Os pesquisadores Samuel Araujo Gomes da Silva, da área de Demografia, Pedro Henrique Silva Coutinho, da Engenharia Elétrica, e Sérgio Ricardo Aluotto Scalzo Jr., das Ciências Biológicas, conquistaram o Grande Prêmio de Teses UFMG 2022. Os nomes dos vencedores foram revelados em cerimônia realizada na noite desta quinta-feira, 20 de outubro, no auditório da Reitoria, durante a 31ª Semana do Conhecimento.

A escolha dos melhores trabalhos de doutorado defendidos em 2021 foi feita por comissão instituída pela Câmara de Pós-graduação. Cinquenta e nove pesquisas foram indicadas por seus respectivos programas e ganharam o Prêmio UFMG de Teses. Os trabalhos concorreram em três grandes campos do conhecimento.

Samuel Araújo venceu o Grande Prêmio na área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes; Sérgio Aluotto, em Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, e Pedro Coutinho ficou com o prêmio máximo na área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias.

Impacto
A professora Isabela Almeida Pordeus, pró-reitoria de Pós-graduação, destacou “o grande impacto científico e social” dos 59 trabalhos premiados e fez referência à recente avaliação quadrienal da Capes, ainda preliminar, que também comprova a força da pós-graduação da UFMG. “Isso não é de agora. É resultado de uma trajetória”, sentenciou ela, antes de citar os números expressivos alcançados globalmente pela pós-graduação da UFMG. Dos 90 programas, 27 tiveram sua nota aumentada, enquanto 55 se mantiveram no mesmo patamar, muitos deles com nota máxima.  

O presidente da Fapemig, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, elogiou a dedicação dos pesquisadores agraciados. “Desenvolver uma tese ou uma dissertação não é um trabalho trivial; exige um esforço muito grande, inversamente proporcional aos valores pagos pelas bolsas", comparou ele. Beirão, que é professor da UFMG, mencionou uma característica típica do cientista, que é a capacidade de se debruçar sobre o desconhecido, como a covid-19. “Se não fosse a pesquisa feita no mundo, particularmente na UFMG, talvez não estivéssemos aqui hoje”. ressaltou.

O combate à pandemia também foi abordado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida em seu discurso. “As universidades se fizeram presentes desde o primeiro momento para contribuir na formulação de respostas à situação inesperada e trágica – trazendo a ciência mais perto da população e oferecendo subsídios e evidências para a construção de políticas públicas”, destacou ela, citando, no caso da UFMG, a criação do comitê de enfrentamento do novo coronavírus antes mesmo do registro do primeiro caso da doença em Minas Gerais, o atendimento prestado por seus hospitais, a estruturação de uma rede de testagem, com apoio do governo federal, que respondeu por mais de 30% dos exames feitos no estado, e as pesquisas que resultaram na vacina SpiN-Tec, cujos testes clínicos de fases 1 e 2 foram autorizados recentemente pela Anvisa. “A UFMG foi incansável nessa luta”, resumiu.

Sandra Goulart também lembrou os desafios impostos à comunidade científica com os sucessivos cortes na pesquisa e na educação e acrescentou que a realização dessa cerimônia neste contexto desfavorável “simboliza mais que uma homenagem a nossos ilustres estudantes [agraciados com o prêmio]; sinaliza uma demonstração de força, esperança e coesão, um ato de resistência, a luta por um sonho para todos nós que fazemos parte desta comunidade”.

Família, gênero e identidade sexual
Samuel Araujo, do Programa de Pós-graduação em Demografia, discute em sua tese – "Nós que mudamos, eles não”: A importância do suporte familiar, da idade e do gênero na análise do desenvolvimento da identidade sexual e da saúde mental de lésbicas, gays e bissexuais em Minas Gerais – as associações de idade, gênero e família com a identidade sexual (DIS) e a saúde mental de lésbicas, gays e bissexuais (LGB) no estado. Ele aplicou survey on-line em 754 pessoas, em 2019; 33 também participaram de entrevistas semiestruturadas. Esse trabalho gerou um banco de dados inédito sobre minorias sexuais em Minas. As mulheres apresentaram marcadores de DIS em idades mais avançadas do que os homens, mas para elas foi menor o intervalo entre se reconhecer e comunicar a sua sexualidade. Elas também tiveram os piores resultados de saúde mental, especialmente as mais jovens.

