Extensão

'Poder da mentira bem contada' é tema do UFMG Talks de outubro

Fenômeno das fake news será analisado pelos professores Fabrício Benevenuto e Geane Alzamora

Apresentadas sob forma de notícias, informações falsas se espalham em velocidade cada vez maior pelas redes sociais, contaminando o ambiente político e prejudicando ações de saúde pública. São as chamadas fake news, termo em inglês usado para referir-se a falsas informações divulgadas, principalmente em redes sociais, e que, em 2017, foi eleita a expressão do ano pela editora britânica Collins, devido ao súbito aumento da sua utilização. 

Fake news: o poder da mentira bem contada é o tema da próxima edição do UFMG Talks, que será realizada na quarta-feira, dia 9, a partir das 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça de Liberdade, em Belo Horizonte. A conversa reunirá os professores Fabrício Benevenuto, do Departamento de Ciência da Computação, e Geane Alzamora, do Departamento de Comunicação Social, ambos da  UFMG.

Segundo Geane, o que leva as pessoas a compartilharem notícias falsas não é necessariamente a falta de informação. “Algumas  pessoas acreditam no que estão repassando, mas o que realmente motiva o compartilhamento não é a verdade nem a mentira, mas a tentativa de dar visibilidade a sua crença”, explica. 

No entendimento da professora, a expressão fake news é usada de maneira equivocada, pois parte do principio que aquele conteúdo é verdadeiro. “Desinformação também é um termo complicado, porque 'des' é um prefixo que pressupõe negação ou ausência, mas  informação é simplesmente uma novidade, que pode ser verdadeira ou falsa", avalia ela, que desenvolve estudos de caso numa perspectiva quanti-qualitativa para compreender o que ocorre nos picos das conversações em torno de notícias falsas. 

Geane Alzamora: Ativismo transmídia é a principal forma de se combater as fake news
Geane: ativismo transmídia para combater as fake news Raphaella Dias / UFMG

Para diminuir a circulação das notícias falsas, é necessário reconhecer que as agências de fact checking são apenas uma parte do processo, pois nem toda informação é verificável e nem toda evidência de falsidade alcança circulação semelhante à disseminação da notícia verificada e comprovada como falsa. “É importante observar de onde vem a notícia, além de conferir a matéria na íntegra antes de compartilhar”, recomenda a professora. “As pessoas precisam ter consciência dos limites éticos e das responsabilidades jurídicas quando compartilham uma informação que pode ser falsa”, afirma Alzamora.

Para Geane, o combate às fake news passa pelo treinamento social para reconhecer as características mais comuns de uma notícia falsa antes de compartilhar, o chamado letramento transmídia, e por ações coletivas de propagação de notícias verificadas, o ativismo transmídia. “A dinâmica transmídia é a forma preferencial da comunicação contemporânea, na qual a informação é produzida para ser compartilhada em larga escala. Mecanismos automáticos de propagação de hashtags e ações coletivas em torno de memes, por exemplo, são aspectos muito importantes no processo”, esclarece.

Eleições sem fake
O professor Fabrício Benevenuto vai discorrer sobre o projeto Eleições sem fake, do qual é coordenador. A iniciativa atua em três frentes de monitoramento: grupos públicos no WhatsApp, identificação do percentual de robôs em trending topics do Twitter e bancos de dados com anúncios de Facebook. “Nas eleições, pusemos uma série de sistemas no ar para tentar diminuir os problemas das fake news. Em épocas de votação, temos de criar novos mecanismos de defesa, pois os dispositivos que espalham falsas notícias se adaptam com o decorrer do tempo”, explica Benevuto.

Um dos principais propagadores de fake news são os bots, aplicações de software concebidas para simular ações humanas repetidas vezes, de maneira padronizada, utilizadas em redes sociais. “Não são fáceis de detectar. Na última eleição, tivemos uma perspectiva de como esses bots podem afetar os resultados”, comenta Benevenuto. 

A novidade em 2018 foi o uso do WhatsApp como ferramenta para espalhar falsas notícias. “Criamos um sistema que mostrava os principais conteúdos circulando nessa rede social para tentarmos identificar alguma atividade fora do comum”, conta o professor. 

Saiba como funciona o projeto neste vídeo produzido pela TV UFMG:


Trajetórias
Fabrício Benevenuto é professor adjunto do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, desenvolve projetos de medição e modelagem do comportamento de usuários nas redes sociais on-line. Cursou graduação, mestrado e doutorado em ciência da computação na UFMG. Em 2011, recebeu o prêmio Capes de Teses. Foi pesquisador visitante no HP Research Labs, em Palo Alto, nos Estados Unidos, e no Instituto Max Planck, na Alemanha, onde recebeu a prestigiosa bolsa da Humboldt Foundation.

Geane Alzamora é professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG, atua nas áreas de semiótica e teorias do jornalismo, com foco na dinâmica transmídia, na rede intermídia e no jornalismo multiplataforma. Graduou-se em comunicação social, com habilitação em jornalismo, na PUC Minas e cursou mestrado e doutorado em comunicação e semiótica na PUC-SP. Fez estágio doutoral na Universität Kassel e residência pós-doutoral na Universitat Pompeu Fabra, na Espanha. É integrante do Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas (NucCon), vinculado ao Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM).

Os ingressos são distribuídos gratuitamente na bilheteria do CCBB uma hora antes do evento, que tem duração de 60 minutos. As edições do UFMG Talks podem ser assistidas no canal da TV UFMG no YouTube e no site da Pró-reitoria de Pesquisa. Mais informações estão disponíveis no site do evento.

Revolução genética 
Na edição de novembro (dia 6) do UFMG Talks, os convidados Sílvia Guatimosim, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB, e Ivan Domingues, do Departamento de Filosofia, conversarão sobre Revolução genética: tecnologia para manipulação do DNA.

O evento é organizado pela Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq) em parceria com o Centro de Comunicação (Cedecom) e apoio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep).

Samuel Resende