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Nº 18 - Ano 9 - 05.08.2010

Web e redes sociais

O prazer de se expor

Acordar, tomar café da manhã e... dar uma olhada no Twitter. Com que roupa vou hoje? Vou consultar alguns blogs de moda para ter ideias. Depois, checar e-mails, trabalhar – será que fulana respondeu ao meu recado no Orkut? Voltando ao trabalho, tenho que baixar as fotos do evento sobre o qual estou escrevendo. Essa foto ficou muito bonita! Vou colocar no meu Flickr. Que lugar silencioso... vou colocar uma música no Blip.fm. 

Se o trecho acima pareceu grego para você, é motivo de preocupação: blogs, microblogs, redes de relacionamento, sites de compartilhamento de fotos são a nova sensação da internet e grande promessa da comunicação. Essas mídias sociais são ferramentas que utilizam a internet como plataforma para a interação de usuários, promovendo troca de experiências e opiniões. 

Característica marcante é a versatilidade da interação. É possível compartilhar textos longos e curtos, imagens, vídeos, arquivos de áudio, links, qualquer tipo de conteúdo que você produza. E existem os sites de relacionamento também. Eles permitem o contato com amigos ou desconhecidos, quem mora perto ou quem mora longe. Gente bem parecida, ou completamente diferente. Já iniciei amizades pela internet com pessoas que vejo sempre por aí. Já conheci gente de outros estados, de outros países, de culturas completamente diferentes da minha. 

Geralmente quem se mete nesse mundo não usa as mídias sociais de forma esporádica. É algo que acompanha o dia a dia do usuário. Serve para quando se tem uma ideia legal, ouve algo engraçado, tira uma foto interessante, filma alguma coisa, quer marcar um encontro. É uma forma de se inserir no mundo de maneira prática, abrangente e instantânea: é simples de fazer, e várias pessoas ficarão sabendo daquilo no momento em que você quiser. 

A maioria das mídias sociais, como o Twitter, o Blip e o Orkut, não exigem muita atenção, são usadas enquanto a pessoa trabalha, estuda ou faz qualquer outra atividade.

A maioria das mídias sociais, como o Twitter, o Blip e o Orkut, não exigem muita atenção, são usadas enquanto a pessoa trabalha, estuda ou faz qualquer outra atividade. Mas também podem-se buscar conteúdos mais profundos nessas mídias. Blogs e sites colaborativos como o Overmundo têm essa proposta. 

#protagonista  Nas mídias sociais, grande parte da interação é feita de forma aberta, visível aos outros usuários. Claro, é possível ter conversas mais reservadas, mas elas são menos frequentes que as outras. A consciência de que qualquer um pode ver o que falo acaba moldando os temas das conversas: nada muito particular ou secreto. 

Muitas vezes, os temas relacionam-se diretamente com a imagem que quero passar, com a figura que represento na web. Se muitas pessoas interagem comigo porque gosto de moda e publico coisas interessantes sobre o assunto, não dá pra falar o tempo todo sobre a economia do Camboja. Eu até poderia fazer isso – discorrer sobre as finanças daquele país asiático –, mas isso reconfiguraria a rede que tenho ao meu redor nessas mídias sociais. As pessoas com quem eu passaria a compartilhar essas informações não mais seriam as interessadas em moda – a não ser que, por algum acaso estranho do destino, elas também se interessassem pelo Camboja.

Também é preciso ter atenção com o que se publica. Toda essa liberdade de comunicação permite que se fale sobre muitos temas dos quais não temos tanto conhecimento assim. Um post recente no Twitter: "Galo! Vou ali ver a final do mineiro". O que eu não sabia é que o jogo do referido time era das quartas de final da Copa do Brasil, em minha quase total ignorância a respeito dessa paixão nacional. Em questão de minutos surgiram respostas que zombavam da minha gafe. O mesmo ocorreu quando  postei a música Sweet dreams, cantada pelo Marilyn Manson, e comentar que ele foi genial quando compôs a letra, sem saber que a música foi gravada inicialmente pelo duo Eurythmics em 1983. Bem antes de Manson gravá-la. 

