'Educação, ciência e tecnologia são a grande agenda do momento', defende Clélio Campolina

Conferência fez parte do ciclo de Atividades Acadêmicas Complementares

Educação, ciência e tecnologia são as bases para a inovação econômica e social, defendeu o economista e professor emérito da UFMG Clélio Campolina, durante a conferência Crise global, mudanças geopolíticas e perspectiva do desenvolvimento periférico, que abriu, no Auditório Nobre do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD 1), o ciclo de Atividades Acadêmicas Complementares que serão realizadas ao longo do semestre.

Campolina no CAD1: burocracia e infraestrutura são desafios dos emergentes
Campolina no CAD1: burocracia e infraestrutura são desafios dos emergentes Foca Lisboa / UFMG

A atividade contou com a presença da vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida [foto], que destacou a importância dessa série de atividades aprovadas pelo Conselho Universitário com o objetivo de complementar a formação dos estudantes dos cursos do turno noturno na Universidade. “Acreditamos que nossos alunos devem viver a UFMG, e, para isso, participar das atividades que a Universidade oferece é fundamental”, afirmou.

Durante cerca de uma hora, Campolina, que segue como professor na pós-graduação no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar), falou acerca das estruturas do poder mundial, das crises do socialismo e do capitalismo, da ascensão dos países emergentes e de mudanças geopolíticas, além da influência das mudanças tecnológicas e seus impactos no desenvolvimento.

Periferia mundial

Campolina defendeu a importância de olhar como os países periféricos – de América Latina e Ásia – se inserem nos fundamentos da geopolítica mundial e o papel dos territórios na constituição do poder. “A busca por poder e a conquista de territórios não podem ser separados”, lembrou.

Segundo o professor, foi a busca por poder que deu origem aos dois blocos econômicos no período pós-Segunda Guerra. “A reestruturação do sistema capitalista e sua expansão e a estruturação do sistema socialista impulsionaram a Guerra Fria”, destacou.
Crises dos sistemas

Ainda acerca dos sistemas, Campolina afirmou que a ineficiência produtiva, aliada à falta de liberdade e à incapacidade de gestão, foi fundamental para a crise do socialismo. Por outro lado, a crise do capitalismo foi ocasionada por forte desindustrialização das economias dos países centrais, como os membros da União Europeia.
“Costumo dizer que o maior feito da União Europeia foi manter a paz em um continente bastante marcado por guerras e que agora vive uma grande crise social e humanitária com a questão dos refugiados. A Europa colonizou o mundo, e agora todos querem ir para lá”, afirmou.

Ascensão dos países emergentes

Atualmente, segundo o professor emérito da UFMG, Estados Unidos, União Europeia e Japão ainda ocupam lugar de destaque quando se verificam dados do Produto Interno Bruto (PIB), mas têm perdido força diante do crescimento do mundo asiático, com destaque para o papel da China na economia mundial. “Hoje, a grande disputa no tabuleiro mundial é entre Estados Unidos e China, e não há mais uma única liderança clara constituída”, frisou.

Em relação aos blocos, o Brics – composto de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – tem perdido força diante da expansão do Ticks – formado por Taiwan, Índia, China, Coréia do Sul e Singapura. “Enquanto a expansão econômica do primeiro foi marcada pela exportação de matérias-primas, os países do segundo grupo têm investido fortemente na modernização tecnológica”, distinguiu Campolina.

Vantagens e desafios da periferia

Segundo Campolina, os países da Ásia e da América Latina, entre os quais o Brasil, conjugam vantagens e desafios em relação ao crescimento econômico. Entre as vantagens, o professor destacou as áreas geográficas extensas, a disponibilidade de recursos naturais, as populações vastas que formam grandes mercados consumidores, o multiculturalismo, a uniformidade linguística que facilita a comunicação dentro dos próprios países e os menores níveis de conflito internacional.

Por outro lado, há desafios que precisam ser encarados, como os entraves burocráticos, a desigualdade social, a deficiência de infraestrutura, a corrupção endêmica, a baixa integração entre os setores produtores de ciência e as empresas produtoras de bens e serviços, além da baixa escolaridade fundamental.

Campolina falou sobre a importância de olhar como os países periféricos
Campolina falou sobre a importância de olhar como os países periféricos Foca Lisboa / UFMG

Educação, ciência e tecnologia

No encerramento, Campolina reforçou a importância do investimento na educação básica para o desenvolvimento econômico e social. Para o professor, a ciência é a base para a produção de tecnologia e inovação, sendo necessário construir pontes entre a pesquisa e as empresas que enxergam seu fim social.

O economista também teceu críticas ao chamado gnosticismo científico e tecnológico. “A ciência e a tecnologia precisam estar a serviço da humanidade e não a favor da destruição. Pesquisas podem gerar vacinas contra doenças e também podem construir armas usadas em guerras. Como controlar esse avanço científico e tecnológico é um desafio”, afirmou.

Clélio Campolina
Clélio Campolina Foca Lisboa / UFMG
Trajetória

Economista e professor emérito da UFMG, Clélio Campolina Diniz [foto] é autor de obras de referência sobre economia regional, desenvolvimento econômico, economia da tecnologia, economia brasileira e economia de Minas Gerais. Atuou como pesquisador e professor visitante das universidades de Oxford, Rutgers, Roma, Sevilla e Jean Monet. Reitor da UFMG na gestão 2010-2014, Campolina também foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Grandes conferências

O evento integra as Atividades Acadêmicas Complementares, ofertadas pela UFMG. Em quatro datas a cada semestre, as aulas regulares serão substituídas por grandes conferências proferidas por docentes da UFMG e outras personalidades de destaque. Para acompanhar as Atividades Acadêmicas Complementares, os estudantes devem seinscrever por meio do sistema MinhaUFMG.
A próxima atividade da série será no dia 29 de março, também no CAD 1, às 19h, com o pesquisador Bruno Sena Martins, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal), onde é vice-presidente do Conselho Científico. Ele fará a palestra Corpo e racismo: do colonialismo à descolonização do humano.
Leia mais sobre as atividades de formação complementar em reportagem do Boletim UFMG.