Pesquisa e Inovação

Mestrando da Engenharia publica série de vídeos sobre o saneamento em BH

Rafael Brochado investigou o tema, encarnou um 'detetive' e criou seis episódios em que resgata a história para falar do presente

Captura de tela do primeiro episódio da série
Imagem do primeiro episódio: de 1890 até hojeReprodução | YouTube

Quem conhece como surgiu uma cidade consegue compreender o presente e pensar em propostas para o futuro. Com base nessa convicção, Rafael Pessoa Santos Brochado, mestrando em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos na Escola de Engenharia da UFMG, desenvolveu a série de vídeos História do saneamento de Belo Horizonte.

Com seis episódios, o projeto traça uma linha do tempo desde 1890, quando a capital não havia sido fundada – e o local se chamava Curral del Rey – até a atualidade. A série possibilita compreender a relação do saneamento e esgoto com questões sociais que perduram até hoje, além de conhecer diversas curiosidades sobre a infraestrutura de BH.

A série foi lançada no âmbito do núcleo de transmissão do conhecimento do Instituto Nacional de Tecnologia (INCT) em Estações de Tratamento de Esgoto Sustentáveis, que divulga assuntos relacionados à área do saneamento de forma didática e acessível ao público leigo. O Instituto reúne diversas universidades do Brasil e tem sua sede na UFMG. 

A inspiração para a série surgiu em conversa no INCT. "O professor Marcos Von Sperling [do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental] comentava que Belo Horizonte começou a tratar esgoto apenas em 2001, e eu fiquei espantado com a informação! Eu estava em um curso desse campo e não sabia disso. Fiquei curioso e resolvi investigar mais o tema”, conta Rafael Brochado.

Captura de tela do primeiro episódio da série; apresentação do personagem detetive Chico
No primeiro episódio, Rafael apresenta o detetive Chico Reprodução | YouTube

Detetive Chico
No processo de pesquisa, Rafael criou um personagem para apresentar a série, o detetive Chico, que já havia feito uma aparição em outro vídeo do Instituto. “A ideia do detetive é de um projeto antigo, um clipe de música educativo que explica para onde vai o nosso esgoto. Resgatei o personagem e o adaptei para o contexto brasileiro, por isso o chamei de Chico. Além disso, fiz que em alguns momentos ele usasse vestimentas adequadas para o nosso clima tropical, como bermuda e chinelo”, relata o mestrando.
 
Rafael recorreu a diversas fontes que continham a história da infraestrutura belo-horizontina desde sua fundação, em 1897. As principais foram o livro comemorativo da história dos 100 anos do saneamento de Belo Horizonte, lançado pela Copasa, e um outro livro publicado por Newton Vianna, considerado como um dos grandes nomes do saneamento na cidade. 

O detetive Chico conseguiu, então, investigar a história entre 1890 e 1975, período sobre o qual há poucos relatos – foi necessária intensa procura por documentos e registros. Para conhecer os fatos a partir da metade dos anos 70, o detetive pôde contar com depoimentos de pessoas que tiveram relação direta com o saneamento na cidade.

“Eu acho este estudo importante porque procura sensibilizar o cidadão e mostrar que Belo Horizonte está cheia de rios, córregos e ribeirões por baixo das ruas e avenidas. É muito importante que as pessoas saibam disso para entender os problemas decorrentes da canalização dos córregos”, enfatiza o pesquisador.

Reflexos na saúde pública
Além das relações entre os córregos e as enchentes, os vídeos esclarecem também como a qualidade da saúde pública está ligada ao saneamento básico. “Por exemplo, a população que há muitas décadas habitava a região do bairro Santa Efigênia não contava com saneamento básico. Quando os moradores foram transferidos para uma área com infraestrutura adequada, reduziram-se os casos de ascaridíase”, conta Rafael.

No segundo episódio, também se comenta a relação entre saúde e ausência de infraestrutura sanitária no Barro Preto, região que apresentava o maior índice de mortalidade infantil entre 1897 e o início do século 20.

Para o estudante, as questões abordadas pela série também ajudam a compreender a desigualdade social na capital e a urgência de ações que assegurem direitos. "Desde os primeiros anos, a população periférica não tinha nenhuma estrutura, era negligenciada no que se refere à prestação de serviços de infraestrutura, incluindo o saneamento, o abastecimento de água e a coleta de esgoto. Hoje, 10% da população da cidade não tem acesso ao tratamento de esgoto, e esse grupo está nas periferias. Passaram-se mais de 100 anos e o problema se mantém, de alguma forma. A questão do saneamento tem que ser tratada com prioridade”, pondera Rafael Pessoa.

O projeto já está integralmente disponível no canal do INCT ETEs Sustentáveis no YouTube. Assista ao primeiro episódio.

Vinícius Fernandes