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'Outra estação' conta histórias de profissionais que não pararam na pandemia

Pesquisadora, motorista de ônibus, técnica em enfermagem e gari falam à Rádio UFMG Educativa sobre o que mudou em suas rotinas

Ficar em casa é uma atitude recomendada pelos órgãos de saúde e pela ciência para controlar a disseminação do coronavírus. Mas nem todos têm condições de trabalhar a distância, em seus lares. Há um grupo de pessoas que cumprem funções fundamentais para a sociedade durante a pandemia e que precisam se deslocar diariamente para o trabalho, seja porque atuam na linha de frente do combate ao coronavírus, seja porque garantem a continuidade de serviços indispensáveis à população. 

Profissionais da saúde, pesquisadores, trabalhadores da limpeza urbana e do transporte público são apenas alguns exemplos dos responsáveis por chamados serviços essenciais, isto é, aqueles que não podem parar mesmo com as medidas de isolamento. O novo episódio do programa Outra estação, da Rádio UFMG Educativa, conta as histórias de quatro desses profissionais, que falam sobre as mudanças na rotina provocadas pelo coronavírus, os riscos e os desafios enfrentados nesse novo contexto: a virologista da UFMG Giliane Trindade, o motorista de ônibus Vitor de Oliveira Pereira, a técnica em enfermagem Kamila Alves e a gari Vilma Aparecida Pereira Silva.


Giliane, a “caçadora” de vírus

"Sou virologista e tenho uma atuação direta neste momento. Também sou mãe e gerencio uma casa, com duas crianças 24 horas por dia. Crianças ainda pequenas que demandam atenção." 

A busca por informações científicas que possam ajudar no combate ao coronavírus é o que move Giliane de Souza Trindade, de 47 anos. Ela é virologista e professora do Departamento de Microbiologia no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Nas palavras da própria Giliane, ela sempre quis ser uma “caçadora de vírus” e seu trabalho envolve, entre outras coisas, descobrir como diferentes vírus emergem, como circulam na natureza e como se espalham na população. Informações que se tornaram ainda mais essenciais neste momento. 

Paralelamente às atividades de pesquisa, Giliane também supervisiona os trabalhos de seus orientandos de mestrado e doutorado e cumpre tarefas administrativas, já que também é vice-chefe do Departamento de Microbiologia do ICB. Mãe de duas meninas, Sofia, de 8 anos, e Beatriz, de 6, ela precisa conciliar o trabalho semipresencial na Universidade com as diversas tarefas domésticas e o cuidado com as crianças, além de lidar com novas demandas que têm surgido, como o atendimento à imprensa.

A professora do Departamento de Microbiologia da UFMG Giliane Trindade com as filhas
A professora do Departamento de Microbiologia da UFMG Giliane Trindade com as filhas Arquivo pessoal


Vitor: sensação de dever cumprido

"Fico muito feliz de fazer parte dos serviços essenciais, especialmente porque na primeira semana trabalhei numa linha que atendia a área hospitalar. Eu me senti muito útil. Grande parte das viagens que realizei eram com pessoas da área de saúde."

O trabalho do motorista Vitor de Oliveira Pereira, de 31 anos, é garantir que aqueles que têm necessidade de se deslocar durante a pandemia, como os profissionais de saúde, possam chegar a seus locais de trabalho e depois voltar para casa. Se, de um lado, a rotina ficou um pouco mais tranquila no início da pandemia, com a redução do trânsito na cidade, do outro, surgiram novos problemas, como lidar com os passageiros que não querem seguir as normas de segurança necessárias para contenção do coronavírus.

Apesar de sentir falta do convívio e dos momentos de lazer com os amigos que eram comuns na sua vida antes do coronavírus, ele têm procurado encarar o período de pandemia de uma forma produtiva e buscado se aperfeiçoar profissionalmente. Para isso, quando não está no trabalho, ele foca nos estudos sobre transporte urbano e aproveita para pesquisar temas como modernização dos veículos e atendimento ao cliente.

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O motorista Vitor de Oliveira Pereira: "sem meu trabalho, como as pessoas poderiam se deslocar?"Arquivo pessoal

Kamila: luta pela valorização da profissão

"Os profissionais da saúde estão sendo vistos como heróis, e a gente fica muito grato. Mas a gente quer que nos vejam como seres humanos. Seres humanos que também precisam de cuidados, que têm medos, emoções, que são submetidos a cargas de trabalho excessivas."

A chegada do coronavírus trouxe medo e preocupação para a técnica em enfermagem Kamila Alves, já que, como profissional da área de saúde, ela lida direta e diariamente com a possibilidade de exposição ao vírus durante sua puxada jornada de trabalho no setor de internações de um hospital, com turnos de doze horas seguidas. Mas ela sabe que seu trabalho é fundamental para salvar vidas.

Do ponto de vista da rotina, o momento tem sido o de redobrar os cuidados para minimizar os riscos de contaminação dos pacientes e dos próprios profissionais que trabalham no hospital e para evitar levar o vírus para seus familiares. Com a experiência de quem tem lidado com a pandemia bem de perto, Kamila alerta que parte da população parece ainda não ter noção do perigo que o coronavírus representa e pede mais reconhecimento a sua categoria profissional.

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A técnica em enfermagem Kamila Alves sente que sua profissão não é valorizada pela sociedadeArquivo pessoal


Vilma: cuidados redobrados com a pandemia

"A gente tenta proteger a família ao máximo, chegando em casa e retirando as roupas de serviço na porta. Mas a gente ainda fica com medo de não estar fazendo a coisa certa. É muito difícil... Não só para a gente, mas para as outras pessoas que precisam continuar no seu emprego".

Vilma Aparecida Pereira Silva é gari há 16 anos. Sem o seu trabalho, a população estaria exposta não apenas ao coronavírus, mas também a doenças que podem ser transmitidas pelo lixo. As ruas também estariam sujas e com mau cheiro. A pandemia de Covid-19 alterou bastante sua rotina. A jornada de trabalho ficou mais curta, os cuidados com higiene foram redobrados e o medo de manter contato com pessoas infectadas pelo vírus na rua ou até com resíduos descartados que podem estar contaminados tem sido recorrente. 

Como se não bastasse toda essa situação de estresse, em plena pandemia do coronavírus, Vilma acabou contraindo outro vírus: o da dengue. Com a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, vieram ainda vários outros transtornos. Mesmo se sentindo mal, ela não conseguiu atendimento no posto de saúde nem um atestado médico que a dispensasse do trabalho.

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A gari Vilma Aparecida Pereira Silva: "peço a Deus para não entrar em desespero"Arquivo pessoal

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Produção
O episódio 45 do Outra estação é apresentado por Breno Benevides e Camila Meira, também responsáveis pela produção do programa, que teve edição e coordenação de jornalismo de Paula Alkmim e trabalhos técnicos de Breno Rodrigues. 

Outra estação aborda, semanalmente, um tema de interesse social. Na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM), vai ao ar às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h30. O conteúdo também está disponível nos aplicativos de podcast, como o Spotify.