História da Medicina: as dores de cabeça de Anne Frank
As conclusões são resultado de artigo publicado pelo médico cefaliatra Roldão Faleiro de Almeida, que, atualmente, fala sobre o tema na Faculdade de Medicina.
Anne Frank nasceu em 12 de junho de 1929, na Alemanha. Com 13 anos, ela ganhou um diário de presente de aniversário, o qual ela chamou de Kitty. Por quase um mês, a garota contou situações rotineiras de uma menina de sua idade: encontro com as amigas, preocupação com as notas escolares, entre outros. A partir da quarta-feira, dia 8 de julho de 1942, a história passa a ter um elemento a mais: o diário guarda relatos de uma adolescente judia em um esconderijo, em fuga com sua família dos campos de concentração.
Em alguns momentos, ela reclama no diário de uma dor de cabeça, assunto que chamou a atenção do médico neurologista Roldão Faleiro de Almeida. Ele faz uma análise das reclamações da jovem e compartilha os resultados em um artigo publicado em 2007 na revista científica Cephalalgia, chamado Anne Frank’s Headache, escrito em parceria com o neurologista Pedro André Kowacs.
Saiba mais no vídeo da TV UFMG.
Desde a publicação do artigo, o médico faz palestras e dá aula sobre o tema na Faculdade de Medicina da UFMG. O assunto é abordado na disciplina “História da Medicina”, ofertada pelo Centro de Memória da Faculdade. No vídeo abaixo, Roldão explica como foi o processo de produção do trabalho.
Sobre a enxaqueca
De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, a enxaqueca é uma doença neurológica, genética e crônica cuja principal característica é a dor de cabeça latejante, em um ou nos dois lados da cabeça.
Uma pesquisa realizada entre 2017 e 2021 com pacientes que procuraram o Sistema Único de Saúde (SUS) com reclamações de cefaleia mostra que as mulheres são as que mais sofrem com a doença: 65,35% das pessoas analisadas eram do sexo feminino. Os hormônios são uma causa importante para o aparecimento dos sintomas, sendo que a enxaqueca pode se manifestar antes, durante ou após o período menstrual.
Trechos do livro em que Anne Frank reclama de dor de cabeça
Referência: FRANK, Otto H; PRESSLER, M. O Diário de Anne Frank. Tradução de Ivanir Alves Calado. 34ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Página 60
Sábado, 3 de outubro de 1942
Ontem mamãe e eu tivemos outra briga e ela realmente armou a maior confusão. Contou todos os meus pecados a papai e começou a chorar, o que me fez chorar também, e eu já estava com uma tremenda dor de cabeça.
Página 70
Segunda, 2 de novembro de 1942
Bep ficou conosco na noite de sexta-feira. Foi divertido, mas ela não dormiu muito bem porque bebeu um pouco de vinho. Quanto ao resto, não há nada de especial para contar. Ontem tive uma dor de cabeça horrorosa e fui dormir cedo.
Página 91
Sábado, 30 de janeiro de 1943
Estou fervendo de raiva, mas não posso demonstrar. Gostaria de gritar, bater os pés, dar uma boa sacudida em mamãe, chorar e não sei o que mais por causa das palavras horríveis, dos olhares zombeteiros e das acusações que ela me faz dia após dia; [...] Gostaria de gritar com mamãe, com Margot, com os van Daan, com Dussel e com papai também: “Me deixem em paz, deixem que eu tenha pelo menos uma noite sem chorar até dormir com os olhos ardendo e cabeça latejando. Deixem que eu vá embora, embora de tudo, embora deste mundo!” Mas não posso fazer isso.
Página 124
Segunda, 26 de julho de 1943
Tive uma dor de cabeça terrível, por isso me deitei durante uma hora depois do desjejum e fui para o escritório por volta das duas.
Página 308
Quinta, 19 de maio de 1944
Ontem estava me sentindo podre. Com vômitos (e isso vindo de Anne!), dor de cabeça, dor de estômago e tudo o mais que você possa imaginar. Hoje estou me sentindo melhor.
Equipe
Produção e reportagem: Flávia Moraes
Imagens: Anne Frank House / Samuel do Vale
Edição de imagens: Otávio Zonatto
Edição de conteúdo: Flávia Moraes
Transporte: Pedro campos