Radiografia revela evolução da pesquisa da UFMG na última década
Produção científica cresceu em quantidade, qualidade e diversidade
Uma radiografia da produção científica da UFMG na última década mostra que ela dobrou de tamanho, cresceu em qualidade e alcançou visibilidade internacional. O trabalho de monitoramento, realizado pela Diretoria de Produção Científica da Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq), também chama a atenção para a diversidade dessa produção, que hoje abrange, com qualidade, todas as áreas do conhecimento.
O levantamento, tema da principal reportagem da edição 1995 do Boletim UFMG, utilizou informações das bases de dados Scopus, Web of Science (WOS) e da ferramenta de busca Somos UFMG, alimentada por meio da Plataforma Lattes. Para medir o impacto da pesquisa, o estudo também recorreu a dados do Google Acadêmico.
O pró-reitor de Pesquisa, Ado Jorio, comenta que, de 2005 a 2016, houve aumento similar nos volumes da produção bibliográfica total do Brasil e da UFMG, na base Scopus. Enquanto a produção anual de artigos do país subiu de aproximadamente 27 mil para 72 mil, a Universidade passou de pouco menos de 1,5 mil artigos por ano para mais de 3,9 mil. Na opinião do pró-reitor, a evolução é fruto de investimentos na pesquisa e de um amadurecimento da academia.
Diferenças
Quando lança o olhar sobre a diversidade da ciência produzida na UFMG, o levantamento demonstra que as áreas das ciências da vida se destacam pela produção de artigos, enquanto as de humanas, letras e artes se sobressaem pelo volume de livros e capítulos de livros. “Isso se deve à natureza de cada área”, explica Ado Jorio. “Uma tese de filosofia costuma gerar poucos artigos, e uma de bioquímica, vários. E isso não é homogêneo nem dentro de uma mesma disciplina: um físico de materiais produz naturalmente mais artigos do que um físico matemático, o que não significa que ele seja melhor ou trabalhe mais”, exemplifica.
De acordo com o levantamento dos dados disponíveis na Plataforma Lattes, os pesquisadores da área da saúde publicaram, de 2012 a 2016, em média, três artigos por ano, os das ciências exatas e tecnologias, dois por ano, e os das humanidades, letras e artes, de um a um e meio. “Quando se avalia a produção de livros, verifica-se outra distribuição, na qual as humanidades, letras e artes predominam”, enfatiza o pró-reitor.
Ado Jorio comenta que, ao considerar o número total de artigos registrados no período na Plataforma Lattes – o que inclui também trabalhos publicados em revistas não indexadas –, a área de saúde publica mais artigos, livros e capítulos de livros que as outras. Entretanto, quando se divide o número de artigos pelo número de professores de cada área, a distribuição mostra-se mais equilibrada.
“A UFMG tem uma produção muito volumosa em saúde, mas esse número é elevado também devido ao numeroso corpo docente nessa área, na qual estão incluídos os pesquisadores de campos como enfermagem, odontologia, farmácia, nutrição e medicina”, explica o pró-reitor de Pesquisa.
O levantamento também revelou que a UFMG está publicando cada vez mais em revistas de maior visibilidade internacional, porque são indexadas, ou seja, utilizam o Digital Object Identifier (DOI), código alfanumérico que identifica cada artigo e que, uma vez atribuído, pode ser encontrado em busca na internet e não pode ser alterado.
O trabalho mostra que simultaneamente ao melhor desempenho da produção da UFMG, as bases também cresceram e indexaram maior número de periódicos. No entanto, a atual produção científica da Universidade tem-se concentrado em revistas com alto parâmetro de impacto. A principal forma de avaliar essa qualidade é pelo uso da base estatística Journal Citation Reports (JCR), da editora Thomson Reuters, recurso que possibilita avaliar e comparar publicações – utilizando dados de citações extraídos de revistas acadêmicas e técnicas indexadas pela coleção principal da Web of Science – e seu alcance na comunidade científica.
O levantamento da PRPq demonstra que, enquanto o JCR médio das 11.430 revistas da base WOS foi de 1,5 em 2016, a produção científica da UFMG no mesmo ano estava concentrada em revistas com parâmetro de impacto médio de 2,8. “Em resumo, a UFMG está melhorando em quantidade e em qualidade”, ressalta Ado Jorio.
Fator H
A equipe da Diretoria de Produção Científica também analisou o impacto da pesquisa produzida na UFMG com base em dois parâmetros: o chamado Fator H e a comparação da média de citações com a média mundial. Segundo Ado Jorio, não é possível medir a qualidade de um produtor de conhecimento apenas pela quantidade de itens como artigos, livros ou peças teatrais de sua autoria. Também é necessário analisar a influência dessa produção, por meio, por exemplo, do número de citações que ela apresenta na literatura. Mas a análise desse número puro também pode levar a conclusões equivocadas. “Quem produz de forma mais sólida e valorosa: um pesquisador que tenha um somatório de 900 citações em vários artigos ou o que teve mil citações em apenas um trabalho e nenhuma nos outros artigos que publicou na vida?”, questiona o pró-reitor, para mostrar que “o número puro de citações pode apresentar uma grave distorção”.
O Fator H foi concebido para corrigir tal distorção, pois contabiliza o número H de artigos com o número mínimo de H citações. Assim, quanto maior esse número, mais trabalhos com mais citações. “Esse fator tem falhas? Claro, toda métrica é falha. Mas ele indica coisas interessantes”, pondera Ado Jorio.
