Festival de Inverno conquista Diamantina
Evento conseguiu harmonizar sua proposta com a forte tradição cultural da cidade
No evento com programação leve e acadêmica, atraente ponto de vista turístico e perfeitamente integrado à comunidade local. Esta é, em linhas gerais, uma impressão de visitantes, moradores e organização própria sobre o 32 Festival de Inverno da UFMG , que se encerra neste domingo, dia 29, e que recebe centenas de participantes em uma atmosfera cultural poucas vezes vista na cidade .
"Foi gratificante constatar que a proposta do Festival foi muito bem aceita pela população da cidade e pelos visitantes, que comparou quase todos os espetáculos de teatro e rua", resume o coordenador-geral do evento, Fabrício Fernandino.
Como exemplos, ele cita Vesperata , que reúne cerca de duas mil pessoas no dia da abertura, e a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que teve 30% das suas peças vendidas apenas no primeiro dia de exposição. "Isso nos é obrigatório para buscar mais trabalhos dos artesãos para completar a feira", diz Fernandino. A mostra fica aberta até o dia 29, no Mercado Municipal.
O sucesso do público também pode ser comprovado na lotação de praticamente todas as pousadas e hotéis da cidade a partir do início do evento. Fernandino também possui uma relação afetiva criada entre o Festival e Diamantina, devido, principalmente, e o respeito às tradições da cultura local presentes na programação de eventos e oficinas.
Cidade-síntese
Para a vice-reitora Ana Lúcia Gazzola, a decisão de realizar o Festival em Diamantina, depois de vários anos em Ouro Preto, foi das mais acertadas. "Diamantina é importantíssima para a cultura de Minas e do Brasil. É uma cidade-síntese, para onde convergem inúmeras tendências culturais", explica. Ela lembra que a cidade abriga manifestações da cultura popular e expressões do barroco, além de promover uma convivência harmônica entre a tradição e a modernidade. "É um lugar marcado pela arquitetura tradicional e, ao mesmo tempo, pelo vanguardismo de JK", exemplifica a vice-reitora.
Para o fotógrafo Marco Diniz, que participou da oficina Realidade Inventada, da área de Artes Visuais, o Festival no antigo arraial do Tejuco apresentou perfil mais voltado para o ensino. "Quem se dispôs a viajar até Diamantina veio com o objetivo de aprender ou atualizar-se", argumenta. Diniz destaca a hospitalidade do povo diamantinense e viu na sua pouca experiência com o turismo outro ponto positivo. "Aqui não há guias se oferecendo nem vendedores tentando empurrar qualquer coisa."
Um amadorismo que, no entanto, é criticado pelo gerente do Grande Hotel, Renato Franco. Para ele, além de trazer muitos turistas para a cidade, o Festival de Inverno propiciou uma grande oportunidade para que a cidade reflita sobre sua política de turismo.
"Diamantina ainda não sabe receber visitantes. As ruas não têm lixeiras, o abastecimento de água fica comprometido com um grande número de pessoas e faltam investimentos no setor cultural, através da criação de casas de espetáculos. E o próprio setor hoteleiro ainda não consegue atender um público exigente como este", argumentou Franco.
Mercadinho deverá abrigar Núcleo de Cultura Popular
A criação do Núcleo de Cultura Popular deverá ser uma das novidades do Festival de Inverno do próximo ano. Segundo Fabrício Fernandino, o projeto é inspirado na Feira de Artesanato, que vem fazendo grande sucesso no Mercado Municipal.
"O Núcleo, na verdade, seria a Feira ampliada, com os artesãos mostrando seu processo criativo, além de contadores de causos, músicas da região, comidas típicas e palestras. Esta iniciativa deverá valorizar e dar visibilidade à cultura produzida no Vale do Jequitinhonha", aponta Fernandino. A idéia é de que o Núcleo funcione no próprio Mercado durante todo o Festival.
Outro projeto de Fernandino é transformar o Festival de Inverno em um gerador de produtos culturais. "É preciso projetar o evento para além do ensino, propiciando um resultado continuado após o seu término", defende o professor. O primeiro passo para a concretização dessa proposta já foi dado. Os resultados obtidos nas oficinas de Artes Visuais e Artes Plásticas serão expostos em mostra no Centro Cultural UFMG, no dia 15 de setembro.
"Para o próximo ano, a meta é fazer o mesmo com as áreas de Literatura, cujo produto seria a publicação de um livro; Música, com a gravação de um CD; e Teatro, que teria como resultado final a montagem de uma peça. Esses produtos seriam levados para todo o país, ostentando a marca do Festival e dos seus patrocinadores", projeta o coordenador.