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História das Olimpíadas é marcada por exclusão de corpos dissidentes

Segunda reportagem da série especial sobre atletas trans conta a história dos testes de gênero nos Jogos e fala sobre as regras atuais para participação de trans na competição

A jogadora de vôlei Érika Coimbra foi reprovada em um teste de gênero porque nasceu com a Síndrome de Morris que a fazia produzir mais testosterona do que o normal
A jogadora de vôlei Érika Coimbra foi reprovada em um teste de gênero porque nasceu com a Síndrome de Morris que a fazia produzir mais testosterona do que o normal Zorro2212 I Wikimedia Commons I CC BY-SA 3.0

As olimpíadas de Tóquio já entram para história como as primeiras a receber uma atleta trans que já iniciou o processo de transição. Como foi dito na reportagem de estreia da série O esporte é para todes? - Desafios para a inclusão de atletas trans, trata-se da neozelandesa Laurel Hubbard, do levantamento de peso.  Mas quais são as regras para a participação de atletas trans em competições olímpicas? O que são os testes de gênero e como foi a evolução desses exames ao longo da história dos Jogos? Essas são algumas das questões discutidas na segunda reportagem da série.
 
Os primeiros jogos da era moderna, realizados em 1896, não tiveram participação feminina. Foi só quatro anos depois que elas puderam disputar a competição pela primeira vez. Mas, para isso, durante as primeiras edições das Olimpíadas, no início do século 20, as mulheres precisavam se submeter aos chamados testes de feminilidade. Oficialmente, a justificativa era impedir trapaças. Mais precisamente, evitar que homens competissem em categorias femininas. Na prática, no entanto, as atletas escolhidas para se submeter aos testes, muitas vezes, eram obrigadas a ficarem nuas e passarem por uma verificação das genitálias por um comitê de médicos. 
 
Foi a partir da Olimpíada do México em 1968, que o Comitê Olímpico Internacional (COI), tornou os testes de gênero obrigatórios e surgiu a chamada carteirinha rosa, uma espécie de atestado de que a atleta era mulher. Nessa mesma edição, os exames ginecológicos foram substituídos por testes genéticos, para saber se cada competidora possuía os dois cromossomos X. Com isso, ao longo da história, muitas atletas intersexuais, ou seja, pessoas que nascem com características sexuais que não se encaixam nas definições típicas de masculino e feminino, foram barradas.
 
Com o passar dos anos, os testes de gênero se tornaram menos invasivos, com amostras de saliva e sangue, o que não garantiu o fim dos constrangimentos e discriminações para as atletas intersexuais. Após muita pressão, desde o ano 2000 nas Olimpíadas de Sydney, na Austrália, o COI decidiu abandonar a obrigatoriedade dos testes, mas eles ainda existem em algumas modalidades. Entre elas, o atletismo. 

Já as atletas trans só ganharam o direito de disputar as Olimpíadas a partir de 2004. As regras do COI inicialmente exigiam a cirurgia de redesignação genital. Essa obrigatoriedade caiu em 2015, quando a entidade revisou suas diretrizes. O relatório do comitê afirma que impor a cirurgia pode ser inconsistente com novas legislações e noções de direitos humanos.  Atualmente, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, as atletas trans podem participar de Olimpíadas desde que seus níveis de testosterona estejam abaixo de 10 nanomoles por litro por pelo menos um ano antes de sua primeira competição. Saiba mais na reportagem apresentada por Arthur Bugre:


Amanhã, na terceira reportagem da série O esporte é para todes? Desafios para a inclusão de atletas trans: o que é terapia hormonal, quais são as diferenças entre pessoas cisgênero e pessoas trans e por que essas questões são importantes para o debate sobre supostas vantagens de mulheres cis sobre mulheres trans. As reportagens da série vão ar até esta sexta, sempre às 10h15, em 104,5 FM ou no site da Rádio. A série tem produção de Igor Costa, Arthur Bugre e Paula Alkmim e trabalhos técnicos de Breno Rodrigues.