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As vantagens e os perigos do hipertexto

Imagens que facilitam a aprendizagem causam poluição informativa em meios eletrônicos, como a Internet

Há milhões de anos, a Terra era dominada pelos dinossauros, animais pecilotermos, que diminuíam sua atividade quando seus corpos esfriavam pela ausência do sol. Para sobreviverem neste ambiente, os mamíferos precisaram criar hábitos noturnos, o que se tornou possível com o aguçamento da visão. Característica de longa data, a atração que as imagens exercem nos mamíferos - inclusive nos homens - permanece até hoje. O que muitos desconhecem é que este traço primitivo pode ser uma arma poderosa na caça ao conhecimento em meios técnicos de última geração, como a Internet e o CD-ROM. 

Foi isso, pelo menos, o que o pesquisador Cláudio Gottschalg Duque comprovou em sua dissertação de mestrado, defendida recentemente na Faculdade de Letras (leia ficha técnica). O estudo procurou verificar as influências que a imagem exerce na compreensão de elementos lingüísticos - verbais ou textuais. Gottschalg concluiu que o uso de animações e imagens são os melhores recursos hipertextuais para chamar a atenção e facilitar o aprendizado dos usuários. 

Para desenvolver o estudo, Gottschalg utilizou dois textos que explicavam, respectivamente, o funcionamento de um motor a quatro tempos e o de uma bomba de ar. Os textos foram distribuídos a quatro grupos. Dois deles receberam somente o texto e os demais tiveram acesso também às imagens, vinculadas na forma de hipertexto. "O texto e a imagem, quando veiculados adequadamente, permitem maior ganho de conhecimento", diz o pesquisador, lembrando que o uso de imagens não só facilitou a apreensão dos elementos a que se referiam, como auxiliou na própria fixação das informações do texto. Quando o cérebro é obrigado a se concentrar em mais de um meio, ele sempre prefere o visual, diz Gottschalg: "Se houver texto e imagem dispostos simultaneamente, o indivíduo focaliza sua atenção na imagem, tentando compreendê-la sem o auxílio da escrita".

Cuidados

O pesquisador alerta, no entanto, para o cuidado que se deve ter com o uso indiscriminado de imagens e hipertextos, principalmente na área da multimídia computacional interativa, que engloba os cursos de ensino a distância, CD-ROMs e a Internet. "São meios altamente poluídos", observa, referindo-se ao excesso de elementos verbais, visuais, sonoros e animações, encontrados em sites e CD-ROMs. Nessa circunstância, afirma, "a pessoa acaba se perdendo ou aprendendo de forma errada". 

As falhas na assimilação ocorrem porque o cérebro humano possui um limite cognitivo, conseguindo concentrar a atenção em, no máximo, três meios simultaneamente. "O que extrapola essa capacidade é eliminado pelo cérebro", explica Gottschalg. A maioria dos meios multimídia não respeita esse limite. "Ou a estruturação das informações é fácil de ser entendida, mas inadequada ao meio técnico, ou os dados se valem de meios apropriados, mas acabam dispostos de forma que em nada facilita a compreensão", conclui o pesquisador.

                                                               Ficha técnica

Dissertação: A leitura em ambiente multimídia, a produção de inferências por parte do leitor a partir da compreensão de hipertextos 

Autor: Cláudio Gottschalg Duque 

Defesa: novembro de 1998, junto ao mestrado em Estudos Linguísticos, da Fale 

Banca: Fábio Alves da Silva Júnior (orientador), Nívio Ziviani e Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva, todos da UFMG