UFMG inicia projeto para reconhecimento do patrimônio imaterial dos Maxakalis
Iniciativa atende a reivindicação histórica desses povos para proteger suas crenças, rituais, costumes e valores
![Foto: Foca Lisboa | UFMG Dirigentes da UFMG e representantes de aldeias Maxacali](https://ufmg.br/thumbor/oWom632eJezldOnkkulW5p0R0Wc=/0x0:3010x2007/712x474/https://ufmg.br/storage/a/5/d/c/a5dcfb53563d0d328312dfc938bba91f_16958293158675_1415376359.jpg)
Um passo histórico e carregado de simbolismo foi dado ontem (terça, 26), no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, com o lançamento oficial do projeto de extensão Documentação e preservação do sistema de conhecimentos ancestrais do povo Tikmũ'ũn-Maxakali.
A iniciativa será conduzida pela UFMG com as comunidades indígenas nos próximos três anos e atende a uma reivindicação antiga desses povos. O objetivo principal é criar um inventário relativo às referências culturais da etnia e obter o reconhecimento desses saberes como parte do Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.
A Escola de Música estará à frente do projeto, em parceria com a Pró-reitoria de Extensão (Proex), a Fundep, a Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), da Faculdade de Educação, a Formação Transversal em Saberes Tradicionais e outras instâncias da UFMG.
O projeto receberá R$ 915 mil, aporte aprovado, neste ano, no edital do Fundo dos Embaixadores dos EUA para a Preservação Cultural, do Departamento de Estado norte-americano. O projeto da UFMG foi o único contemplado no Brasil e um dos cinco na América Latina.
As ações passarão pelas etapas de pesquisa, de sensibilização em cidades próximas das aldeias e de produção de peças, como um filme sobre o patrimônio Tikmũ'ũn-Maxakali.
Luta e esperança
Emocionados, representantes das aldeias de Água Boa e Pradinho, que ficam em Santa Helena de Minas (MG), no Vale do Mucuri, celebraram apresentando alguns de seus bens imateriais: a língua e os cantos. Esses últimos encarnam seres que estão ligados ao território, à floresta, à memória, à saúde.
Sueli Maxakali ressaltou a importância da preservação dos conhecimentos ancestrais de seu povo. “Estou muito feliz. É meu sonho preservar a ‘memória viva’ dos nossos antepassados e transmiti-la às nossas crianças”, disse.
O sentimento de reparação foi compartilhado por Marilton Maxakali, que atua como professor de crianças e jovens na aldeia. “Ao longo dos anos, perdemos muitas coisas. Foram muitos assassinatos dos nossos parentes; levaram muitos conhecimentos e sabedoria. Temos agora a esperança de ter tudo de volta”, destacou.
![Foto: Foca Lisboa | UFMG Sandra Goulart:](https://ufmg.br/thumbor/9xWdfPQigPLcWCzUERRzqlCYLmM=/148x95:2011x2952/352x540/https://ufmg.br/storage/7/c/6/0/7c60c5c3eea09475a6c3b5af16306823_16958294756711_1905827451.jpg)
Compromisso e resistência
O evento que marcou o lançamento da iniciativa teve participação de professores e gestores da UFMG. A reitora Sandra Goulart Almeida lembrou o conjunto de ações da Universidade em diálogo com os povos tradicionais. “Enche-nos de orgulho ser uma instituição pública a serviço desses povos, formando futuros profissionais, mas também comprometida com a reparação histórica pelos males que nós fizemos aos indígenas. Esse é, também, o nosso dever”, afirmou Sandra.
A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, ressaltou que a ação faz parte de um conjunto de outras inciativas extensionistas da Universidade, que visam ao fortalecimento de políticas públicas participativas.
Coordenador geral do projeto e professor da Escola de Música, Eduardo Pires Rosse ressaltou que a iniciativa enfrentará o “processo de ‘desertificação’ do povo Maxakali, desde a colonização do nosso país”. Ele acrescentou que, apesar do contexto histórico, “os povos Maxakalis resistem com seu vasto patrimônio. Nós temos muito a aprender com eles nesse diálogo”, afirmou.
![Foto: Foca Lisboa | UFMG Débora Rocha, do Iepha](https://ufmg.br/thumbor/XNeg8umEDHa-_TcF2LI35KjTQ0s=/121x158:1983x3010/352x540/https://ufmg.br/storage/f/8/2/d/f82d165a545bd66a1a14271bf2c3715f_16958302059628_1263844096.jpg)
Conhecimentos valorizados
A expectativa é que, até 2026, um estudo seja apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio Cultural (Conep), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), para o registro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. “Há uma grande expectativa sobre a elaboração desse dossiê e do plano de salvaguarda, já que a UFMG detém expertise em pesquisas acerca desse sistema de conhecimentos”, frisou a diretora de Proteção e Memória do Iepha/MG, Debora Raiza Rocha Silva, que participou do lançamento.
A conselheira para assuntos de Cultura, Educação e Imprensa da Embaixada e Consulados dos EUA, Elizabeth Detmeister, salientou que “o projeto nasce de uma grande parceria, que possibilitará a conservação de práticas transmitidas de geração a geração e o compartilhamento dessa riqueza cultural com o povo brasileiro”.
O secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, destacou, por sua vez, que "os órgãos estaduais têm trabalhado para criar uma política efetiva de proteção e salvaguarda dos povos originários”.
O evento também contou com a participação da presidente do Iepha/MG, Marília Palhares, do coordenador técnico da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Santa Helena de Minas, Rodrigo Arhuso Faria, e da cônsul dos EUA em Belo Horizonte, Katherine Ordoñez. Também estiveram presentes o procurador da República em Belo Horizonte, Edmundo Antônio Dias Netto, e os promotores de Justiça do Ministério Público mineiro Allender Barreto Lima e Marcelo Maffra.