase
Descrito em artigo, provável método baseia-se na dosagem de moléculas imunológicas no sangue que possibilita a detecção da doença por meio de exames laboratoriais
A hanseníase é uma das doenças mais antigas de que se tem conhecimento. No entanto, inexistem biomarcadores sanguíneos (moléculas, substâncias ou sinais gerados pela doença) que possibilitam detectar a patologia precocemente por meio de exames laboratoriais.
Pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Hanseníase (Nephans) da UFMG, vinculado à Escola de Enfermagem, descobriram técnica com grande potencial para identificar a doença antes do aparecimento dos sintomas. O método consiste, basicamente, na dosagem de moléculas imunológicas, como CCL2 e IFN-γ, no sangue de doentes e também de familiares de seu convívio, para posterior comparação das respostas.
A descoberta está descrita no artigo CCL2 and IFN-γ serum levels as biomarkers for subclinical infection in household contacts of leprosy patients, publicado no portal científico da empresa holandesa Elsevier.
De acordo com o pesquisador Edson Alexandre de Queiroz, um dos autores do estudo, as oscilações nas concentrações dessas moléculas no sangue de pessoas que conviveram intimamente com os doentes podem indicar a necessidade de tratamento precoce. Alguns estudos sugerem, segundo Queiroz, que uma única dose de antibiótico seria suficiente para quebrar precocemente a cadeia de transmissão da bactéria Mycobacterium leprae (ou bacilo de Hansen), causadora da enfermidade. Pacientes com a doença, por sua vez, precisam receber antibióticos diariamente por até 12 meses.
'Gap' entre contaminação e sintomas
“Os níveis de CCL2 e de IFN-γ, que a princípio são moléculas protetoras, podem ser acompanhados laboratorialmente ao longo do tempo. Isso somado à avaliação clínica do paciente – ou seja, o exame físico, que pode acusar manchas hipocrômicas, com perda da sensibilidade tátil e térmica – e à redução da força muscular possibilita identificar o ‘gap’ entre a contaminação e o surgimento de sintomas”, detalha Edson Queiroz.
A descrição da relação envolvendo as duas moléculas (CCL2 e IFN-γ) é, segundo ele, evidência suficiente para que elas se tornem alvos de novos estudos. “Avaliei várias moléculas em busca de algumas pistas. Elas foram analisadas em conjunto ao longo de dois anos. Como na conclusão de um quebra-cabeça, encontramos uma relação interessante entre CCL2 e IFN-γ”, explica.
O artigo recentemente publicado é desdobramento de outra publicação, resultante de experimento realizado em 2019. Na ocasião, como apuraram os pesquisadores, contatos domiciliares que apresentaram, em avaliações sequenciais, aumento do número de células T ativadas, da frequência de monócito e das imunoglobulinas no sangue poderiam estar infectados pela bactéria causadora da hanseníase, embora ainda não manifestassem sintomas.
“Seguimos em busca de mais 'pecinhas' para o quebra-cabeça, ou seja, outras moléculas igualmente úteis, para que sejamos capazes de tratar doentes assintomáticos antes que passem a ser transmissores da hanseníase”, conclui o pesquisador.