PFF2: acesso a máscaras mais eficientes deve ser democratizado, defendem especialistas
Priorizar eficiência em momento de retomada de atividades é crucial para evitar novas variantes
A média móvel de mortes por covid-19 no Brasil registrada no último sábado, 12 de fevereiro, foi a maior dos últimos seis meses, segundo dados compilados pelo consórcio de veículos de imprensa. A variante ômicron fez disparar os números de infectados, de hospitalizados e de vítimas fatais, mesmo com cerca de 70% da população imunizada com as duas doses da vacina.
A cepa altamente transmissível – sua propagação é superior à do vírus do sarampo, até então o mais transmissível da história – chegou ao país no contexto do período de festas de fim de ano e férias. E o avanço da vacinação deu às pessoas alguma sensação de segurança para diminuir ou mesmo suprimir as restrições de contato e de prevenção. Como resultado, houve aumento vertiginoso no número de casos, de afastamentos do trabalho decorrentes da infecção e de hospitalizações nos meses de janeiro e fevereiro de 2022.
Embora a endemicidade – condição de controle relativo da doença que permite a diminuição das restrições – seja tão desejada, ainda não existe consenso entre os cientistas sobre quando ela virá. Assim, para retomar as atividades cotidianas sem ameaçar a própria saúde e a de outras pessoas, é fundamental incorporar a máscara como item essencial. É o que defende o médico infectologista Geraldo Cunha Cury, professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG: “É preciso entender que a máscara vai continuar fazendo parte da nossa vida. Não sabemos por quanto tempo. É preciso usá-la não como obrigação, mas como uma forma de proteção a nós mesmos”, salienta.
O pesquisador Vitor Mori, da Universidade de Vermont (EUA), integrante do Observatório Covid-19, tem o mesmo entendimento. “O que a gente pode dizer com segurança é que a flexibilização com relação ao uso das máscaras em ambientes internos será uma das últimas medidas a serem tomadas, se não for a última medida, porque funciona como uma barreira física para as partículas que causam a covid-19. Pelo simples ato de respirar ou falar, uma pessoa infectada emite partículas – gotículas e aerossóis – que contêm o vírus e pode contaminar outras pessoas. Apesar de haver certa disputa sobre a definição exata do que são aerossóis, acho que é mais preciso dizer que são partículas inaláveis que acabam se acumulando, suspensas no ar por um período prolongado de tempo em espaços fechados e mal ventilados”, explica.
A máscara de proteção respiratória tem duas funções: reduz tanto a emissão das partículas por parte do indivíduo infectado quanto a quantidade de partículas que uma pessoa suscetível pode inalar quando em contato com as partículas suspensas no ambiente. Ainda de acordo com Vitor Mori, o grau de efetividade e de proteção depende de diversos aspectos, entre os quais, a qualidade da máscara e a maneira como ela é utilizada e ajustada, ou seja, o quanto de vazamento existe entre a peça e o rosto.
Embora a pandemia esteja alcançando o seu terceiro ano, ainda persiste a ideia de que a higienização das mãos e o distanciamento de um metro entre pessoas são as principais medidas não farmacológicas de combate ao vírus. Estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA atesta que o risco de contaminação de superfícies pelo novo coronavírus é de 1 em 10.000. Por isso, comunicar ao público sobre a necessidade de usar máscaras eficientes, priorizar atividades ao ar livre e arejar os espaços no contexto da variante ômicron é fundamental.
Mais acessíveis
Tanto Vitor Mori quanto Geraldo Cury destacam a importância de democratizar o uso das máscaras padrão PFF2 – sigla para “peça facial filtrante” –, que oferecem o maior nível de proteção, no contexto que combina a alta transmissibilidade da variante ômicron com a retomada das atividades presenciais em diversos setores.
Geraldo Cury lembra que, no início da pandemia, havia uma grande dificuldade no acesso às máscaras padrão PFF2 (o equivalente brasileiro da máscara N95, como é conhecida nos EUA). "No início de 2020, havia uma preocupação com a escassez de equipamentos de proteção para os profissionais da saúde que atuam na linha de frente na pandemia, e, por essa razão, as máscaras caseiras de tecido foram recomendadas pelas autoridades de saúde à população. Hoje, vivemos uma situação diferente, em que há maior oferta desses produtos e o acesso pode ser maior em termos de custo. Existe no Brasil até mesmo um consórcio de cerca de 2 mil prefeituras que está conseguindo adquirir a máscara PFF2 por um bom preço, para o enfrentamento da pandemia nas cidades", analisa o professor.
Ao enfatizar a necessidade de pensar na distribuição das máscaras PFF2 como política pública ou mesmo empresarial, Vitor Mori pondera sobre o custo de hospitalização por caso grave de covid-19 ao Estado – a internação de um paciente de covid-19 em UTI no Sistema Único de Saúde custa, de acordo com a Portaria nº 237/2020 do Ministério da Saúde, cerca de R$ 1,6 mil por dia – ou ainda o custo do afastamento do trabalho. "Sai muito mais barato o investimento em uma PFF2, até para os empregadores que querem proteger os seus funcionários e evitar que eles se infectem. Investir na distribuição de máscaras PFF2 e fazer uma boa comunicação de como utilizá-las corretamente é uma medida bastante efetiva e relativamente muito barata”, reforça.
Diferentes modelos para diferentes rostos
Existem vários modelos e fabricantes de máscaras no padrão PFF2, e todas elas têm a mesma performance na proteção: filtram no mínimo 94% das partículas de 0,3 microns, as que têm o maior potencial de penetração, tanto porque conseguem transpor as fibras de tecido das máscaras caseiras quanto pela capacidade de ficar suspensas no ar por várias horas em ambientes fechados e sem ventilação. Vitor Mori sugere a busca por algum modelo que seja confortável de acordo com cada formato de rosto, desde que a máscara esteja bem ajustada, sem brechas por onde o ar pode escapar. “Temos vários modelos e marcas diferentes, e todas protegem da mesma maneira, porque atendem a um padrão. E aí, de acordo com o modelo, ela vai ser mais ou menos confortável pra cada indivíduo. Assim, lembro que, possivelmente, a primeira PFF2 que você vai testar talvez não seja a sua máscara de preferência. Então, não desista da PFF2 na primeira tentativa. Se o primeiro modelo que você utilizou não ficou confortável, tente outros. Vá testando e avaliando, até encontrar o que fica melhor no seu rosto”, orienta.
Assista ao vídeo produzido pela TV UFMG em que os especialistas explicam as performances dos vários tipos de máscara de proteção respiratória contra a covid-19, quais os contextos em que as máscaras PFF2 devem ser priorizadas e também como armazená-las de forma correta para a reutilização.
Divulgação científica
Além do Observatório Covid-19 BR, do qual Vitor Mori é integrante, merecem destaque, segundo ele, outras redes de pesquisadores e divulgadores da ciência formadas durante a pandemia e que vêm realizando um trabalho sistemático de comunicação de evidências científicas nas redes sociais sobre a covid-19, inclusive sobre as máscaras de proteção respiratória para conter o Sars-CoV-2. No Twitter, Vitor indica a Rede Análise Covid, e, no Instagram, os perfis Qual Máscara e Todos Pelas Vacinas. No YouTube, ele destaca o canal de divulgadores Olá, Ciência, fundado por Lucas Zanandrez, graduado em Biomedicina e mestre em Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual pela UFMG.
Equipe: Renata Valentim (produção e edição de conteúdo), Eduardo Crivellari (videografismo) e Otávio Zonatto (edição de imagens)