Livro narra trajetórias e desafios de escravos libertos em Minas Gerais, no século 18
Em entrevista ao programa Conexões, Douglas Lima, autor do livro, falou sobre sua pesquisa de mestrado que resultou na publicação
![Editora Caravana Capa do livro](https://ufmg.br/thumbor/QGr0bBRgjfF85pMeFbB4eZe1q9o=/0x0:1652x2480/1652x2480/https://ufmg.br/storage/3/d/e/2/3de2565a2211edf2d74a202189ba16b4_16076286897157_358547907.jpg)
Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em História da UFMG resultou no livro Libertos, patronos e tabeliães: a escrita da escravidão e da liberdade em alforrias notariais, de autoria de Douglas Lima, professor de história e doutorando em História na UFMG. O título é resultado de sua pesquisa de mestrado, onde o pesquisador analisa as trajetórias e os desafios de ex-escravos libertos em Minas Gerais durante a primeira parte do século 18, mais especificamente na antiga Comarca do Rio das Velhas, região de Sabará.
A pesquisa foi desenvolvida por meio de documentos manuscritos, entre cartas e escrituras de alforria, que estão no arquivo documental do Museu do Ouro/Casa Borba Gato, em Sabará. Na obra, Douglas Lima também reflete sobre as implicações dos eventos relatados e sobre como essa história ainda repercute nos dias de hoje.
Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta sexta-feira, 4, Douglas Lima contou que a ideia da pesquisa de mestrado nasceu ainda durante sua graduação em História, na UFMG. "Ainda no segundo período, tive a oportunidade de fazer uma iniciação científica. A pesquisa começa com meu primeiro contato com manuscritos do século 18", explicou. As cartas e escrituras de alforria manuscritas consultadas e transcritas, que deram base ao projeto e ao livro, estão resguardadas no arquivo documental do Museu do Ouro/Casa Borba Gato, em Sabará. "Grande parte dessa documentação está disponível para pesquisadores. As pessoas têm uma visão equivocada que a documentação sobre o período colonial e a escravidão se perdeu, o que não é verdade. Uma parte muito limitada dessa documentação é que se perdeu com o tempo", afirmou.
Segundo o pesquisador, é uma tarefa urgente entender esse período da nossa história. “A formação do nosso povo passa muito pela experiência da escravidão e também pela experiência de liberdade que existia durante o período de escravidão. O conceito de liberdade era muito diferente do conceito que nós entendemos hoje. Por muitos anos, eu não sabia se estava estudando a história da escravidão ou da liberdade”, explicou.
Um aspecto importante em relação aos documentos de alforria evidenciado no livro e na pesquisa é o fato de que a liberdade na lei nem sempre significava liberdade na prática: algumas pessoas ex-escravizadas continuavam com os patronos. Há também os casos daqueles que tinham autonomia suficiente e não dependiam dos patronos depois da alforria. "A gente encontra uma variabilidade muito grande de possibilidades e caminhos possíveis. Não à toa, na dissertação, eu usei a palavra polissemia, que consegue explicar todos esses caminhos possíveis para a conquista da liberdade", disse.