Moradia no Borges é página virada

O complexo pensamento de Edgar Morin

Em palestra na Fafich, intelectual francês criticou economistas por se isolarem do resto das ciências humanas

"É preciso reagrupar os sabres para obter uma compreensão do universo". Dessa maneira, o pensador francês Edgar Morin resumiu parte de sua teoria do pensamento complexo, tema que foi enviado a Fafich, no dia 15, para um debate na comunidade universitária. Morin falou para uma platéia atenta, que lotou o auditório Sônia Viegas. Compondo na mesa de professores italianos Gianluca Bocchi, Mauro Ceruti, Telmo Pievani e Oscar Nicolau, além da diretora de Fafich, Vera Alice Cardoso. 

Através do pensamento complexo, o Morin procura restituir um "conhecimento que se encontra adormecido", recuperando a unidade e a diversidade. Com o passar dos tempos, como teorias restritas a estudos por área e a complexidade das questões do homem tem sido pouco compreendida. Na opinião de Morin, os pesquisadores podem registrar uma competência especializada em um contexto natural, na globalidade. O pensador francês oferece hierarquização e organização do saber no pensamento contemporâneo. "Devemos contextualizar todos os eventos, pois são coisas que não ocorrem. Os átomos surgidos nos primeiros segundos do Universo têm relação com cada um de nós". 

Para exemplificar uma ineficiência do pensamento especializado na compreensão de todo o processo, Morin lembrou-se de ciências econômicas, que há anos, ajuda a resolver problemas importantes relacionados à matemática e à lógica. Dessa maneira, os economistas não conseguiram predizer como crises. "Eles isolaram o resto das ciências humanas e esqueceram a influência dos sentimentos, dos medos e dos desejos no processo econômico", afirma. Novos horizontes, no entanto, podem ser observados com cirurgia de ciências que reagrupam disciplinas, tratando os assuntos através de diversos ângulos. Cita como exemplo a cosmologia, que vem misturando astrofísica, microfísica e uma série de reflexos filosóficos. 

Morin ressaltou a capacidade humana de enxergar o mundo com um aspecto poético. A prosa da vida assegura a sobrevivência ea poesia estimula a viver. "Muitas pessoas garantem uma subsistência com determinado tipo de trabalho, sem deixar de investir em outras áreas que oferecem mais prazer". O pensador ressaltou, ainda, uma importância do contexto histórico na formação dos cidadãos. O desafio da complexidade está exatamente na compreensão de "nossa comunidade de destinos". "Podem nos levar à catástrofe. Por isso a coletividade é tão importante. Diante das batalhas cotidianas, estaremos juntos nas vitórias e nas derrotas".

Maurício Silva Júnior