Arte e Cultura

Zélia Duncan e Ana Costa dão aula de história em show que lotou o auditório da Reitoria

Sete canções interpretadas pela dupla são inspiradas nas mulheres retratadas no livro 'Independência do Brasil: as mulheres que estavam lá'

Zélia Duncan (em primeiro plano, à esquerda), Ana Costa e banda homenagearam as mulheres que lutaram pela independência
Zélia Duncan (em primeiro plano, à esquerda), Ana Costa e banda homenagearam as mulheres que lutaram pela independência Foto: Foca Lisboa | UFMG

Em um auditório da Reitoria lotado, Zélia Duncan e Ana Costa deram suas boas-vindas aos calouros da UFMG em show na tarde dessa segunda-feira, dia 4, que mostrou um lado ainda pouco conhecido da história do Brasil: a atuação pública de sete mulheres no processo de independência do país.

Antes da apresentação, Zélia relatou os "perrengues" que ela, Ana e a sua banda – formada por Gisele Sorriso, Jessica Zarpey e Geiza Carvalho – enfrentaram para chegar ao campus Pampulha. "Hoje o dia começou bem cedo lá no Rio. A gente foi para o aeroporto pegar o avião, e o voo foi cancelado. Esperamos e embarcamos. Quando chegamos aqui, já estava em cima da hora. E a gente preocupada porque o aeroporto não é muito perto daqui. Demoramos a sair, e a gente já estava ansiosa. Os instrumentos demoraram um pouco para chegar. Aí a Jéssica, uma das grandes musicistas que vão tocar hoje, disse, em sua juventude e talento: 'Vai dar tudo certo.' Entramos no carro, que começou a falhar. Mas então pensei: 'Se para a gente está difícil, imagina para Hipólita Jacinto, Maria Felipa, Urânia, Ana Lins e Leopoldina…' Aí eu falei: 'Vai dar tudo certo'." 

Os nomes mencionados por Zélia, somados aos de Maria Quitéria e Bárbara de Alencar, são das sete mulheres que desempenharam papel crucial no processo de Independência do Brasil e que inspiraram as sete canções interpretadas pela fluminense e sua parceira, Ana Costa. As músicas são inspiradas no livro Independência do Brasil: as mulheres que estavam lá (Bazar do Tempo, 2023), organizado pela professora Heloísa Starling, do Departamento de História da UFMG, e pela escritora Antonia Pellegrino.

'Se possível, lembrem de nós'
"O lugar da política é o mais difícil para a mulher até hoje. Imaginem, na primeira metade do século 19, essas mulheres indo para a cena pública, lutando por aquilo em que elas acreditavam e sofrendo a repressão destinada a elas, que é o esquecimento. O esquecimento é pior que a morte, porque na morte você leva a saudade. No esquecimento, você apaga a pessoa", observou a professora Heloísa, que também imaginou um recado transmitido por essas mulheres ao longo do tempo: "Se possível, aprendam, lembrem de nós e ajam. Conhecendo a história dessas mulheres, fica mais fácil defendermos a democracia no Brasil e lutar pela liberdade."

A parceria entre as artistas e a Universidade também foi enfatizada por Heloísa em entrevista à TV UFMG, que está disponível ao final deste texto. "Fizemos juntas um trabalho de pesquisa, e aí eu achei muito lindo a Zélia e a Ana Costa falarem: 'Bom, Heloísa, agora a gente tem que devolver para a UFMG o que a UFMG nos ensinou.' Então, elas estão aqui para agradecer à UFMG por essa parceria", contou a professora, que é coordenadora do Projeto República. Seu foco de pesquisa é o período histórico republicano brasileiro, o percurso da história das ideias e dos conceitos no país e o estudo da temática do republicanismo.

Da resistência armada ao ativismo político
O livro Independência do Brasil: as mulheres que estavam lá destaca sete mulheres que desafiaram as normas sociais e as políticas de sua época para participar ativamente da história do Brasil, especialmente durante o período da Independência. Desde Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que convocou a resistência armada na Conjuração Mineira, até Ana Maria José Lins, que liderou uma luta armada em Alagoas, essas mulheres exerceram diversos papéis nos âmbitos militar, do ativismo político e do engajamento no debate público.

O início das atividades do primeiro período letivo na UFMG teve como destaque a conferência do professor Felipe Nunes, do Departamento de Ciência Política, sobre a polarização e 'calcificação' política no país

Show de Zélia Duncan e Ana Costa 4/3/2024

Beatriz Tito Borges