Arte e Cultura

De Cassandra a Elza: 'Agenda feminista' homenageia mulheres que enfrentaram a ditadura

Iniciativa é do Projeto República, da UFMG, e da editora Bazar do Tempo

Agenda conta com fotos de mulheres durante a ditadura militar
Agenda conta com fotos de mulheres que resistiram à ditadura militar Foto: Reprodução

Uma agenda em que cada mês do ano de 2024 traz a história de uma mulher que atuou no enfrentamento à ditadura, na busca pela liberdade e em prol da mudança do curso da história do país. Essa é a proposta da Agenda feminista, fruto de parceria do Projeto República da UFMG com a editora Bazar do tempo.

A publicação lembra a resistência de 12 mulheres, que tiveram suas trajetórias contadas em textos inéditos escritos por igual número de autoras convidadas e ilustrações originais de Marin Rios. Cassandra Rios é lembrada no texto de Dri Azevedo; Cecília Coimbra, por Dulce Pandolfi; Diva Moreira, por Fernanda Miranda; Edna Roland, por Ynaê Lopes; Eliane Potiguara, por Márcia Kambeba; Elza Soares, por Zélia Duncan; Maria Laura Teixeira Lopes, por Tatiana Roque; Margarida Alves, por Marcela Ellian; Maria dos Santos Soares, por Renata Izaal; Thereza Santos, por Flavia Rios; Therezinha Zerbini, por Luiza Villaméa; e Zuzu Angel, por Virginia Siqueira Starling.

A Agenda feminista reúne ainda textos de Jaqueline Pitanguy e Branca Moreira Alves, autoras do livro Feminismo no Brasil – memórias de quem fez acontecer, uma série de frases inspiradoras distribuídas nos dias do ano, datas importantes para as lutas feministas e as datas de aniversário de mulheres importantes. Para a diretora editorial da Bazar do Tempo, Ana Cecilia Impellizieri, é importante ressaltar a participação das mulheres na resistência e combate ao golpe civil-militar de 1964 e à ditadura que se seguiu.

Ana Cecília: xxx
Ana Cecília: vidas impactadas pelo golpeFoto: Arquivo pessoal

“Neste ano, o golpe faz 60 anos, então buscamos relembrar as histórias e trajetórias de mulheres que foram impactadas pela censura, pela perseguição e pelo assassinato de seus parentes durante o regime militar. Queríamos mostrar que essas mulheres tiveram suas vidas impactadas pelo golpe de diversas maneiras. A Maria Lopes, por exemplo, foi cassada quando era professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Houve mulheres que perderam seus empregos, outras tiveram suas casas metralhadas ou o filho assassinado. Os homens sempre são lembrados, mas precisamos evocar essas mulheres quando falamos da ditadura”, diz.

A coordenadora do Projeto República e professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, Heloísa Starling, ressaltou, em entrevista concedida à TV UFMG, a importância do papel das mulheres na política, mesmo que, em vários momentos da história do Brasil, tenha sido negado a elas o direito de participar da vida pública. “A fronteira mais proibida para a mulher é a da política. Então é muito bacana quando as mulheres rompem essa fronteira e vão para a cena pública, como ocorreu na época do golpe militar. 

A Agenda feminista está disponível no site da editora Bazar do Tempo e em marketplaces on-line. A editora planeja, ainda este ano, lançar um Planner Feminista.

Tirar as mulheres do esquecimento
Na última segunda-feira, 4, as cantoras Zélia Duncan e Ana Costa fizeram um show na UFMG para homenagear a atuação pública de sete mulheres no processo de independência do país. O show é inspirado no livro Independência do Brasil: as mulheres que estavam lá, também uma parceria do Projeto República com a editora Bazar do Tempo. O livro destaca sete mulheres que desafiaram as normas sociais e as políticas de sua época.

“Em todos os nossos projetos, nossa intenção sempre é tirar as mulheres do esquecimento, pois elas geralmente têm as suas histórias apagadas. É importante apresentar as mulheres que marcaram a nossa história para as gerações que não viveram a ditadura. Elas têm dificuldade para entender a censura, o autoritarismo, a perseguição e a repressão. Nossa democracia está sempre correndo risco, então a memória pode nos ajudar a protegê-la”, diz Ana Cecília.

Projeto República
Criado em 2001, o Projeto República: núcleo de pesquisa, documentação e memória é vinculado ao Departamento de História da UFMG e é coordenado pela professora Heloísa Starling. O Projeto tem como foco principal refletir sobre o período histórico republicano brasileiro, o percurso da história das ideias e dos conceitos no Brasil e o estudo da temática do republicanismo. 

A produção de conhecimento gerada pelo Projeto está ancorada em duas frentes de investigação. A primeira concentra a pesquisa direcionada na construção de um campo historiográfico interessado em desenvolver e estimular a incorporação de tecnologias interativas, sustentadas por linguagens estéticas e artísticas e em veículos materiais de mídia. A segunda é voltada tanto para o estudo de temporalidades recentes, com ênfase no período que compreende o experimento republicano brasileiro, quanto na investigação e análise de determinados temas próprios do republicanismo, como o estudo das condições históricas de esvaziamento da esfera pública e a constituição das formas políticas de repressão e autoritarismo.

Luana Macieira