Coberturas especiais

Acesso desigual de mulheres a exames preventivos dificulta diagnóstico do câncer de mama

Em entrevista ao programa Conexões, professora Débora Balabram, da Faculdade de Medicina da UFMG, falou sobre prevenção do câncer de mama e acesso desigual das mulheres à prevenção

Segundo o Observatório de Oncologia, 52% dos casos de câncer de mama diagnosticados em mulheres negras e pardas é descoberto tardiamente.
Segundo Observatório de Oncologia, 52% dos casos de câncer de mama diagnosticados em mulheres negras e pardas é descoberto tardiamentePhoto by National Cancer Institute on Unsplash

O mês de outubro em todo o Brasil é marcado pela campanha Outubro Rosa, cuja intenção é alertar a sociedade para a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, o segundo mais comum entre as mulheres, que corresponde a quase 30% dos novos casos de câncer diagnosticados anualmente em mulheres brasileiras. O câncer de mama é também a maior causa de morte da população feminina. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que aproximadamente 65 mil casos de câncer de mama serão diagnosticados neste ano no Brasil. 

Segundo dados do Observatório de Oncologia, o diagnóstico do câncer de mama no Brasil ainda é tardio em cerca de 40% dos casos. E esse atraso no diagnóstico tem relação direta com a classe social da mulher atingida pela doença. No programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta terça-feira, 13, a médica mastologista Débora Balabram, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, esclareceu que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e reduz a necessidade de tratamentos mais agressivos. 

Além desses dados já alarmantes, durante a pandemia, segundo a professora, houve a diminuição no número de mamografias realizadas, o que se soma à falta de insumos, o que  também afeta a quantidade de exames preventivos e tratamentos cirúrgicos em casos já diagnosticados. Sobre os impactos socioeconômicos no controle do câncer de mama, Débora Balabram afirmou que mulheres de baixa renda e com menor acesso à educação formal podem ter mais dificuldade em exigir os próprios direitos, como os exames preventivos e o tratamento precoces da doença. "O que também ocorre é um maior intervalo no tratamento. Em pelo menos 30% dos casos, há uma demora de mais de três meses entre o diagnóstico e o tratamento. Essa realidade reforça a falta de equidade do sistema de saúde", afirmou.

Ainda segundo dados compilados pelo Observatório de Oncologia, a situação é ainda mais grave quando se trata de mulheres negras. Nas mulheres brancas com câncer de mama, 43% dos diagnósticos ocorreram tardiamente e 28% precocemente. Em mulheres pardas e pretas, a descoberta em quadros mais avançados ocorreu em 52% dos casos, e em apenas 19% o diagnóstico foi no início da doença. 

Débora Balabram reforçou também a importância de que as mulheres conheçam as próprias mamas e façam a mamografia regularmente. "O número de mamógrafos em solo nacional é suficiente para atender à população. Há que se reforçar a reivindicação e a convocação. Não adianta só fornecer a mamografia e a paciente não ter acesso à consulta após o exame. Embora haja os problemas de financiamento do SUS, a maior parte dos medicamentos e tratamentos de ponta estão disponíveis no sistema público", concluiu.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Outras informações sobre o câncer de mama podem ser encontradas no site do Inca. No Observatório de Oncologia, podem ser acessados outros dados como os citados durante a entrevista.

Produção: Arthur Bugre
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Hugo Rafael