Ensino

Com criatividade, professores adaptam experiências curriculares ao ensino remoto

Relatos foram feitos por docentes das áreas de acessibilidade, urbanismo e comunicação

Professores deram exemplos de como transpor experiências curriculares para o ensino remoto
Professores deram exemplos de como transpor experiências curriculares para o ensino remoto Raphaella Dias / UFMG

Tecnologias de fácil acesso, criatividade e construções coletivas de soluções. Esses são alguns dos ingredientes essenciais para adaptar as experiências curriculares dos cursos graduação da UFMG ao ensino remoto emergencial, na visão de professores que participaram de fórum on-line sobre o tema nesta quarta-feira, dia 16.

Promovido pelo Programa Integração Docente, o evento, que chega à sua nona edição, pode ser assistido na íntegra no canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no YouTube, onde também estão disponíveis as edições anteriores.

O pró-reitor adjunto de Graduação, Bruno Teixeira, que abriu o evento, ressaltou a contribuição das atividades que vão além das disciplinas tradicionais para o percurso acadêmico dos alunos, como as Formações Transversais, ofertadas desde 2015 em nove opções.

“Elas representam uma oportunidade ímpar tanto para docentes de diversas áreas, que ganham um espaço para a produção e divulgação do conhecimento no âmbito do ensino de graduação, quanto para os graduandos, que, além da preparação científica, tecnológica, cultural e humanística de qualidade dentro da sua área, passam a contar com uma formação ética e cidadã que os deixa mais aptos para enfrentar os desafios do nosso país e da humanidade”, salientou.

O professor também convidou os colegiados a submeter propostas, até o próximo dia 22, ao Programa de Desenvolvimento de Ensino de Graduação, que tem o objetivo de estimular a incorporação de práticas pedagógicas inovadoras pelos cursos. Inédita, a iniciativa da Prograd distribuirá bolsas para graduandos e pós-graduandos envolvidos nesses esforços.

Terezinha e o intérprete de Libras
Terezinha Rocha e o intérprete de Libras Juliano Salomon: acessibilidade como direitoRaphaella Dias / UFMG

Acessibilidade como direito
Coordenadora da Formação Transversal em Acessibilidade e Inclusão, a professora Terezinha Rocha, da Faculdade de Educação, apresentou o escopo desse percurso formativo, que inclui 46 disciplinas ministradas por cerca de 40 professores de 11 unidades acadêmicas, e falou sobre as soluções encontradas para lidar com os desafios do ensino remoto emergencial.

Para adaptar as atividades ao novo contexto, foi elaborado um planejamento que incluiu pesquisas de recursos tecnológicos para garantir a acessibilidade dos conteúdos, análises e discussões sobre as práticas pedagógicas, seguidas de sua implementação e avaliação.

Algumas das inovações adotadas são a divulgação de informações, nos perfis da Formação nas redes sociais, sobre ferramentas, softwares, serviços de acessibilidade e atendimentos a pessoas com deficiência, projeto de seminários e de aulas abertas ao público, transmitidas pelo seu canal no YouTube, e elaboração de calendário com datas marcantes para pessoas com deficiência.

Todo o processo, explicou Terezinha, foi norteado pela noção de que disponibilizar conteúdos acessíveis é um dever da Universidade. “Entendemos a acessibilidade como direito em oposição ao discurso de caridade, de que estaria sendo feito um favor às pessoas com deficiência. Pelo contrário, estamos buscando representatividade, um diálogo amplo, democrático e trazendo as pessoas com deficiência para serem protagonistas nesse processo", argumentou. Atualmente, a UFMG tem 534 alunos com deficiência.

