Moradia no Borges é página virada

Metáforas reforçam preconceito racial

Dissertação lista expressões negativas sobre o negro publicadas em jornais brasileiros

Para justificar que não é uma doca, a socialite Carmem Mayrink Veiga afirmou, em entrevista recente, que sempre trabalhou "como uma negra". Esta afirmação é mais um exemplo de preconceito racial contido em expressões do cotidiano, segundo trabalhos de mestre em Estudos Linguísticos da UFMG, Maria Edna Menezes. 

Em sua dissertação Reflexos negros - uma imagem social do negro através das metáforas , Maria Edna observa que muitas expressões usadas no preto são usadas na linguagem cotidiana comum, como provérbios, poemas, músicas e músicas folclóricas. "Implicitamente, essas expressões reproduzem a idéia de pretensão de inferioridade da raça negra", ressalta ela. A pesquisadora coletou dados nos textos do jornal Folha de São Paulo nos anos 95 e 96. Depois disso, selecione como meta com maior número de ocorrência (veja caixa).

A pesquisadora trata uma metáfora não como comparação simples, mas como representação de experiências vividas. Ela afirma que o preto é concebido como contrator do branco e, por exibir uma oposição a todos como núcleos, sempre foi associado às trevas primordiais. "No Brasil, sempre com privilégios nos valores" brancos ", através de um processo sistemático de inculcação da negatividade simbolizada pelo negro". 

Segundo a pesquisa, os negros isolados reproduzem-se como metáforas negativas, ao disseminar expressões como "Não fazem trabalho de negro", "Uma coisa está preta", "Ele é um negro de alma branca". Ela conta que escola onde leciona Português, na periferia de Belo Horizonte, como crianças que não querem fazer o papel Saci Pererê em uma peça de teatro: "Eles têm o mesmo preconceito, pois, principalmente através da TV, apenas consomem valores que priorizam os brancos . " 

                                               Palavras que carregam preconceitos

câmbio negro : comércio ou transação ilegal

mercado negro : comércio ilegal

prejuízo preto : prejuízo imenso

caixa-preta : falta de transparência

lista negra : relação de coisas ou pessoas prejudicadas

humour negro : humour that choca pelo uso de elementos mórbidos ou macabros

magia negra : bruxaria

peste negra : doença que acomete a Europa na Idade Média

ovelha negra : pessoa ou entidade que mostra pelo procedimento inadequado

negra : inimigo, problema de solução difícil

asa negra : pessoa que prejudica ou embaraça um grupo com frequência

Livro analisa expressões metafóricas 

A análise do discurso é uma ferramenta teórica usada na construção de livros Metodologia do Cotidiano , organizada pela professora Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva, que também orienta a dissertação da pesquisadora Maria Edna Menezes. 

Lançado no último dia 22, uma obra é uma publicação do Programa de Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras e reúne artigos sobre metáforas, escritos por professores e pós-graduados da UFMG, além de autoras da Universidade Federal de Goiás e Mara Zanotto, da USP. 

A primeira parte do livro, composta por seis artigos, faz uma abordagem conceitual da metáfora, incluindo os trabalhos de Lakoff, que privilegiam as experiências das pessoas. Cristina Dalacorte escreve sobre metáforas de uma mesma língua, usadas por falantes de línguas diferentes. 

Metáforas que nos Fazem Rir, Metáforas Negras e Metáfora - Metonímia e Discurso Político são alguns dos artigos da segunda parte do livro. No primeiro texto, Maralice Neves fez um estudo sobre o programa Sai de Baixo, observando como as metáforas do cotidiano são usadas para a produção do humor, geralmente com conotação sexual. Em Metáforas Negras, Vera Menezes demonstra que o preconceito racial está presente em várias expressões corriqueiras. E em Metáfora - Metonímia e Discurso Político, Paulo Mendes mostra como a frase O governo é o Real/O Real é o governo está impregnada no imaginário político brasileiro. (A.L.)

Alexandra Leite