Escola integrada envolve alunos da UFMG

A primeira vez a gente nunca esquece

Dissertação da Enfermagem interpreta sentimentos envolvidos na iniciação sexual de adolescentes

A gente tem medo de, na hora agá, não conseguir, sabe... A gente se sente inseguro”. Mesmo que tais frases tenham sido ditas por um único indivíduo, a angústia diante do novo aparece escamoteada no providencial “a gente”. No termo, que aqui antecede uma série de dúvidas, estão concentrados receios diversos, frutos de inevitável horizonte na vida de garotos e garotas. Afinal, qual a reação de um jovem – e não “da gente” – ao se deparar com a seguinte questão: “O que você sente ao pensar na sua iniciação sexual”?

 

Bochechas avermelhadas, silêncios prolongados, mãos agitadas e testa franzida são alguns dos indícios de que a pergunta, de aparente simplicidade, mobiliza emoções incalculáveis naqueles que ainda não venceram a “etapa” da virgindade. Compreender com detalhes o significado de tais reações foi a meta da pesquisadora Letícia Soares de Azevedo. Sua investigação, realizada com alunos mineiros, culminou com a dissertação de mestrado Compreendendo os sentimentos do adolescente em seu processo de iniciação sexual, defendida, em março, dentro do programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem da UFMG.

 

Na pesquisa de Letícia Soares, a pergunta crucial foi feita a 12 estudantes, entre 12 e 20 anos, da Escola Municipal José Maria dos Mares Guia, em Belo Horizonte, e da Unidade de Saúde Centro, em Contagem. As respostas colhidas entre os jovens revelam a dificuldade de se lidar com o tema. Além de tímidos, os entrevistados (sete mulheres e cinco homens) recebiam a pergunta sobre a iniciação sexual como algo bastante íntimo e, por isso, difícil de expressar publicamente.

 

“Por isso, antes da entrevista, busquei contato com os jovens”, explica a pesquisadora, que, semanas antes de se lançar ao estudo, coordenou, na Escola Municipal, atividades diversas, de oficinas de pintura a “dinâmicas do corpo” e jogos de pergunta e resposta. “No último dia de encontro com os grupos, fiz o contato com os garotos e garotas”, conta.

Longo silêncio

 

Das entrevistas com os jovens, a pesquisadora chegou a quatro categorias distintas para explicar os sentimentos da primeira vez. Letícia constatou, inicialmente, que os estudantes apresentam bastante dificuldade de falar sobre emoções. “O receio aparece em forma de longos silêncios, nos discursos curtos e na vergonha que sentem ao comentar o tema”, diz. Neste ponto, apesar de a estudiosa não analisar questões de gênero, pôde constatar que garotos e garotas têm medos similares. “Homens e mulheres esperam que a primeira vez aconteça no momento certo. E com a pessoa ideal”, afirma. Apesar disso, os meninos receiam “falhar” no ato da relação sexual.

 

A segunda categoria analisada por Letícia diz respeito à influência da família na forma de o jovem pensar sua iniciação sexual. “A principal referência do adolescente são os grupos. A família se apresenta como o mais forte deles”, ressalta Letícia, ao lembrar que a figura materna é também decisiva no processo de construção dos sentimentos. Muitos jovens temem, por exemplo, que a mãe descubra que fizeram sexo pela primeira vez.

 

Outro ponto de preocupação da juventude, importante na configuração de seus sentimentos, são as conseqüências do ato sexual. “Os jovens preocupam-se, principalmente, com gravidez não-planejada e Doenças Sexualmente Transmissíveis”, ressalta a pesquisadora. Isso faz com que os adolescentes cultivem sentimentos conflituosos, situados entre a vontade de se prevenir e o medo de que, mesmo com tais cuidados, não estejam protegidos.

 

Letícia Soares também interpreta o sentimento dos jovens diante da iminente primeira vez. “Os adolescentes precisavam imaginar sua iniciação sexual para dizer o que sentiam”, conta. Quando expostos a tal cenário, os adolescentes passaram a pensar no desconhecido e tiveram suas emoções afloradas. Diante da questão, o sentimento norteador passa a ser o medo. A partir dele, surgem a ansiedade, a vergonha e a timidez. “Muitas vezes, o medo vence o desejo”, conclui a pesquisadora.

 

Dissertação: Compreendendo os sentimentos do adolescente em seu processo de iniciação sexual

Autora: Letícia Soares de Azevedo

Orientadora: Anézia Moreira Faria Madeira

Defesa: dia 27 de março, dentro do programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem da UFMG

Mauricio Guilherme Silva Jr.