Curso de Letras-Libras é porta de entrada para estudantes surdos na UFMG
Vestibular para a licenciatura ofertada na Faculdade de Letras recebe inscrições até quinta, dia 15
Principal porta de entrada para a comunidade surda na UFMG, o curso de graduação em Letras-Libras, oferecido na Faculdade de Letras (Fale), recebe inscrições até a próxima quinta-feira, 15 de junho, na página da Copeve. A seleção, que é feita por meio de processo específico, está aberta tanto para o ingresso regular quanto para as modalidades de transferência e obtenção de novo título.
“O ingresso no nosso curso não se dá pelo Sisu justamente porque o curso tem uma necessidade específica, o conhecimento prévio da Libras [Língua Brasileira de Sinais]. A formação tem uma estrutura linguística diferente, por isso, os alunos que desejam ingressar no curso Letras-Libras fazem esse vestibular específico”, explica a professora Michelle Murta, docente do curso de licenciatura em Letras-Libras, em episódio recente do videocast da Mostra Sua UFMG.
No videocast, publicado no canal da TV UFMG no YouTube, Michelle Murta – acompanhada do coordenador da formação, o professor Guilherme Lourenço de Souza, que atuou como intérprete da Libras para o português – detalha o processo de seleção para o ingresso no curso e apresenta projetos, como o Mãos literárias, que dissemina a literatura para a comunidade surda brasileira.
O vestibular para a graduação em Letras-Libras é composto de duas provas. A primeira delas é específica, sobre Libras, e reúne questões apresentadas diretamente na língua de sinais. “Com ela, conseguimos perceber se o estudante tem conhecimento suficiente de Libras para acompanhar o curso”, explica Michelle Murta. “É importante que fique claro que o nosso curso não é ofertado para que as pessoas aprendam Libras. É uma formação para que aqueles estudantes que já conhecem a língua atuem como professores”, completa.
O outro exame da seleção é o de língua portuguesa. “É importante que a gente tenha, no processo seletivo, uma prova de português, pensando no idioma como segunda língua para os candidatos surdos, inclusive respeitando essa especificidade linguística das pessoas surdas”, diz a professora.
Estrutura e caminhos
A licenciatura em Letras-Libras tem como principal meio de interação e ensino a língua de sinais. As disciplinas são ministradas diretamente em Libras. "Em alguns casos, em disciplinas em que contamos com professores ouvintes que não são fluentes, a gente conta com o apoio de intérpretes de Libras. Um exemplo são as disciplinas para os estudantes da Faculdade de Educação”, explica Michelle Murta.
O curso conta ainda com diferentes eixos formativos. "Há a formação para o português como segunda língua, a formação na literatura surda e outra em línguas de sinais, com estudos gramaticais. São diferentes eixos de ensino, mas o mais importante é o foco na formação de professores para o ensino de Libras", diz.
A licenciatura em Letras-Libras da UFMG prevê dois caminhos: o primeiro é a formação de professores para o ensino da Língua Brasileira de Sinais, em diferentes contextos e níveis de educação formal; o segundo é a oferta, a pessoas surdas, de um curso de formação superior em que a língua mediadora do processo de ensino-aprendizagem seja a Libras.
O curso forma, neste ano, sua primeira turma, que ingressou no segundo semestre de 2019. “Estamos caminhando agora para a diplomação da nossa primeira turma, que é um marco histórico muito importante para toda a comunidade surda de Minas Gerais”, comemora Michelle Murta.
Videocasts da Mostra Sua UFMG
Neste ano, a Mostra Sua UFMG adotou formato híbrido. Entre as atividades em ambiente digital, estão os videocasts, que vão ao ar às terças e quintas, às 11h, no canal da TV UFMG no YouTube, com versão em podcast para o Spotify. A série, que tem a proposta de apresentar os 91 cursos de graduação da UFMG, é desenvolvida por meio de parceria entre a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) e o Centro de Comunicação (Cedecom).
O episódio que abordou os cursos ofertados na Faculdade de Letras contou com a participação das professoras Michelle Murta, de Letras-Libras, e Leiná Jucá, representando as demais licenciaturas e bacharelados da Fale.
Responsável pela direção geral dos videocasts, a jornalista do Cedecom Olívia Resende explica que a concepção desse episódio exigiu uma adaptação que atendeu ao objetivo de tornar as produções do Cedecom cada vez mais acessíveis. “Sempre que vamos pensar um vídeo, a acessibilidade aparece como ponto de partida. Desde o fim de março, os videocasts produzidos por nós são acessíveis em Libras. Porém, até então, o trabalho do intérprete era feito de forma isolada. Ele ficava em um espaço separado e fazia a interpretação de toda a conversa para o público", conta.
A presença da professora Michelle Murta, que é surda, demandou a atuação de um intérprete. “A pessoa surda precisa de uma pessoa que interprete o que ela fala para as pessoas ouvintes e, ao mesmo tempo, de um intérprete que faça a voz dela no momento em que está falando no videocast”, explica Olívia Resende. O episódio também foi pensado para evitar que o intérprete do estúdio não aparecesse na tela ao mesmo tempo em que o intérprete do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da UFMG, que faz a interpretação da conversa para o público. “A gente evitou utilizar o plano geral, e a câmera buscou focar apenas em quem está falando no momento. Quando a professora Michelle está falando em Libras, a câmera permanece apenas nela, sem variar, e não há intérprete na tela, para não gerar confusão no espectador surdo”, explica.
Mediação
Olívia Resende destaca ainda a importância de a mediação da conversa ter sido feita por uma pessoa cega, o jornalista do Cedecom Gustavo Kinsky. "O Gustavo já havia sinalizado a intenção de mediar essa conversa, então nós juntamos, no cenário, duas deficiências, em princípio, incompatíveis. A Michelle precisa dos sinais para se comunicar, e o Gustavo depende do áudio. A comunicação entre os dois seria impossível sem mediação. Esse desafio fez toda a equipe pensar de forma conjunta em como fazer isso acontecer, e foi um processo de muito aprendizado para todos os que participaram da produção", narra.
"A gente aprendeu formas novas de como colocar um determinado tema em tela, não só do ponto de vista de como enquadrar melhor e possibilitar à pessoa transmitir melhor aquela informação, mas também no que se refere à forma de deixar a pessoa com deficiência mais à vontade, sabendo que a gente está preocupada com o bem-estar dela. Além disso, acredito que, ao assitir ao videocast, a pessoa surda que deseja entrar na Universidade para fazer o curso de Letras-Libras vai se sentir mais bem representada e acolhida. Seria estranha uma conversa sobre o curso de Letras-Libras em que a linguagem de sinais não estivesse em primeiro plano. Também sob esse ponto de vista, foi muito positiva a experiência", finaliza Olívia Resende.