Institucional

​UFSJ: ação desqualifica esforços de resgate da memória do regime militar​

É com consternação que tomamos conhecimento do espetáculo criado pela Polícia Federal na manhã de hoje, ao conduzir coercitivamente os últimos três reitores e vice-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais, para prestar informações em uma operação nomeada “Esperança Equilibrista”, sem que houvesse qualquer resistência prévia destas mesmas autoridades para colaborar em qualquer processo judicial ou
administrativo acerca do projeto de implantação do Memorial da Anistia em Minas
Gerais. 

Cientes da importância inafastável da transparência dos serviços públicos, condenamos o que se apresenta como uma operação para esclarecer eventuais problemas na execução orçamentária de um programa acadêmico mas que, ao se utilizar de um hino da resistência à ditadura militar como título, busca desqualificar a
importância dos estudos de resgate da memória e da história desse país, já tão
vilipendiadas nas inúmeras tentativas de apagamento perpetradas por governos
autoritários como o atual. 

O momento da ação soma-se, oportunamente, aos ataques à liberdade de pensamento e à autonomia universitária que vêm ganhando solo neste país. Em um claro processo de criminalização da atividade acadêmica, do pensamento crítico e do livre pensar, nos últimos meses deparamo-nos com um crescente número de ações
judiciais e denúncias que visam acuar e amedrontar professores e pesquisadores
que desenvolvem estudos e ações progressistas em suas Universidades. São vários
os casos de colegas que respondem a acusações infundadas de doutrinação e
desvio ideológico em suas atividades. 

Ainda neste quadro de ataque à autonomia universitária, vivenciamos a trágica perseguição e achincalhamento moral ao reitor da Universidade Federal de Santa Catarina quando, excedendo a busca da Justiça e ocupando um papel persecutório, a Polícia Federal e o Poder Judiciário precipitaram um quadro depressivo que levou ao suicídio de Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Tais ações de investigação, marcadas por um caráter inquisitório em clara tentativa de marginalização social das autoridades universitárias, acontecem em paralelo ao esvaziamento financeiro dos orçamentos e repasses ao ensino superior federal e às tentativas de desmonte das universidades estaduais.

Tais cortes orçamentários seguem a cartilha e recomendações do Banco Mundial que, fazendo coro a parcela da sociedade, considera que a universidade pública não deve continuar a exercer suas atividades de forma gratuita. Tal relatório e tal visão social visam retroceder o acesso ao ensino superior a apenas um grupo privilegiado da população brasileira, aqueles com condições de financiar seus estudos sem comprometer a liquidez do orçamento familiar. 

Trata-se de um projeto de desmonte do ensino público superior. Da restrição ao acesso à universidade. Da subordinação do povo que, sem acesso à formação, tem restringida também a sua soberania. 

Estendemos a toda a comunidade da UFMG, aos envolvidos no Projeto Memória e na instalação do Memorial da Anistia o nosso apoio. 

Continuaremos juntos na luta pela autonomia universitária plena. 

São João del-Rei, 06 de dezembro de 2017. 

Comitê UFSJ Pela Democracia, contra o Golpe e Pelos Direitos