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Intervenção militar no Rio evidencia abordagens indevidas sofridas por pessoas negras no Brasil

Em 2018, completam-se 130 anos da abolição da escravatura no Brasil e a democracia racial segue sendo um mito

“Se você é negro, preste atenção nisso que vamos falar: evite sair de casa em altas horas, leve o cupom fiscal de equipamentos caros e nunca ande sozinho”. Essas são algumas das dicas que o jornalista Edu Carvalho, do site Faveladarocinha.com, e os youtubers Spartakus Santiago e AD Junior apresentam no vídeo Intervenção no Rio: como sobreviver a uma abordagem indevida (que pode ser visto acima).

O foco do vídeo é a intervenção militar que ocorre, no momento, no Rio de Janeiro, mas as dicas geraram reconhecimento e estão sendo apropriadas por diversas pessoas de todo o Brasil, que se sentem ameaçadas diariamente por serem negras. 

Em 2018, completam-se 130 anos da abolição da escravatura no Brasil e a democracia racial segue sendo um mito, fato que é comprovado pelas altas taxas de homicídio da população negra e também por outras formas de racismo.

O Atlas da Violência 2017, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança, revela que homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no Brasil.

Na edição desta quarta-feira, 21, o programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, recebeu a professora Analise da Silva, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação da UFMG, para falar sobre a questão racial e sobre o que é ser negro no Brasil no século 21.

“Ser negro no Brasil hoje não difere muito do que era ser negro quando houve a abolição da escravatura e negros não tiveram seus direitos à moradia, educação e saúde garantidos. Ser negro no Brasil hoje é reflexo e consequência dessa dívida social que nosso país tem com o povo afrodescendente”, afirmou.

Analise da Silva destacou ainda as desigualdades enfrentadas no mercado de trabalho, onde, mesmo exercendo funções de complexidade equivalente, pessoas negras ainda recebem salários inferiores.

“Significa também olhar para os trabalhadores braçais e ver que, em sua esmagadora maioria, são descendentes daquele povo que foi sequestrado na África, trazido para cá e escravizado. É saber que a cada abordagem dos agentes de segurança nós podemos estar sujeitos ao abuso de poder”, completou.

ouca-a-conversa-com-luíza-glória-21-02-2018.mp3Mães de jovens negros mortos em protesto contra a violência policial 
Mães de jovens negros mortos em protesto contra a violência policial Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil (22/02/2017)