Os valores entre parênteses correspondem ao número de professores da UFMG incluídos nas bases Google Acadêmico e Scopus, respectivamente
De acordo com o levantamento, o Fator H médio varia nas diferentes áreas do conhecimento, o que, no entendimento de Jorio, é esperado, devido às especificidades. Contudo, o pró-reitor chama atenção para o fato de que o Fator H dos pesquisadores da UFMG na Scopus é consideravelmente menor do que no Google Acadêmico e sugere que todos façam seu cadastro nessa plataforma, que busca informações automaticamente, não só dentro da própria base de dados, mas em toda a internet, dando mais visibilidade à produção. “As humanidades, letras e artes são as áreas que mais ganham com o cadastramento no Google Acadêmico. Em linguística, letras e artes, por exemplo, que foram mal contempladas na Scopus, o Google multiplicou por mais de dez vezes o fator H médio. O acréscimo nas biológicas foi da ordem de 20%”, observa Ado Jorio.
UFMG no mundo
Outra forma de medir o impacto da produção científica é comparar o número de citações dos trabalhos de uma determinada instituição, por área, com o número de citações no mundo. A base Scopus seleciona 27 áreas – que não coincidem com as grandes áreas definidas pela Capes nem com unidades acadêmicas ou departamentos da UFMG – e mostra quais recebem número maior ou igual de citações em comparação à média de citações das demais instituições presentes na base, sendo o impacto 1 correspondente à média mundial. “De acordo com essa classificação da Scopus, a produção em revistas de Ciência da Computação pode vir da Escola de Engenharia, assim como a publicação em revistas de Medicina pode vir da Faculdade de Farmácia”, exemplifica o pró-reitor Ado Jorio.
Nesse quesito, a UFMG se destaca em pesquisas multidisciplinares, com impacto superior a 2. Também tem outras sete áreas com impacto superior a 1, nessa ordem: ciência da computação; medicina; farmácia, toxicologia e farmacologia; energia; bioquímica, genética e biologia molecular; engenharia; análise de risco. “Ou seja, os artigos que a UFMG publica nessas áreas têm impacto, medido pelo número de citações, superior à média mundial”, esclarece Ado Jorio. Com impacto 1, isto é, equivalente à média mundial, estão as áreas de ciência dos materiais, odontologia, imunologia e microbiologia.
Ao lembrar que a Scopus é uma base de dados, o pró-reitor ressalta que nessa análise específica ficam de fora os artigos não indexados. “Trata-se, portanto, de um recorte que inclui, no ano de 2016, 63% da nossa produção científica, e que não é homogêneo, pois podemos ter áreas com 50% dos trabalhos indexados e outras com 90%”.
Sem citar nomes ou áreas, o levantamento da PRPq mostra que o artigo mais citado da UFMG tem, até o momento, mais de 2,2 mil menções, enquanto os dez primeiros nessa lista registraram, cada, mais de mil citações. Cada um dos cem mais mencionados registrou acima de 200 citações.
Adensamento
A análise realizada pela Diretoria de Produção Científica também identificou a quantidade de artigos da UFMG em revistas com JCR superior a 10, o que corresponde a publicações em revistas de alto impacto. Os números mostram que, nos anos 2000, começa um adensamento da capacidade da Universidade em publicar nesse tipo de periódico, o que se intensificou nos últimos anos.
“O aumento da nossa produtividade é o primeiro indutor do aumento da qualidade”, avalia Ado Jorio, lembrando que, apesar da intensa concorrência, a Universidade revela hoje grande competência para entrar nesses veículos. “Queremos que isso aumente, pois ainda é pequeno o percentual da nossa produção total que está nessas revistas”, enfatiza.
Uma comparação com os dados das outras universidades brasileiras mostra que instituições como UFMG, USP, Unicamp, UFRJ e UFRGS apresentam números muitos similares tanto em quantidade quanto em qualidade, variando em volume, dependendo do número de professores e estudantes de cada uma delas.
Mesmo o grau de internacionalização, medido pelo percentual de coautores estrangeiros nas publicações das instituições, é equivalente nas cinco universidades, variando de 30% a 40% dos seus trabalhos publicados. Entretanto, o pró-reitor adverte que algumas instituições têm apresentado um aumento do percentual de coautores estrangeiros maior do que a UFMG. “Se essa tendência permanecer por muito tempo, pode levar a um desequilíbrio na qualidade e na visibilidade da nossa produção científica, em comparação aos nossos pares”, alerta.
Em sua opinião, embora a internacionalização seja um aspecto complexo, que envolve questões que vão além da capacidade de atuação da academia e dos órgãos de fomento, “algumas ações podem ser feitas, como incentivo à realização de pós-doutoramento, apoio à participação em eventos no exterior e ao desenvolvimento de teses em cotutela”.
Produção científica da UFMG
Trabalho elaborado pelo diretor de Produção Científica, professor Carlos Basílio Pinheiro, e equipe, formada pelos servidores técnico-administrativos em educação Bruno de Oliveira Naves Diniz, Leandro Castella César e Wildiner Bruno Pereira Gonçalves e pelos bolsistas Bruno Fernandes Magalhães de Oliveira, Ewerton Silva Santos, Gabriela Silva Caetano e Lucas Xavier de Miranda Ferreira, com colaboração de Priscila Nardy dos Santos e Vanessa Pastorini Felisberto.