A UFMG e os 500 anos do Brasil

Arquitetura faz inventário do berço do descobrimento

Um minucioso rastreamento das principais características arquitetônicas e de conservação de 800 imóveis civis do sul da Bahia forma a base do projeto Inventários de bens imóveis dos sítios urbanos tombados dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, Bahia, realizado pela Escola de Arquitetura. O estudo se tornou um dos trunfos da campanha que busca reconhecer aquela região como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.

 

"A mobilização começa este ano, e nosso trabalho será submetido à Unesco como parte do processo", explica o professor Frederico de Paula Tofani, do departamento de Projetos da Escola de Arquitetura e coordenador do inventário. Ostentado no Brasil apenas pelos municípios de Ouro Preto, Diamantina e Congonhas (MG), Olinda (PE), São Miguel das Missões (RS), Salvador (BA), Brasília (DF) e São Luis (MA), o título, na opinião do professor, trará visibilidade mundial à região e facilitará o repasse de recursos destinados à conservação de seu patrimônio.

 

Encomendado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com orçamento de R$ 65 mil, o Inventário será utilizado principalmente no gerenciamento de ações voltadas para a preservação do local. "Antes de planejar qualquer estratégia, é preciso ter um conhecimento abrangente sobre a área", sentencia Tofani. O mapeamento, diz, subsidiará a formulação de critérios para a ocupação do solo, reformas de imóveis e futuras construções.

 

CD-ROM

 

Realizado nas vilas de Arraial dAjuda, Trancoso, Vale Verde, Caraíva e nas cidades de Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, o Inventário é o primeiro do gênero a optar pela divulgação de seus resultados  em CD-ROM. "Outros estudos similares já foram feitos, como o de Tiradentes. Mas este é o primeiro a disponibilizar dados neste meio tecnológico", diz Tofani.

 

Formada por 12 bolsistas da Escola de Arquitetura, cinco técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por um historiador e um topógrafo, a equipe do professor Tofani elaborou seis CDs que reproduzem as condições dos sítios urbanos catalogados. "Em agosto passado, realizamos medições e tiramos 1600 fotografias dos imóveis dos sítios. Com os dados, elaboramos uma maquete eletrônica que nos permite dar um passeio virtual pela localidade", explica.

 

De acordo com o professor da Escola de Arquitetura, além de facilitar a visualização das informações, o meio virtual também é capaz de prever os impactos que novas construções causariam ao local. "A tecnologia simula as conseqüências de futuras intervenções", esclarece. A expectativa do arquiteto é de que os CDs sejam disponibilizados na Internet para consulta dos interessados.

 

Banco de dados

 

A proposta do Inventário é formar um banco de dados de caráter social e arquitetônico dos seis sítios urbanos. A catalogação dos imóveis civis, considerados pela equipe do professor como os mais significativos do ponto de vista histórico, foi feita por meio de questionários e fotografias. "Para cada edifício dedicamos cinco questionários, que levantaram desde suas características arquitetônicas até o estado de conservação, passando pelas condições socioeconômicas do morador", explica o arquiteto.

 

Por ser o homem "o principal agente de preservação ou destruição de sítios urbanos", Frederico Tofani explica que um estudo do gênero não pode deixar de ouvir os planos que as pessoas acalentam para as construções. Isso ajuda a dimensionar os possíveis danos que determinado patrimônio venha a sofrer. "Se planeja ter um carro, a pessoa provavelmente vai construir uma garagem em sua casa, o que resulta em modificações na estrutura original", exemplifica.

Guilherme Pimenta