Boletim
UFMG contra o Aedes
Energia que vem dos restos
Plataforma desenvolvida na UFMG reaproveita resíduos alimentares gerados no restaurante Setorial II
Os resíduos de alimentos do restaurante Setorial II, localizado no campus Pampulha, ganharam novo destino no fim do ano passado. Os restos de comida, que antes eram descartados como lixo comum em aterros sanitários ou destinados à alimentação animal, agora são tratados na pMethar, plataforma de metanização de resíduos orgânicos desenvolvida pelo Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa) da UFMG.
Os resultados preliminares da plataforma estão reunidos no projeto Desenvolvimento de sistema integrado para tratamento de resíduos orgânicos e aproveitamento energético e agrícola dos subprodutos gerados, de autoria dos estudantes de Engenharia Ambiental Catarina Azevedo Borges e Augusto de Assis Temponi Cabral Dias. O trabalho, que foi orientado pelo professor Carlos Augusto de Lemos Chernicharo, descreve a planta-piloto que realiza o tratamento dos resíduos orgânicos por meio da metanização.
“A metanização é um processo de digestão anaeróbia. Criamos um reator em que os restos orgânicos são fonte energética para diversos grupos de microrganismos, que transformam esses resíduos em biogás e, posteriormente, em energia térmica e elétrica, água de reúso e biossólido agrícola, que serve como fertilizante e pode ser usado no próprio campus”, explica Catarina Azevedo.
A planta, localizada no Quarteirão 10 do campus Pampulha (nas imediações de uma das saídas da UFMG pela avenida do Colégio Militar), tem capacidade para tratar 500 quilos de resíduos por dia. Na primeira etapa da pesquisa, a instalação chegou a processar até 330 quilos de resíduos diários gerados no Setorial II. “Esses resíduos incluem as sobras de preparo, desperdícios nos pratos e em linhas de serviço”, explica a estudante.
O processo de tratamento do resíduo começa quando o alimento é triado, para que materiais impróprios sejam separados. Em seguida, os resíduos são triturados. Uma quantidade de água é adicionada à mistura, e, a partir daí, são iniciadas as reações bioquímicas que tratam o resíduo. “Os microrganismos do interior da plataforma se alimentam do resíduo orgânico, e desse processo são gerados os subprodutos que poderão ser reaproveitados”, diz a estudante.
O biogás produzido pelo processo vai para outra plataforma, onde é armazenado e tratado para virar energia elétrica e térmica. O efluente dos reatores vai para tanques de separação sólido-líquido. Após a filtragem, a parte sólida pode ser usada como fertilizante. Segundo Catarina, a planta ainda precisa ser aprimorada para o reaproveitamento do líquido gerado na reação. “Agora estamos desenvolvendo um sistema com essa finalidade. A nossa intenção é que o líquido possa ser usado como água de reúso na irrigação ou no próprio funcionamento da planta”, afirma a pesquisadora.
Catarina Azevedo explica que a tecnologia utilizada na pMethar é uma mistura das técnicas empregadas em plataformas de reciclagem de resíduos orgânicos da Europa e da Ásia. “Na Europa, recorre-se a uma tecnologia mais complexa e cara. Na Ásia, os sistemas são mais simples. A pMethar usa um pouco de cada, mas é inovadora porque foi adaptada à nossa realidade e ao tipo de alimento que consumimos.”
Piloto
A construção da pMethar contou com suporte técnico da empresa Methanum Resíduo e Energia, especializada em tratamento de resíduos. A instalação foi viabilizada também graças aos arranjos institucionais com órgãos financiadores como CNPq, Fapemig, Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e Ministério das Cidades.
Catarina Azevedo destaca que o sistema em funcionamento no campus Pampulha é uma plataforma-piloto que pode ser ampliada para tratar volumes maiores de resíduos orgânicos. “Além disso, uma planta como essa, descentralizada, pode ser implantada em pequenos municípios, comunidades isoladas, empresas e campi universitários. Em todo lugar onde há geração de resíduos orgânicos, eles podem virar produtos aproveitáveis, em vez de serem depositados em aterros sanitários”, ressalta. Ela acrescenta que, além de ser uma alternativa sustentável, o tratamento dos resíduos orgânicos alimentares traz outros benefícios para a sociedade.
“Quando retiramos os resíduos dos aterros sanitários, evitamos o mau cheiro e a propagação de vetores de doenças. Com o uso desse tipo de planta nos municípios, podemos melhorar a qualidade de vida das pessoas e gerar empregos para quem atuará nos processos de tratamento”, conclui Catarina Azevedo.
Projeto: Desenvolvimento de sistema integrado para tratamento de resíduos orgânicos e aproveitamento energético e agrícola dos subprodutos gerados, vencedor da 8ª edição do Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável.
Autores: Catarina Azevedo Borges e Augusto de Assis Temponi Cabral Dias
Orientação: Carlos Augusto de Lemos Chernicharo