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Fim do auxílio emergencial ameaça grupos vulneráveis em meio ao crescimento da pandemia

Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, Débora Freire, da Face, afirma que retirada do benefício ocorre no momento em que a economia continua desaquecida

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Auxílio emergencial era pago pela Caixa Econômica Federal⠀⠀ Leonardo Sá | Agência Senado | Fotos Públicas | CC BY-NC 2.0

Na última semana de 2020, a Caixa Econômica Federal disponibilizou a última parcela do auxílio emergencial para os trabalhadores informais e outros brasileiros vulneráveis que ficaram sem renda durante a pandemia de covid-19. Também nos últimos dias do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro, de férias no litoral paulista, anunciou que o benefício não será mantido em 2021. 

O problema é que a pandemia está longe do fim. Diversas cidades registram aumento nos números de casos, internações e mortes. O cenário, portanto, pede novas restrições, fechamentos e lockdowns.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em cerca de 6,6 milhões de lares, a renda per capita em agosto de 2020 era de R$ R$ 2,47 sem o auxílio emergencial. Com o auxílio, essa renda saltava para R$ 349,48, uma alta de 2.703%. Por isso, o fim do auxílio emergencial traz impactos imediatos, como afirma a professora Débora Freire, da Faculdade de Ciências Econômicas e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG. "O primeiro impacto é social e de aumento da vulnerabilidade das famílias. O auxílio está sendo retirado em um momento em que a economia e o mercado de trabalho ainda não estão aquecidos para absorver essas pessoas", explica. 

"Isso vai aumentar a taxa de pobreza e de extrema pobreza do país e a desigualdade. Com o auxílio emergencial em 2020, vimos uma queda na taxa de pobreza nunca vista antes justamente porque foi um auxílio robusto", destaca Débora Freire. A professora salienta ainda que o nível de pobreza já era alto desde a crise econômica de 2015. Com a pandemia, esses índices tendem a crescer ainda mais. 

Do ponto de vista econômico, as famílias vão perder capacidade de compra. "O consumo vai cair, e, consequentemente, também a produção, a geração de renda e o recolhimento de impostos. Haverá impacto social e econômico", comenta Débora Freire. 

Parlamento
A atuação do Congresso Nacional na articulação de propostas para manter o auxílio vem sendo fundamental desde o início da pandemia. Dois projetos de lei estão tramitando na casa: o 5.492/20, de autoria dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Esperidião Amin (Progressistas-SC), pretende estender o decreto de Estado de Calamidade e oferecer um auxílio de R$ 300 até março; o PL 5.494/20, dos senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Paulo Rocha (PT-PA), propõe que o valor de R$ 600 seja pago durante todo o primeiro semestre de 2021. 

"Toda a movimentação do auxílio emergencial no ano passado veio do Congresso, que tem exercido papel primordial. É importante que ele se mantenha ativo e tome frente das questões em relação à pandemia e à economia porque o governo federal tem-se mostrado muito errático nessa condução. Tanto do ponto de vista sanitário quanto da economia", defende Débora Freire. 

Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, a professora falou sobre os cenários de curto, médio e longo prazo e sobre as diversas implicações possíveis do fim do auxílio emergencial para a sociedade brasileira. 

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção: Hugo Rafael
Publicação: Jaiane Souza