Institucional

'Ser mulher e ocupar posição de poder é ir na contramão do mundo atual'

A afirmação é da ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos

Rosalind Hackett, Nilma Lino Gomes, Cláudia Mayorga, Ochy Curiel e Veronica Santana
Rosalind Hackett, Nilma Lino Gomes, Cláudia Mayorga, Ochy Curiel e Veronica Santana Foca Lisboa / UFMG

A mesa-redonda Gênero e diversidade cultural, sob a coordenação da professora e pró-reitora adjunta de Extensão da UFMG, Cláudia Mayorga, deu início aos trabalhos da Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades, na manhã desta terça-feira, no auditório da Faculdade de Educação, no campus Pampulha.

Nilma Lino Gomes, ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos
Nilma Lino Gomes, ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos Foca Lisboa / UFMG

A professora da Faculdade de Educação Nilma Lino Gomes, ex-ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, destacou a importância de um evento que discuta humanidades no atual momento político brasileiro. Segundo a professora, as mulheres sempre enfrentaram obstáculos para ocupar espaços de poder e de conhecimento.

“Existe uma hierarquia que começa com os homens brancos, que têm poder, e vai até as mulheres negras, que não possuem nenhum poder. Essa hierarquia envolve raça e sexo, e é necessário trabalharmos para desnivelar essas desigualdades”, disse.

A professora destacou que hoje as mulheres, mesmo quando têm mais conhecimento que os homens, não conseguem ocupar espaços de poder, uma vez que as desigualdades têm origem na infância.
“Por mais que não tenhamos mais escolas separadas para meninos e meninas, a educação que é dada aos meninos é diferenciada. Isso acaba interferindo até mesmo nas escolhas das profissões que eles pretendem seguir no futuro, pois há a ideia de que os homens podem tudo e as mulheres podem quase tudo.”

Nilma também destacou que a luta feminista, ao buscar igualdade de direitos, é capaz de mostrar como o machismo aprisiona as mulheres. “Ser mulher e ocupar uma posição de poder é ir na contramão do mundo atual. Tivemos, no último fim de semana, mulheres brancas e negras que foram eleitas nas eleições municipais. Isso é importante porque essas mulheres colocarão assuntos como feminismo e igualdade de gênero na pauta política”, concluiu.

Feminismo descolonial

Ochy Curiel, da Universidad Nacional de Colombia, abordou o conceito de feminismo descolonial
Ochy Curiel, da Universidad Nacional de Colombia, abordou o conceito de feminismo descolonial

A professora Ochy Curiel, da Universidad Nacional de Colombia, abordou o conceito de feminismo descolonial, que explica as relações entre a desigualdade de gênero e o processo de colonização pelo qual passaram os países latino-americanos.

Para a pesquisadora, o capitalismo neoliberal, o fortalecimento dos ideais políticos de direita, a repressão, o feminicídio e a política do medo são causas da desigualdade de gênero. “Os homens brancos e com privilégios de classe são culpados pela situação de desigualdade de gênero que vivemos hoje. Existe a colonialidade do saber e do poder, então o descolonialismo serve como ferramenta de questionamento da universalidade e generalização de conceitos e teorias como o patriarcado”, disse.

Também participaram da mesa Rosalind Hackett, do Conselho Internacional para Filosofia e Ciências Humanas da Unesco (CIPSH) e da University of Tennessee, nos EUA , e Verônica Santana, do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (Marcha das Margaridas).

A professora norte-americana destacou o estudo multidisciplinar que analisa a manifestação do som e das vozes como instrumentos de desigualdade de gênero. A pesquisadora exemplificou sua fala com exemplos cotidianos. “Nos Estados Unidos, se você quer ser uma mulher de negócios bem-sucedida, você precisa baixar a sua voz e soar feminina e delicada. É um exemplo de como a desigualdade de gêneros se projeta no som e na voz”, mostrou.

Veronica Santana, da Marcha das Margaridas
Veronica Santana, da Marcha das Margaridas Foca Lisboa / UFMG

Veronica Santana, da Marcha das Margaridas, exibiu um vídeo com depoimentos de mulheres nordestinas que viram suas vidas mudarem quando aderiram ao movimento. “Precisamos nos fazer ouvir. A partir do momento em que não temos liberdade de expressão, fica impossível lutar pelos nossos direitos”, disse.