Sequelas neuropsiquiátricas da covid-19 serão avaliadas em estudo
Indivíduos que tiveram manifestações leves ou moderadas podem se candidatar como voluntários da pesquisa conduzida pela Faculdade de Medicina
![Marcelo Camargo / Agência Brasil .](https://ufmg.br/thumbor/hBVY-Mqxyomc90Dz-9nwbqIDj3o=/0x0:1169x698/1169x698/https://ufmg.br/storage/8/c/5/d/8c5d8298457707f6c7cdb9117ddc7c37_16026981999266_1977323033.jpg)
Pacientes que se infectaram pelos coronavírus causadores, por exemplo, da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) e da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) relataram manifestações neuropsicológicas cerca de um a dois anos após a doença. Pouco se sabe ainda sobre o comportamento do SARS-CoV-2 em relação a esse campo da saúde humana, e uma pesquisa que começa a ser desenvolvida pela Faculdade de Medicina da UFMG pretende exatamente avaliar em que medida sequelas do gênero também alcançam pessoas que contraíram a covid-19.
A pesquisa, aprovada em junho deste ano em edital da Capes, já está na fase de recrutamento de pacientes para os testes. Serão selecionadas pessoas acima de 18 anos, que tiveram o exame RT-PCR positivo para a covid-19 e que apresentaram manifestações leves ou moderadas da doença. A partir desse estudo, será possível analisar, por exemplo, se alguns quadros psiquiátricos, como depressão, ansiedade e psicose, podem ter relação com a infecção pelo novo coronavírus.
O ensaio também contará com um grupo controle, com indivíduos que tiveram exame negativo. O acompanhamento de todos os pacientes será feito ao longo de dois anos. A expectativa é recrutar cerca de 300 pessoas nos próximos três meses.
O coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade, Marco Aurélio Romano-Silva, ressalta que o objetivo é avaliar os efeitos diretos do vírus. Por isso, não serão recrutados participantes com manifestações muito graves, que ficaram internados em UTIs. “Como foi necessária a ventilação mecânica, eles podem ter tido, por exemplo, hipoxemia (baixo nível de oxigênio nos tecidos) ou outros problemas que tendem a afetar o metabolismo cerebral", justifica o professor.
Recrutamento
Inicialmente, estão sendo convidados pacientes diagnosticados com resultado positivo para covid-19 pelos exames realizados pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) e encaminhados de hospitais como o Odilon Behrens e o Risoleta Tolentino Neves. Também serão aceitos voluntários que se candidatarem pelo número de WhatsApp e formulário do projeto.
Após o recrutamento, os pacientes farão testes neuropsicológicos e clínicos, exames como ressonância magnética, PET-CT, NIRS e coleta de sangue para perfil sorológico. Esse acompanhamento será feito a cada seis meses, com registro dos sintomas que podem ter surgido nesse período.
![Arquivo Faculdade de Medicina / UFMG Marco Aurélio Romano-Silva](https://ufmg.br/thumbor/5VWv6l_dbsKRsHYIu6kIYqZ4BI0=/0x0:4346x3744/4346x3744/https://ufmg.br/storage/d/a/e/5/dae52e08fcc3b8734c7ce3612b068a5d_16026984529251_44004549.jpg)
Os dois grupos (positivos e negativos) repetirão os exames ao longo dos dois anos. “Nada pode ser descartado, já que, mesmo em pacientes assintomáticos, o vírus pode ter passado para o sistema nervoso central e provocado uma neuroinflamação que não apareceu como sintoma clínico. Isso, no futuro, pode se manifestar como sintoma psiquiátrico e neurológico”, explica Marco Aurélio.
O professor acredita que, após um ano de acompanhamento, já será possível fazer uma análise com resultados suficientes para gerar artigos e resumos. “São oito meses de pandemia. Não temos certeza do que pode acontecer daqui a um ou dois anos. Por isso, tudo que encontrarmos nesse período pode ser importante”, projeta o professor.
Dados escassos
Marco Aurélio Romano acrescenta que, em razão de a doença ser muito recente, os dados da literatura ainda são escassos. “Há hipóteses de que o SARS-CoV-2 possa entrar pelo bulbo olfatório, porque, entre os sintomas da doença, está a anosmia (perda de olfato). Já em relação às infecções provocadas por outros coronavírus, ficou demonstrado que eles podem entrar por via hematogênica e atravessar a barreira hematoencefálica, por estarem circulando no sangue. Há, portanto, muita discussão sobre os sintomas, mas nada ainda muito sistematizado”, pondera.
Como muitas pessoas estão expostas ao vírus, o professor defende a necessidade de analisar as sequelas que essa infecção pode deixar. “Uma gripe, por exemplo, sabemos que vai passar e não vai deixar muitas sequelas. Não é o caso da covid-19. Alguns indivíduos relatam situações de fadiga mesmo depois de recuperados e ficaram três, quatro, cinco meses com esse quadro”, lembra.
Os voluntários que se encaixam no perfil proposto pelo estudo e desejam participar da pesquisa Manifestações e sequelas neuropsiquiátricas da covid-19: aspectos clínicos e moleculares devem entrar em contato pelo WhatsApp do Centro de Tecnologia em Medicina Molecular (CTMM) – (31) 99723-4160 – ou preencher formulário eletrônico.