Extensão

UFMG inicia projeto para reconhecimento do patrimônio imaterial dos Maxakalis

Iniciativa atende a reivindicação histórica desses povos para proteger suas crenças, rituais, costumes e valores

Dirigentes da UFMG e representantes de aldeias Maxacali
Gestores e professores da UFMG e representantes de aldeias Maxakali Foto: Foca Lisboa | UFMG

Um passo histórico e carregado de simbolismo foi dado ontem (terça, 26), no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, com o lançamento oficial do projeto de extensão Documentação e preservação do sistema de conhecimentos ancestrais do povo Tikmũ'ũn-Maxakali.

A iniciativa será conduzida pela UFMG com as comunidades indígenas nos próximos três anos e atende a uma reivindicação antiga desses povos. O objetivo principal é criar um inventário relativo às referências culturais da etnia e obter o reconhecimento desses saberes como parte do Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.

A Escola de Música estará à frente do projeto, em parceria com a Pró-reitoria de Extensão (Proex), a Fundep, a Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), da Faculdade de Educação, a Formação Transversal em Saberes Tradicionais e outras instâncias da UFMG.

O projeto receberá R$ 915 mil, aporte aprovado, neste ano, no edital do Fundo dos Embaixadores dos EUA para a Preservação Cultural, do Departamento de Estado norte-americano. O projeto da UFMG foi o único contemplado no Brasil e um dos cinco na América Latina.

As ações passarão pelas etapas de pesquisa, de sensibilização em cidades próximas das aldeias e de produção de peças, como um filme sobre o patrimônio Tikmũ'ũn-Maxakali.

Luta e esperança
Emocionados, representantes das aldeias de Água Boa e Pradinho, que ficam em Santa Helena de Minas (MG), no Vale do Mucuri, celebraram apresentando alguns de seus bens imateriais: a língua e os cantos. Esses últimos encarnam seres que estão ligados ao território, à floresta, à memória, à saúde.

Sueli Maxakali ressaltou a importância da preservação dos conhecimentos ancestrais de seu povo. “Estou muito feliz. É meu sonho preservar a ‘memória viva’ dos nossos antepassados e transmiti-la às nossas crianças”, disse.

O sentimento de reparação foi compartilhado por Marilton Maxakali, que atua como professor de crianças e jovens na aldeia. “Ao longo dos anos, perdemos muitas coisas. Foram muitos assassinatos dos nossos parentes; levaram muitos conhecimentos e sabedoria. Temos agora a esperança de ter tudo de volta”, destacou.

Sandra Goulart:
Sandra Goulart: ações com os povos tradicionaisFoto: Foca Lisboa | UFMG

Compromisso e resistência
O evento que marcou o lançamento da iniciativa teve participação de professores e gestores da UFMG. A reitora Sandra Goulart Almeida lembrou o conjunto de ações da Universidade em diálogo com os povos tradicionais. “Enche-nos de orgulho ser uma instituição pública a serviço desses povos, formando futuros profissionais, mas também comprometida com a reparação histórica pelos males que nós fizemos aos indígenas. Esse é, também, o nosso dever”, afirmou Sandra.

A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, ressaltou que a ação faz parte de um conjunto de outras inciativas extensionistas da Universidade, que visam ao fortalecimento de políticas públicas participativas.

Coordenador geral do projeto e professor da Escola de Música, Eduardo Pires Rosse ressaltou que a iniciativa enfrentará o “processo de ‘desertificação’ do povo Maxakali, desde a colonização do nosso país”. Ele acrescentou que, apesar do contexto histórico, “os povos Maxakalis resistem com seu vasto patrimônio. Nós temos muito a aprender com eles nesse diálogo”, afirmou.

Débora Rocha, do Iepha
Débora Rocha, do Iepha: expectativa sobre dossiêFoto: Foca Lisboa | UFMG

Conhecimentos valorizados
A expectativa é que, até 2026, um estudo seja apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio Cultural (Conep), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), para o registro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. “Há uma grande expectativa sobre a elaboração desse dossiê e do plano de salvaguarda, já que a UFMG detém expertise em pesquisas acerca desse sistema de conhecimentos”, frisou a diretora de Proteção e Memória do Iepha/MG, Debora Raiza Rocha Silva, que participou do lançamento.

A conselheira para assuntos de Cultura, Educação e Imprensa da Embaixada e Consulados dos EUA, Elizabeth Detmeister, salientou que “o projeto nasce de uma grande parceria, que possibilitará a conservação de práticas transmitidas de geração a geração e o compartilhamento dessa riqueza cultural com o povo brasileiro”.  

O secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, destacou, por sua vez, que "os órgãos estaduais têm trabalhado para criar uma política efetiva de proteção e salvaguarda dos povos originários”.

O evento também contou com a participação da presidente do Iepha/MG, Marília  Palhares, do coordenador técnico da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Santa Helena de Minas, Rodrigo Arhuso Faria, e da cônsul dos EUA em Belo Horizonte, Katherine Ordoñez. Também estiveram presentes o procurador da República em Belo Horizonte, Edmundo Antônio Dias Netto, e os promotores de Justiça do Ministério Público mineiro Allender Barreto Lima e Marcelo Maffra.

Eduardo Maia | Assessoria de Comunicação da Proex