Dificuldade dos pais em aceitarem filhos LGBTs é discutida por cientistas da UFMG
O Dia Internacional contra a LGBTfobia - violência, descrédito e opressão à comunidade lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, transgênero e intersexo é marcado por discussões acerca do preconceito. No Brasil, os crimes por homofobia crescem a cada ano, de acordo com os levantamentos do Grupo gay da Bahia – GGB. No mundo, o Brasil é o país que mais mata por LGBTfobia, segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais – ILGA.
Para a comunidade gay, além dos desafios na sociedade em geral para vencer o preconceito, ainda há um desafio dentro dos lares: conversar sobre a própria identidade de gênero e/ou orientação sexual com os pais e familiares. A dificuldade de contar aos pais que se é gay, por exemplo, não é em vão. Levantamento global realizado pela ILGA em 2016 revela que pelo menos dois terços das pessoas não gostariam de ter um filho gay.
Um dos principais obstáculos para a questão, segundo a coordenadora em Minas Gerais do movimento nacional Mães pela diversidade, Myriam Salum, é a expectativa dos pais em relação aos filhos, fruto de questões culturais e sociais. Para ela, a maior parte dos pais não imagina que o filho poderá não ser heterossexual. O segredo, para a coordenadora, é pensar que a não aceitação do filho pode resultar em consequências graves, em uma sociedade tão homofóbica quanto a brasileira.
A estudante Aline Fernandes, 21 anos, sentiu a LGBTfobia dentro de casa. Há cerca de 15 dias, ela foi expulsa pelos pais de casa pela segunda vez, por eles não aceitarem a sexualidade lésbica da jovem. Ativista dos movimentos gays, Aline diz não guardar rancor dos pais, mas aconselha a familiares de LGBTs a acolherem os filhos e parentes, pois a sexualidade é uma questão íntima, que não define caráter dos sujeitos.
Na reportagem a seguir, o assunto é analisado por pesquisadores da UFMG em meio aos relatos de Aline e Myriam, que contam suas experiência sobre relações paternais com LGBTs.
Relações paternais com LGBTs em estudo na UFMG
Na Universidade, as questões LGBTs são estudadas por diversos campos do conhecimento. A antropologia e a psicologia são alguns deles. Pesquisadora do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT - Nuh da UFMG Isabela Alves alerta para os resultados indesejados que a não aceitação dos filhos gays pode ter para os LGBTs, como perda de autoestima e transtornos mentais, como a depressão. Apesar da importância de viver a própria sexualidade, a cientista observa que não há uma regra sobre contar ou não aos pais sobre ser gay, a questão deve ser avaliada por cada indivíduo.
Realizando estudos sobre a relação entre pais e mães de filhos gays e lésbicas com a família, o professor do departamento de Antropologia e arqueologia da UFMG Leandro de Oliveira observa que além de agressões físicas e verbais e expulsões de casa, os filhos gays também podem ser invisibilizados, tendo suas vivências ignoradas pela família.Por outro lado, o estudioso diz que em muitos casos os filhos gays hostilizados pelos pais costumam ser os filhos que cuidam dos pais na velhice e mais auxiliam a família como um todo em diversas questões.
Produção: Ruleandson do Carmo, Josué Gomes
Reportagem: Josué Gomes, Olívia Resende
Imagens: Antônio Soares, Ravik Gomes
Edição de imagens: Otávio Zonatto