Eduardo
Eduardo Mascarenhas (no quadro do meio) e Fernando Speranza (abaixo): triplo pretextoRaphaella Dias / UFMG

Cartografias virtuais
Como o ensino de arquitetura e de urbanismo – campos de conhecimento tão ligados à cidade – pode se manter, com qualidade, num momento em que as pessoas estão recolhidas em suas casas? Os professores Fernando Speranza, da Universidade de Buenos Aires, e Eduardo Mascarenhas, da Escola de Arquitetura, que atuam no projeto Cartografias da cidade Arquisur: uma visão projetual do espaço urbano em tempos de pandemia, dão a receita: recursos tecnológicos gratuitos, sensibilidade e muita criatividade.

"Apostamos em uma estratégia simples, mas muito, muito potente: um trabalho organizado em ferramentas virtuais que todos conhecemos e nos servem de pretexto para um triplo processo: de vinculação, imersão e ensino-aprendizagem. Nossa disciplina tem uma particularidade: a de que se aprende a projetar projetando. Portanto, é também um processo de ensino de projeto”, explicou o professor argentino.

Entre os recursos utilizados estão Google Maps, YouTube, Facebook, Padlet e Miro, usados para organização gráfica de ideais e conceitos, além de plataformas de videoconferências.

A iniciativa foi idealizada como um ateliê, no qual 600 graduandos de cursos de Arquitetura e Urbanismo de 17 faculdades latino-americanas desenvolvem reflexões sobre o território e sua ocupação, com base em registros como diários de bordo, apresentações, fotografias, criação de acervos sobre as cidades em que vivem os estudantes e sugestões de rotas para conhecê-las.

"É um trabalho muito mais de problematização acerca das cidades na pandemia, em que os alunos estabelecem percursos e apresentam para seus colegas. Alunos de Belo Horizonte apresentaram suas ideias a alunos de Mar del Plata, na Argentina, por exemplo. Depois há uma troca, e cada um imagina questões e propõe soluções e visões sobre a cidade dos outros. Isso é muito interessante, especialmente neste período de covid-19”, avaliou Eduardo Mascarenhas.

Carlos Mendonça (no alto à direita), Juarez Guimarães e Aline
Carlos Mendonça (no alto, à direita), Juarez Guimarães e a intérprete de libras Aline Peixoto: espaço de liberdade e encontroRaphaella Dias / UFMG

Arte para estabelecer novas formas de vida
Abordando as manifestações artísticas e culturais, elementos fundamentais para vislumbrar novas perspectivas para a própria existência, os professores Carlos Mendonça e Juarez Guimarães, do Departamento de Comunicação Social da Fafich, comentaram o trabalho desenvolvido pela Formação Transversal em Culturas em Movimento e Processos Criativos.

O percurso, associado ao grupo Núcleo de Estudos em Estéticas do Performático e Experiência Comunicacional (Neepec), é organizado com base de conceitos como teatralidade, performance, comunicação e gênero. A atualmente, está centrado nas linhas de estudo sobre violência e subtração da vida da população LGBTQIA+ e autobiografia ou ficcionalização de si, que estimulam reflexões sobre como os sujeitos se posicionam e lutam por reconhecimento.

"Narrar é também produzir memórias, produzir espaços na arena pública de corpos muitas vezes esquecidos. Interessa-nos realizar trabalhos que observem também como a arte e cultura são fundamentais para a criação e o estabelecimento de novas formas de vida”, justificou Carlos Mendonça.

Além do seu papel formativo, o Núcleo tem fortalecido também sua vocação como espaço de liberdade e de encontro, especialmente durante a pandemia de covid-19, quando as tecnologias de informação têm ampliado as possibilidades de participação, inclusive para pessoas da comunidade em geral.

“O Neepec vem se tornando um lugar de acolhimento de muitos estudantes, homens e mulheres trans, que têm nos procurado para se envolver com as discussões das questões de gênero, de alunos gays, lésbicas, mas também héteros, que têm a possibilidade de expor experiências e vivências para serem debatidas junto com o nosso elenco de textos e em eventos. Isso ajuda a formar um caldeirão em ebulição para esses temas que são muito caros não só para nós, mas para pessoas de várias áreas”, afirmou Juarez Guimarães.

Com Assessoria de Comunicação do Caed UFMG