Universidades são o centro do combate à pandemia, afirma reitora da UFMG
Sandra Goulart Almeida e Denise de Carvalho, da UFRJ, apresentaram ações das duas instituições e refletiram sobre a crise atual
A universidade pública brasileira é o polo articulador do combate à pandemia de Sars-coV-2 no país. Desde o início da crise sanitária, a instituição tem sido a responsável por fazer a interlocução entre os diversos atores sociais que vêm lutando para diminuir o número de vítimas do novo coronavírus. Essa afirmação foi feita pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida na noite da última terça-feira, 19, em sua participação na mesa Universidade e pandemia I, do Congresso Virtual UFBA 2020: universidade em movimento, que está sendo realizado desde ontem na internet.
Sandra Goulart fez a comunicação A universidade e a pandemia de Covid-19, em que reportou ao público o conjunto de ações que a UFMG vem realizando no combate à pandemia, assim como o seu papel de articulação dos diversos atores envolvidos nessa luta, como o poder público regional, os hospitais e a sociedade civil. Também participou da conversa a médica e biofísica Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ, que também listou as ações desenvolvidas por sua universidade. A mesa foi mediada pela reitora Guida Aquino, da Universidade Federal do Acre (UFAC).
Uma ouvinte da mesa, que chegou a reunir cerca de 300 pessoas simultaneamente, perguntou às reitoras sobre os desafios de se enfrentar cientificamente “o novo normal” quando nem mesmo “o atual governo, por razões ideológicas, tem apoiado as universidades”. Sandra respondeu que esse é o grande desafio que se coloca no presente e para o futuro. “Isso é de fato inaceitável”, disse. “Trata-se mesmo do grande desafio de agora para frente: não apenas responder a tudo que tem sido demandado de nós pela pandemia e pela sociedade, mas também lidar com o ‘novo normal’ nesse contexto extremamente desafiador".
A reitora da UFMG lembrou que as universidades se veem obrigadas a enfrentar a pandemia de Sars-CoV-2 com os orçamentos defasados há uma década. “Temos uma situação extremamente precária em termos financeiros, pois voltamos aos orçamentos de 2009”, disse. “Não estamos a serviço de um governo, estamos a serviço de um Estado, o Estado brasileiro, a serviço das nossas sociedades. Nesse sentido, esse é um tipo de discurso que não leva a lugar nenhum e que, de fato, nos ofende", desabafou.
País respondeu tardiamente
Após saudação do anfitrião, o reitor João Carlos Salles, da UFBA, a mediadora Guida Aquino listou o conjunto de atividades que as universidades públicas brasileiras, como a UFMG e a UFRJ, têm realizado no combate à Covid-19: produção de álcool em gel e de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde, ações comunitárias e campanhas educativas, assessoria técnica a prefeitos e governadores, oferta de teleatendimento em medicina para a população e de acompanhamento psicológico de profissionais da saúde e formatura antecipada de médicos para atuar no combate à pandemia, sem falar das “mais de 800 pesquisas em desenvolvimento no país” e do trabalho dos hospitais universitários.
Denise de Carvalho, da UFRJ, lembrou que o Brasil, apesar de ter sido um dos últimos países a registrar casos da doença e de contar com a total dedicação de seu corpo científico, ainda assim “respondeu de forma atrasada ao problema”: “Infelizmente, as universidades não foram ouvidas”, disse ela. "Recurso que é destinado à ciência não é gasto, é investimento”, o que, segundo ela, o atual trabalho das universidades públicas brasileiras só faz demonstrar.
A reitora da UFRJ – universidade que completa cem anos neste ano – ainda falou sobre como a atual pandemia coloca a humanidade em estado de suspensão reflexiva. “Esse vírus expõe a fragilidade do ser humano”, disse. “É um momento de reflexão de toda a humanidade, de pensarmos no que um vírus foi capaz de fazer em poucos meses com todo o mundo. É algo que expõe não só a fragilidade da nossa sociedade, além da própria desigualdade social cultivado pelo Brasil em sua história", lamentou Denise.
A programação do Congresso Virtual UFBA 2020: universidade em movimento, que segue até 29 de maio, conta com mais de 700 atividades, entre palestras, mesas e intervenções artísticas, com até nove transmissões simultâneas ao vivo. O congresso também promove uma sessão virtual de pôsteres, com mais de 500 trabalhos.