A UFMG e os 500 anos do Brasil

Módulo arqueológico terá peças do Museu

Dois crânios do acervo arqueológico do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG vão integrar o módulo de Arqueologia da Mostra do Redescobrimento, que será aberta em São Paulo no dia 23. Escolhidas a dedo, as peças, datadas de alguns milhares de anos, ilustram as revolucionárias teorias de povoamento das Américas defendidas pelo antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo. Neves tenta provar que várias correntes migratórias aportaram no continente americano, contrariando a teoria vigente, que indica a ocupação por apenas uma leva (leia boxe).

 

Um dos crânios, com idade aproximada de 7 a 8 mil anos, foi descoberto entre as décadas de 30 e 40 na região de Lagoa Santa e pertence à Coleção Harold Walter, composta por 5 mil peças. Montada a partir de 1933 pelo pesquisador inglês Harold Walter e pelos professores Aníbal Mattos e Arnaldo Athoud, da então Universidade de Minas Gerais (UMG), a coleção é resultado de 20 anos de expedições à região de Lagoa Santa. Seus exemplares constituem o maior acervo mundial do Homem de Lagoa Santa.

 

O outro crânio faz parte da Coleção do Museu de História Natural, tendo sido descoberto em 1992, por uma expedição comandada pelo professor André Prous, da UFMG. Retirada do Vale do Peruaçu, na região de Januária, a ossada estava dentro de um abrigo e praticamente completa, pertencendo a um homem adulto, entre 35 e 39 anos de idade. A datação indica que o crânio possui entre 6 e 7 mil anos.

 

Os dois crânios são de populações pré-ceramistas (a cerâmica é um marco clássico da arqueologia), formadas por caçadores e coletores nômades. Para completar a participação do Museu na Mostra do Redescobrimento, uma peça de cerâmica será levada a São Paulo como exemplar da cultura indígena de tradição Sapucaí. O artefato foi descoberto no município de São Gotardo, região do Alto Paranaíba, em meados desta década. A arqueóloga Martha Maria de Castro e Silva, do Museu, explica que a cerâmica, chamada de vaso duplo, era associada a sepultamentos pelo fato de ser freqüentemente encontrada ao lado dos corpos nas urnas funerárias. A idade estimada para a peça varia de 800 a 1700 anos.

 

Nome: Mostra do Redescobrimento ­ Brasil + 500 

Organização: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais 

Local: Parque do Ibirapuera, São Paulo 

Período: 23 de abril a 7 de setembro 

Acervo: sete mil peças 

Orçamento: R$ 30 milhões 

Módulos: 13 (A primeira descoberta da América e Arte: evolução ou revolução?; Arqueologia; Artes indígenas; Arte afro-brasileira; O negro de corpo e alma; Barroco; Arte do século XIX; Arte popular; Imagens do inconsciente; Arte moderna; Arte contemporânea; O olhar distante; Carta de Pero Vaz de Caminha)

 

 

 

                            Tese tem respaldo de especialistas de várias áreas

 

Responsável pela identificação, reconstituição e catalogação de cerca de 2.600 peças da Coleção Harold Walter, processo realizado no Laboratório de Estudos Evolutivos da USP, o antropólogo Walter Neves juntou-se a vários outros pesquisadores para defender a teoria de que mais de uma leva migratória promoveu a ocupação da América. Ele conta com o respaldo de profundas investigações feitas por especialistas nas áreas de química, conservação de artefatos arqueológicos, geologia, genética e antropologia. Entre eles, estão os professores André Prous, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich, e Sérgio Pena, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB. Essa é a razão pela qual os dois crânios ­ um de Lagoa Santa e outro do Norte de Minas ­ irão para São Paulo. "Eles são inteiramente distintos, tanto morfológica quanto geneticamente. Além disso, pertencem a culturas diferentes. Tudo indica que pertençam a populações distintas", revela Martha Maria Castro e Silva.

 

 

 

                                            Bravas gentes expõe 80 peças

 

O Palácio das Artes também receberá parte do acervo de arqueologia do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG para as comemorações do quinto centenário de descobrimento do Brasil. A exposição Bravas Gentes Brasileiras, que vai de 22 de abril a 23 de julho, será composta por mais de 80 peças de vários períodos da pré-história (pré-ceramistas e ceramistas), por artefatos e outros vestígios em lítico (pedra polida e lascada) e ainda por ossos e materiais vegetais.

 

Serão expostos virotes (dardos de ponta redonda, usados para não sujar de sangue as aves capturadas), pontas de flechas, machados, urnas funerárias, além de artefatos têxteis e vestígios vegetais silvestres e cultivados, como sementes. Muito raro, o acervo possui curiosidades como um pequi de 8 mil anos e silos (depósitos de alimentos) que datam de 1.200 a três mil anos. A mostra também propiciará a reconstituição do esqueleto mineralizado de um homem pré-histórico.

Ana Carolina Fleury