Novas manifestações de apoio à UFMG marcam entrega do relatório da Comissão da Verdade
Governador Fernando Pimentel recebeu o documento em cerimônia no Palácio da Liberdade
A UFMG recebeu novas manifestações de apoio durante a cerimônia de entrega do relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg) ao governador Fernando Pimentel, nessa quarta-feira, 13, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Uma das convidadas da cerimônia, a vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, que foi conduzida coercitivamente pela Polícia Federal durante a operação Esperança Equilibrista, na semana passada, foi muito aplaudida pelo público e recebeu o apoio de Pimentel. “Desde logo, Sandra, aceite publicamente a minha solidariedade pela arbitrariedade que foi cometida a você, que eu estendo aos demais atingidos e a toda a Universidade”, disse o governador.
Uma das integrantes da Comissão da Verdade, Emely Salazar, servidora técnico-administrativa aposentada da Faculdade de Medicina da UFMG, que foi torturada durante o regime militar, entoou a canção O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, ao ser chamada ao palco para se pronunciar durante a solenidade. Em entrevista, Emely criticou a apropriação dos versos da música pela Polícia Federal para batizar a operação deflagrada na UFMG, que classificou como “pejorativa”. Ela disse que aproveitou o momento para homenagear “os companheiros vivos”.
Desagravo
O relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (Covemg) é resultado de quatro anos de pesquisa sobre as violações dos direitos humanos ocorridas no Estado entre 1946 e 1988, especialmente as cometidas durante a ditadura militar (1964-1985). Para Fernando Pimentel, a cerimônia é um desagravo aos que lutaram contra o regime militar. “Nós estamos no mesmo Palácio que abrigou os golpistas de 1964. Dali saiu o golpe de 64 e, agora, tantos anos depois, recebe este Palácio os resistentes da ditadura militar para esse ato simbólico”, disse.
O governador fez um paralelo entre os valores da democracia com as vozes de grupos e pessoas que pedem a volta da ditadura militar. “O país atravessa um momento sombrio, em que a própria democracia é questionada por brasileiros, certamente equivocados, mas que têm a sorte de poder bradar os seus gritos de guerra, antidemocráticos, em um regime em que eles não correm o risco de serem presos, assassinados, torturados por terem a sua opinião política. Que sorte a deles que nós tenhamos lutado com todo o povo brasileiro, reconquistado a democracia e que, agora, eles possam bradar pela ditadura sem correr o risco de serem assassinados ou se tornarem desaparecidos políticos como tantos companheiros nossos”, disse.
Segundo o governador, o trabalho da Comissão vai compor o acervo do futuro Memorial dos Direitos Humanos, que será instalado no prédio onde funcionou a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), local identificado pelo relatório da Comissão da Verdade como um dos espaços de tortura em Belo Horizonte. “Queremos fazer isso já no ano que vem, quando serão comemorados os 50 anos das Jornadas de 1968, das quais muitos aqui participaram, para as quais muitos de nós aqui se mobilizaram e alguns até começaram a sua militância ali”, recordou.
Para o secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, o material possibilitará que os jovens de hoje possam conhecer o que realmente aconteceu na época da ditadura. Segundo ele, “com toda a imperfeição, a humanidade não inventou nada melhor do que a democracia”.
Violações pouco conhecidas
Vinculada administrativamente à Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), a Covemg documentou, ao longo de sua trajetória, temas pouco conhecidos sobre a violação aos direitos humanos em Minas Gerais, como a repressão a camponeses e indígenas. Também ganharam destaque os casos de crianças e adolescentes mineiros impedidos de conviver com os pais perseguidos, a censura a universidades, a movimentos estudantis e às artes.
Para o coordenador da Covemg, professor Róbson Sávio, o trabalho da comissão não se encerra com a entrega do relatório final, já que eventuais ajustes poderão ser feitos, além da criação de novos materiais. Por isso, a Comissão teve seu prazo de vigência prorrogado até 7 de fevereiro de 2018 pelo governador Fernando Pimentel.
“Depois de quatro anos de trabalho ininterrupto, a Comissão da Verdade presta contas com este documento final. Desde sua instalação, não medimos esforços para cumprir seus objetivos políticos legais e institucionais para restaurar as verdades dos fatos relativos aos tempos tenebrosos do período ditatorial em Minas Gerais. Para tanto, a Comissão trabalhou arduamente, ouvindo, pesquisando, colhendo provas e documentos e interagindo com cidadãos e grupos sociais que foram silenciados, alguns exterminados na época do arbítrio”, resumiu Sávio.
Após a entrega ao Estado, o texto final, com mais de 1.600 páginas, e as pesquisas realizadas e os depoimentos coletados ficarão disponíveis no Arquivo Público Mineiro e em plataforma virtual.
A Comissão é formada por sete conselheiros voluntários (Róbson Sávio, Paulo Afonso Moreira, Carlos Melgaço, Maria Céres Spínola, Maria Celina Albano, Emely Salazar e Jurandir Persechini) e mais de 80 pesquisadores e 40 bolsistas de iniciação científica.