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Ricardo Gazzinelli recebe Prêmio Bunge por atuação no campo das doenças infecciosas

Pesquisador da UFMG e da Fiocruz é um dos coordenadores dos estudos da vacina SpiN-TEC

Ricardo Gazzinelli:
Gazzinelli investiga o papel do sistema imune inato no controle de infecçõesSBI

O professor do Instituto de Ciências Biológicas Ricardo Gazzinelli, um dos quatro pesquisadores da UFMG que atuam no desenvolvimento da SpiN-TEC – uma das mais avançadas entre as vacinas contra a covid-19 em testes no Brasil – acaba de receber o Prêmio Fundação Bunge, na categoria Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde.

O Bunge é um dos mais importantes reconhecimentos de mérito científico, literário e artístico do Brasil. Os candidatos são indicados por representantes das principais universidades e entidades científicas do país. Ricardo Gazzinelli foi premiado no tema Prevenção de doenças infecciosas e na categoria Vida e obra, que contempla pesquisadores seniores (leia mais sobre o prêmio no fim desta matéria).

“É uma grande honra receber um prêmio tão importante para a comunidade científica brasileira”, comemorou o cientista da UFMG. "Ainda mais em uma área em que o Brasil tem uma massa crítica tão grande – e num momento em que, devido à pandemia de covid-19, os pesquisadores que atuam no combate a doenças infecciosas estão em tamanha evidência”, afirma.

“Esse prêmio me dá um sentimento de grande reconhecimento pelo trabalho que realizamos e estamos realizando no enfrentamento ao Sars-CoV-2. Com certeza é uma premiação para os demais colegas do CTVacinas e para a atual gestão central da UFMG, que se destacaram no enfrentamento da pandemia”, acrescenta o professor, que também preside a Sociedade Brasileira de Imunologia e é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Vida e obra
Desde o início de sua carreira científica, Ricardo Gazzinelli tem trabalhado sobretudo em questões relacionadas com os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e na resistência das doenças durante as infecções com protozoários – entre eles, o Trypanosoma cruzi, a Leishmania, o toxoplasma e o Plasmodium falciparum, agente causador da malária. Nesses estudos, o pesquisador e suas equipes têm abordado o papel do sistema imune inato no controle das infecções durante o seu período inicial, assim como na patogênese dessas doenças.

Gazzinelli coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, que trabalha no desenvolvimento de vacinas contra a doença de chagas, a leishmaniose, a malária e, mais recentemente, a covid-19. O pesquisador também atua no Centro de Tecnologia de Vacinas (CTVacinas), ambiente de pesquisa instalado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).

“Nesse centro, a gente visa gerar novas vacinas recombinantes por meio de provas de conceitos desenvolvidos na UFMG e levar essas vacinas para os ensaios clínicos e para a indústria público-privada, que trabalha em sua produção e distribuição”, explica Gazzinelli. Recentemente, a UFMG assinou protocolo de intenções com os governos federal e de Minas para a transformação do CTVacinas em um Centro Nacional de Vacinas, passo importante para que o país se torne autossuficiente no campo do  desenvolvimento de imunizantes.

“O nosso laboratório está atuando no desenvolvimento de diferentes vacinas para covid-19”, detalha o professor. “Temos utilizado diferentes tecnologias, como vírus recombinantes não replicantes, vacinas de ácido nucleico, vacinas de DNA e RNA e vacinas com proteínas recombinantes. Entre essas, as mais avançadas são as vacinas de DNA e a vacina com a proteína ‘quimera’, que é a fusão da proteína Spike e da proteína nucleocapsídeo, do Sars-coV-2”, explica.

Ainda sobre o trabalho de combate ao novo coronavírus, Gazzinelli também destaca o investimento que tem sido feito no desenvolvimento de kits de diagnóstico. “A identificação de pacientes com covid-19 é muito importante para o controle da doença”, afirma o pesquisador. “Nesse sentido, em relação à atual pandemia, nós desenvolvemos um kit de diagnóstico de Elisa e teste rápido, que foi transferido para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). Ele está sendo escalonado para dar início à produção industrial e consequente distribuição para diferentes laboratórios que fazem a testagem da covid-19”, conta.

Sobre o prêmio

O Prêmio Fundação Bunge contempla seis áreas do conhecimento: Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde; Ciências Exatas e Tecnológicas; Ciências Agrárias; Ciências Humanas e Sociais; Letras; Artes. A área de Ciências Agrárias é fixa, sendo contemplada todos os anos. As demais seguem um sistema de rodízio. Os ramos contemplados no âmbito de cada área são definidos pelo conselho da Fundação Bunge.

Todo ano são eleitos pesquisadores em duas áreas do conhecimento (Ciências Agrárias e outra definida no rodízio), e em duas categorias em cada área: Vida e obra, categoria que homenageou Gazzinelli, e Juventude, que contempla jovens talentos de até 35 anos. Neste ano, na categoria Juventude da área de Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde, foi premiado o professor da Universidade Federal de Viçosa Tiago Antônio de Oliveira Mendes.

Em Ciências Agrárias, no tema Impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos, foram premiados – na categoria Vida e obra – o professor Eduardo Delgado Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, e Fabiani Denise Bender (categoria Juventude), pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Ewerton Martins Ribeiro