Moradia no Borges é página virada

Desocupação do Borges abre espaço para expansão do Hospital das Clínicas

Administração central e diretores de unidades reafirmam política de assistência ao aluno carente

Concluída a desocupação da ex-moradia estudantil Borges da Costa, no último dia 13, a UFMG se prepara para iniciar como obras de transformação do edifício no hospital oncológico. O pró-reitor de Planejamento, Roberto Fernando de Souza Freitas, disse que gastará cerca de R $ 4,5 milhões na implantação de um hospital-dia no local. A Reitoria já está tentando captar recursos junto aos poderes municipais, estaduais e federais para viabilizar o novo hospital. 

O diagnóstico preliminar da direção do Hospital das Clínicas é que o Borges da Costa foi muito danificado durante uma longa ocupação. "A rede elétrica está em situação precária e tornou-se inadequada para uso médico", exemplifica o vice-diretor do HC, Henrique Osvaldo da Gama Torres. As primeiras versões não causam danos à estrutura do prédio, mas o teto mostra as infiltrações de água e as instalações hidráulicas utilizadas para reforma. "Aquele espaço é fundamental para a expansão do Hospital e para manter o nosso nível de excelência", argumenta o vice-diretor.

Resistência

Em entrevista à imprensa, que contou com a presença de diretores de unidades acadêmicas e representantes da administração central, ou decano do conselho universitário e reitor em exercício, professor Edward Fêlix Silva, reiterou que um aluno da UFMG sempre estuda as práticas assistenciais e o bom aproveitamento de estudos acadêmicos da UFMG seus alunos. "Prova desse empenho na Fundação Mendes Pimentel, uma entidade exemplar que apóia e incentiva os alunos interessados na Universidade". 

O reitor em exercício lamentou como escaramuças ocorridas entre policiais e moradores que resistiram ao cumprimento da decisão judicial de desocupação. "Há tempos na administração vinha dialogando com os moradores para viabilizar a desocupação do edifício da maneira mais tranquila possível", disse. O decano ressaltou que a Universidade não se preocupa apenas com uma moradia, mas com uma política assistencial mais ampla, pautada pelo respeito aos estudantes. 

O pró-reitor de Planejamento afirmou que a utilização de força policial para concluir a desocupação do Borges da Costa se deu em razão da resistência de alguns moradores, que descumpriram uma decisão judicial. Roberto Freitas confirmou informações de que havia moradores dispostos a resistir à desocupação a todo custo, inclusive com o uso de bombas e violência. "Soubemos que eles poderiam até incendiar o prédio", revelou. O pró-reitor de Planejamento disse que a administração da Universidade está aberta ao diálogo com os estudantes desalojados e disposta a oferecer assistência jurídica e médica aos que a procurarem.

Legalidade

O procurador jurídico Werther Botelho Spagnol disse que a desocupação ocorreu estritamente dentro da legalidade: "Os moradores tiveram prazo de 30 dias para desocupar o Borges da Costa e não o fizeram", lembrou. Segundo o procurador, a operação de desocupação foi incisiva, mas não violenta: "Foi feito o uso da força que a circunstância exigiu. Quem não resistiu, não sofreu nenhum tipo de violência". 

A rapidez e a surpresa da operação, de acordo com o procurador, tiveram o objetivo de evitar a resistência organizada e de resguardar a integridade física da comunidade hospitalar vizinha ao Borges da Costa e dos próprios ocupantes. Werther Spagnol frisou que a determinação da data de uma desocupação é prerrogativa do Juiz: "O domingo foi um bom dia porque evitou transtornos aos usuários do ambulatório do Hospital das Clínicas que funciona anexo ao Borges da Costa".

Novas vagas

O presidente da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), Marcos Roberto Moreira Ribeiro, informou que dos 98 ex-moradores, apenas 54 eram alunos matriculados na UFMG. Segundo o presidente, a Fump elaborou um cronograma com prazo suficiente para que os estudantes da UFMG ocupantes do Borges deixassem o imóvel sem necessidade de despejo. 

Marcos Roberto Ribeiro disse que, após a desocupação, a Fump recebeu da polícia documentos pessoais de 22 presumíveis ex-moradores. Entre eles, só nove são de alunos da UFMG "Há diversas carteiras de identidade com a mesma foto", afirmou. 

Até o final de 1999 estarão sendo inauguradas 200 vagas em terreno de 8 mil metros quadrados já adquirido pela Fump no bairro Ouro Preto. Outras 200 vagas serão inauguradas até o final do ano 2000. Dessas vagas, 60% serão destinadas a alunos carentes, 30% a alunos não carentes e 10% a professores visitantes.