O pesquisador identificou que, apesar dos avanços institucionais em prol da diversidade sexual e de gênero, houve poucas mudanças nos domicílios de origem em relação à aceitação e acolhimento de filhos LGB. Segundo ele, o papel do apoio familiar e o das instituições orientadas para o indivíduo são elementos fundamentais nas análises sobre saúde mental, na formulação de políticas públicas e nas estratégias de coleta de dados e informações sobre minorias sexuais. Samuel foi orientado pela professora Paula Miranda-Ribeiro e coorientado por Gilvan Ramalho Guedes e Kenya de Souza Noronha.

Projeto simultâneo para estabilidade de sistemas
A tese de Pedro Coutinho – Dynamic event-triggered control of nonlinear sysems: a quasi-LPV approach – trata do problema de projeto simultâneo de controladores e mecanismos dinâmicos de acionamento baseados em eventos para a classe de sistemas de controle não lineares via rede representados por modelos politópicos quasi-LPV. O principal objetivo do pesquisador foi obter condições de projeto simultâneo, via LMIs, para que o número de eventos gerados seja reduzido tanto quanto possível. A nova lei de acionamento proposta torna possível cancelar completamente o efeito induzido pelo assincronismo dos parâmetros.

Coutinho, que fez sua pesquisa sob orientação do professor Reinaldo Martínez Palhares, no Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica, demonstra também que a estratégia proposta não produz comportamento de Zenão (resistência de um sistema a mudar na presença de um observador, mesmo com todas as condições favoráveis). Simulações numéricas ilustram a efetividade das condições de projeto simultâneo propostas por ele para garantir a estabilidade do sistema em malha fechada requerendo um número reduzido de eventos na comparação com mecanismos estáticos projetados via emulação e projeto simultâneo.

Contração de células musculares do coração
De acordo com Sérgio Aluotto, autor da tese Contraction Wave: Software baseado em fluxo óptico denso para quantificar a contratilidade celular, a quantificação da contratilidade dos cardiomiócitos, as fibras musculares do coração, é uma etapa fundamental na compreensão dos mecanismos da gênese da doença cardíaca. No entanto, medidas precisas e reprodutíveis são dificultadas com o uso dos softwares disponíveis. O pesquisador desenvolveu uma tecnologia para quantificar a biomecânica dos cardiomiócitos por meio de um software de código aberto em linguagem Python, o ContractionWave.

Uma plataforma única viabiliza, segundo ele, um método robusto para adquirir, visualizar, analisar e quantificar parâmetros de contratilidade. O software tem características inovadoras, como algoritmo de fluxo óptico denso, que propicia detecção automática dos parâmetros de velocidade média de contração-relaxamento e da frequência de contração, e uma interface amigável para usuários não especialistas. Os dados obtidos na pesquisa mostram que o alto desempenho do novo software proporciona maior rapidez em testes de drogas e modelagem de doenças e favorece o avanço da pesquisa básica na área cardíaca. Sérgio Aluotto foi orientado pela professora Silvia Guatimosim, do ICB, no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas: Fisiologia e Farmacologia. O trabalho teve coorientação de Ubirajara Agero Batista, do ICEx.

Os trabalhos de Sérgio Aluotto e Samuel Araújo também foram premiados neste ano pela Capes. Leia matéria publicada no Portal UFMG.

Menções honrosas

Quatro pesquisas receberam menção honrosa no Prêmio UFMG de Teses.

Roubar, furtar e traficar em Belo Horizonte: determinantes da articulação para distintos fluxos da justiça criminal rendeu destaque a Juliana Neves Lopes Rodrigues, do Programa de Pós-graduação em Sociologia. Ela foi orientada pela professora Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro.

A tese Harm principle, bem jurídico e teoria da criminalização: fundamentos e limites da criminalização legítima em um Estado liberal, de Tatiana Maria Badaró Baptista, também foi agraciada. Ela pesquisou no âmbito do Programa de Pós-graduação em Direito, sob orientação de Luís Augusto Sanzo Brodt.

O trabalho de Bárbara Fernandes Cordeiro – Desenvolvimento e avaliação do efeito terapêutico de queijos potencialmente probióticos em modelo murino de colite ulcerativa – também foi escolhido. Ela foi orientada por Vasco Ariston de Carvalho Azevedo, no Programa de Pós-graduação em Inovação Tecnológica. O coorientador foi Fillipe Luiz Rosa do Carmo.

Ivana Meyer Prado defendeu, no Programa de Pós-graduação em Odontologia, a tese Provável bruxismo do sono e em vigília em adolescentes: uma análise exploratória e modelos de equações estruturais. Ivana foi orientada pela professora Júnia Maria Cheib Serra-Negra e teve como coorientadores Lucas Guimarães Abreu, da UFMG, e Maryam Amin, da University of Alberta, no Canadá.