#nãoestamossozinhos  A partir de comunidades dentro dessas mídias sociais, é possível descobrir pessoas com gostos bem parecidos. Existem comunidades sobre música, lugares, animais, comidas, estilos, livros, filmes, humor, enfim, sobre quase tudo. E essas comunidades também acabam gerando outras sobre subcategorias dessas classificações, que vão se dividindo até ficarem tão específicas, que tratam de coisas como o rock- progressivo-finlandês-de-bandas--só-de-mulheres-na-década-de-1990. E as que não existem, você pode criar. Quase sempre há uma outra pessoa que se interessa por aquele assunto também. As mídias sociais permitem a interação com essas outras pessoas de gostos singulares, e isso pode até acabar se tornando amizade, mesmo que virtual, por mais distante que essa pessoa esteja de mim e por mais diferentes que sejamos. Essa pequena característica em comum é suficiente para que entremos em contato e conversemos pelo tempo que quisermos.

Que atire a primeira pedra quem não gosta de espiar a vida alheia. Surge uma identificação com o outro, e isso acontece por vários motivos. Ele pode estar em maus lençóis, passando por situações semelhantes às que estou vivendo, ou ser muito diferente de mim. Se não fosse por essa vontade, reality shows não teriam tanta audiência. O Big Brother Brasil 10, por exemplo, registrou mais de 66 milhões de ligações em sua última votação. Isso quer dizer, no mínimo, que um bom número de pessoas se envolve com o programa de forma a se importar com quem vai ganhar. Essas pessoas gostam, e muito, de saber o que acontece na vida das outras pessoas. Nas mídias sociais não é diferente. 

Com a onda do Twitter, muitas personalidades apostaram nessa ferramenta para fortalecer os laços com seus fãs: Barack Obama, Ashton Kutcher, Marcelo Tas e Luciano Huck são alguns exemplos bem-sucedidos de relacionamento com quem os acompanha. Outras pessoas, ainda que aparentemente muito bem assessoradas, não se dão bem com a ferramenta. Xuxa, a rainha dos baixinhos, teve uma relação de amor e ódio com o Twitter. Mais ódio, na verdade. Começou escrevendo tudo em caixa alta: tremenda gafe na etiqueta da internet. Também não ligava muito para o português. Mas foi quando recebeu críticas pelo deslize da filha Sasha em seu Twitter (a menina escreveu a palavra cena com "s") que a apresentadora cansou dessa coisa toda e desistiu do microblog. E com um “fui vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo”, ela deixou o Twitter, voltando apenas para dizer que não estava processando o site. A má relação construída com os outros twitteiros acaba gerando certa antipatia nos usuários que, inicialmente, se interessavam pela celebridade. 

Em uma espécie de voyeurismo contemporâneo, aproveitando-se da ideia do olhar distante, sem contato com o objeto, as pessoas encontram divertimento em observar a vida do outro. 

#janelaindiscreta  Voyeurismo é a busca do prazer a partir da observação de outras pessoas, sem que haja o contato entre observado e observador. Em uma espécie de voyeurismo contemporâneo, aproveitando-se da ideia do olhar distante, sem contato com o objeto, as pessoas encontram divertimento em observar a vida do outro. Qualquer coisa vira informação preciosa: o que a pessoa está fazendo, o que ela gosta de ouvir, o que fez no fim de semana ou quem são seus amigos. E isso se descobre pelas fotos que a pessoa colocou no Orkut, pelas descrições do Facebook, pelos temas que desenvolve no blog, pelas últimas músicas do Blip e pelas postagens e conversas encadeadas no Twitter. Observando o perfil no Twitter e o blog de uma pessoa desconhecida, dá para descobrir quem ela namora, quando os dois se conheceram, quando começaram a namorar, quando brigaram e até quando foi a conversa de reconciliação. 

Esses meios, no raciocínio inverso, expressam vontade, no momento da produção do conteúdo, de se mostrar cada vez mais, de expor uma opinião sobre todos os assuntos, inclusive sobre os que a pessoa não compreende bem. O usuário escolhe que características vão transparecer no que produz, quais vai omitir, e pode também inventar coisas a seu respeito. Esses sites não pedem identidade, CPF ou comprovante de residência. Posso ser quem eu quiser, quando e como quiser, mas faço essas escolhas certa de que alguém estará vendo o que eu publiquei e possivelmente fará algum tipo de avaliação disso. Há prazer nessa exposição, eu faço pensando em um – no caso, vários – espectador em potencial. Se não fosse para alguém ver, poderia deixar todo o conteúdo em uma pasta no meu computador.

Anna Carolina Pereira de Aguiar Estudante de Comunicação Social (habilitação Jornalismo) da Fafi