Institucional

Pandemia expôs urgência de novo modelo de desenvolvimento, afirmam pesquisadores

Mesa-redonda da Marcha Virtual pela Vida discutiu implicações ambientais e sociais da crise do coronavírus

Reitora da UFMG:
Sandra Goulart: "vigilantes e unidos em defesa da vida" Raphaella Dias/UFMG

Desmatamentos, queimadas e mudanças climáticas são fatores diretamente relacionados ao surgimento e agravamento de doenças respiratórias e risco potencial diante do crescente aumento de casos de contaminação pelo novo coronavírus e de futuras pandemias. O alerta, unânime, foi feito por pesquisadores da UFMG participantes de mesa-redonda que integrou a programação da Marcha Virtual pela Vida, na manhã desta terça-feira, dia 9. O evento foi transmitido pelo canal do Youtube da Coordenadoria de Assuntos Comunitários, com tradução em Libras.

Na abertura da mesa que discutiu Aspectos sociais e ambientais da pandemia de Covid-19, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirmou que “a Marcha pela Vida é um momento de vigília, em que todos devem se unir com responsabilidade e ética na defesa contundente da vida”. E defender a vida, segundo a reitora, “significa defender investimentos na ciência, defender a transparência na divulgação de dados públicos, defender o Sistema Único de Saúde, o meio ambiente, a democracia, a igualdade de direitos e a liberdade de expressão”.

A reitora destacou, ainda, que "esses temas transversais são fundamentais para a construção de uma sociedade mais solidária, justa e equânime e para um planeta mais sustentável".

Raoni Rajão e a intérprete de Libras Cristiana Klimsa
Raoni Rajão e a intérprete de Libras Cristiana Klimsa: riscos ambientais
Raphaella Dias/UFMG

Para o professor da Escola de Engenharia Raoni Rajão, a previsão de que a região amazônica registre seca mais intensa que a do ano passado põe o país em alerta para maior risco de queimadas. Ele afirmou que “o posicionamento do ministro do Meio Ambiente em relação à desburocratização e à simplificação das regras, especialmente em relação à Mata Atlântica, associada à desestruturação do Ibama e ao aumento dos desmatamentos, só elevam o risco de o país ser reconhecido internacionalmente como vilão do meio ambiente, inviabilizando acordos econômicos e agravando os impactos da pandemia”.

O professor Aristóteles Góes Neto, do Instituto de Ciências Biológicas, explicou, resumidamente, que os desmatamentos e as mudanças climáticas contribuem para que os animais silvestres estejam cada vez mais próximos dos seres humanos, o que favorece a mudança de hospedeiros de vírus, como ocorreu com o Sars-Cov-2, que migrou de morcegos para as pessoas.

Aristóteles Góes Neto alerta para redes aeroportuárias
Aristóteles Góes Neto alerta para redes aeroportuárias Raphaella Dias/UFMG

Aristóteles fez um apanhado da origem do vírus causador da Covid-19 e suas características e chamou a atenção para a importância de acordos globais em relação às barreiras sanitárias das redes aeroportuárias. Ele citou estudo em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto e do Instituto de Ecologia do México, que confirma ter sido a rede aeroportuária a porta de saída do vírus de uma região da China para o resto do mundo.

Trabalho em rede e política do cuidado
A pró-reitora de Extensão da UFMG, Cláudia Mayorga, ressaltou que a necessidade de proposição de novos modelos de desenvolvimento que levem em consideração todos esses aspectos, aliados à manutenção de renda mínima para a população, já faz parte da pauta de discussões de muitos países, inclusive da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Entretanto, na avaliação da professora, com o aumento da pobreza e das taxas de desemprego, as dificuldades já vivenciadas por mulheres, populações negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, LGBT, carcerária, idosa e pessoas com deficiência foram potencializadas. Diante desse cenário, ela propôs reflexões que considerem dois eixos fundamentais: o trabalho em rede e a política do cuidado.

“O enfrentamento da pandemia só será possível com o fortalecimento das redes de colaboração, com a intensificação do diálogo com a sociedade e com a indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão”, defendeu.

Cláudia Mayorga:
Cláudia Mayorga: 'novo normal' não pode repetir referência de normalidade centrada na violênciaRaphaella Dias/UFMG

Quanto à política de cuidado, a pró-reitora afirmou que é preciso colaborar para salvar vidas, projetar e construir o presente e o futuro, com destaque para as atividades de extensão e de assistência, popularização e divulgação da ciência, democratização do acesso à informação e proteção da saúde mental, com valorização da atuação dos estudantes nesse período de pandemia. 

“O chamado 'novo normal' não pode repetir a referência de normalidade que violenta e escolhe quem vive. Precisamos ter curiosidade e coragem para abraçar essa proposta", concluiu.

Teresa Sanches