Extensão

Covid-19 reforça necessidade do direito ao parto seguro

Projeto 'Sentidos do nascer' e outras entidades lançaram recomendação

Parto e nascimento com assistência humanizada são direitos da mulher e bebê
Parto e nascimento com assistência humanizada são direitos da mãe e do bebê Divulgação / Facebook do projeto

O projeto de extensão Sentidos do Nascer, em parceria com profissionais e entidades vinculadas à atenção obstétrica e de assistência humanizada à mulher e ao bebê, publicaram nota para reforçar recomendações (veja versão atualizada) a gestores e profissionais de saúde sobre a organização do atendimento a gestantes, parturientes e puerpérias no contexto da pandemia de Covid-19.

“Algumas questões crônicas relativas aos direitos da mulher e crianças foram agudizadas com a pandemia do coronavírus, o que torna urgente a organização da assistência no país, a fim de garantir a preservação de direitos [da mulher e do bebê] e dos próprios profissionais de saúde”, observa Sônia Lansky, epidemiologista e professora colaboradora da pós-graduação em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina, uma das idealizadoras do projeto 

Para Sônia, o momento também representa uma "oportunidade para que o setor privado reflita sobre a assistência ao parto normal, que deve ocorrer em quartos individualizados e não em blocos cirúrgicos". Nesse sentido, acrescenta a professora, "essa medida soma-se à recomendação do Ministério da Saúde, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira de suspender as cirurgias eletivas, nas quais estão incluídas as cesarianas sem indicação clínica”. 

O ano de 2020 é dedicado pela Organização Mundial de Saúde aos profissionais de enfermagem e obstetrícia. Sônia Lansky reforça a necessidade de o país priorizar a presença desses profissionais na assistência ao parto de baixo risco, uma vez que existem cerca de cinco mil profissionais no Brasil, que contemplam apenas 10% da demanda do setor, segundo estimativa da Associação Brasileira de Enfermeiros Obstétricos.

Mudar uma cultura
“No Brasil, 80% dos partos são cesarianas, e mais de 50% são programados antes do trabalho de parto. Isso precisa ser mudado, especialmente para gravidez de baixo risco, quando o parto normal só traz benefícios para mães e bebês, como demonstram as evidências clínicas. Nesses casos, o enfermeiro obstétrico ou obstetrizes são altamente recomendados, para assistência tanto em maternidades quanto em domicílio, tendo sempre a retaguarda da assistência médica e hospitalar”, afirma.

Além disso, o procedimento em blocos cirúrgicos exige a presença de quase dez profissionais, que vão demandar equipamentos de proteção individual, em tempo de escassez desses itens, e prolongar a alta da mãe e do bebê. Tudo isso aumenta o risco de contaminação.

No documento, as entidades também reforçam a importância de se evitar as acomodações coletivas para o pré-parto e oferecer a devida proteção às mães, acompanhantes e profissionais, por meio do uso de máscaras, entre outros equipamentos. No caso de a única possibilidade de atendimento ser em um hospital geral, é necessário definir setores específicos para a assistência ao parto.

A assistência ao parto e ao nascimento deve ser reorganizada, priorizando-se maternidades de baixo risco e centros de parto normal, defende o documento. Outra alternativa recomendada é o parto domiciliar seguro, planejado e com retaguarda hospitalar, conforme as Diretrizes Nacionais de Atenção ao Parto. O trabalho reforça que a continuidade do cuidado de mães e bebês após a alta hospitalar seja assegurada pela atenção primária de saúde e por profissionais e serviços responsáveis.

O projeto Sentidos do Nascer é coordenado por equipe multiprofissional das áreas de saúde e educação e foi idealizado pela pediatra e epidemiologista Sônia Lansky e pelo historiador e professor da Faculdade de Educação da UFMG Bernardo Jefferson de Oliveira.

Além do Sentidos do Nascer da UFMG, assinam a recomendação: Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa), Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, Grupo de Estudos em Gênero, Evidências, Maternidade e Saúde (Gemas/FSP/USP), Departamento de Enfermagem (Ufscar), Curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH/USP), Federação Nacional de Doulas do Brasil, Nascer Direito – Coletivo Nacional de Advogadas no Enfrentamento à Violência Obstétrica, Ishtar – Espaço para Gestantes, Movimento #NasceLeonina e Movimento BH pelo Parto Normal. 

Maternidade na pandemia

Os cuidados essenciais de proteção contra o contágio pelo coronavírus, a reorganização da rotina e a necessária mudança de planos, como a compra do enxoval do bebê, são algumas das orientações disponíveis na cartilha Maternidade em tempos de Covid-19. 

Produzida pela professora emérita Lívia C. Magalhães, do Departamento de Terapia Ocupacional da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e pela pós-doutoranda em Ciências da Reabilitação Regina Helena Vitale Torkomian Joaquim, a cartilha é direcionada a gestantes e a mães de recém-nascidos e crianças pequenas, em isolamento social.

O material contém dicas para o autocuidado, como utilização dos serviços de telemedicina para evitar idas desnecessárias aos centros de saúde ou hospitais, e até sugestões para descanso e brincadeiras com os filhos em casa, além de lista de sites seguros para informações aprofundadas.

 

Teresa Sanches