Ensino

'Há pouca colaboração no campo da divulgação científica ', afirma Luisa Massarani

Jornalista que coordenou mapeamento na América Latina ministra aula inaugural da formação transversal ofertada pela UFMG

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Luisa Massarani: pesquisa dispersaDivulgação

O panorama da divulgação científica na América Latina, mapeado recentemente pela jornalista Luisa Massarani, durante sua gestão na Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPOP), será abordado na aula inaugural da Formação Transversal em Divulgação Científica da UFMG.

A atividade, que será realizada nesta quarta-feira, 14, às 19h, no Auditório 2 da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), poderá ser acompanhada em tempo real por meio deste link.

Luisa coordena o INCT em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e o mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em entrevista, ela fala sobre o impacto dos cortes de recursos para ciência e tecnologia impostos pelo governo federal, sugere que o segmento de divulgação científica precisa se profissionalizar no Brasil e acredita que iniciativas como a oferta da formação transversal em divulgação científica podem ajudar a consolidar uma cultura científica no país.

Qual a importância do ensino da divulgação científica na universidade, tendo em vista que a formação transversal é oferecida a alunos de todos os cursos de graduação?
Luisa - A necessidade de ofertar disciplinas de divulgação científica na universidade tem sido defendida em todo o mundo, como um passo para se fazer a diferença. A expectativa é que esse tipo de iniciativa possibilite que profissionais da divulgação científica e de outras carreiras (cientistas, artistas e comunicadores) se capacitem e contribuam para a formação de uma geração capaz de consolidar uma cultura científica em nosso país.

Explique em linhas gerais o mapeamento da divulgação científica na América Latina sob sua coordenação. 
Luisa - O estudo foi realizado em três frentes. A primeira buscou compreender as características gerais de organizações que realizam atividades de divulgação científica na América Latina e os desafios que encontram. Uma enquete online foi respondida por 123 instituições de 14 países. Com base no estudo, pudemos mapear algumas tendências importantes. Um exemplo: grande parte das ações é realizada por voluntários, em atividades não remuneradas ou mal remuneradas. O segundo estudo focou o campo acadêmico da divulgação científica na América Latina. Analisamos 609 artigos acadêmicos publicados em 80 revistas cientificas e observamos que a pesquisa no campo, ainda de caráter jovem – cerca de 30 anos –, tem crescido muito. Mas a produção está dispersa, com pouca visibilidade e muitos desafios metodológicos. [O livro está disponível neste link.]

Por fim, realizamos um mapeamento da acessibilidade em museus de ciência na América Latina, que resultou em um guia para a região, que conta com 110 espaços científico-culturais de dez países da América Latina. A iniciativa foi do Grupo Museus e Centros de Ciências Acessíveis (MCCAC), da Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj), da RedPOP e de outros parceiros. [Leia aqui.]

Qual a participação do jornalismo científico nesse contexto?
Luisa - A C&T tem presença em meios de comunicação de massa, embora em níveis e qualidades distintos. Estudos sobre a percepção dos brasileiros mostram que esses veículos são uma das principais fontes de informação. Mas é importante lembrar que eles estão bastante fragilizados no que se refere à parcialidade política, o que põe em xeque sua credibilidade.

Qual foi o impacto dos cortes federais dos recursos para ciência e tecnologia?
Luisa - Por cerca de uma década, o Brasil aportou recursos nas atividades de divulgação científica, e um marco importante foi a criação do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e da Tecnologia, no âmbito do MCTI. No entanto, tudo mudou. O antigo Ministério da Ciência perdeu seu status de "ministério" assim que a presidente Dilma Rousseff foi deposta. Desde então, o orçamento para C&T tem sido dramaticamente reduzido, e o setor está sendo destroçado.

Quais são os desafios globais da divulgação científica e como a América Latina se insere nesse contexto?
Luisa - O campo precisa se fortalecer e se profissionalizar. Há uma demanda crescente por capacitação tanto para a prática como para a pesquisa.

Como funcionam as parcerias na América Latina para proporcionar visibilidade às ações dos diversos grupos?
Luisa -  Uma das conclusões de nosso estudo sobre a divulgação científica na América Latina é justamente esta: colaboramos muito pouco. As parcerias, quando se dão, ocorrem com Europa e Estados Unidos. É urgente colaborarmos mais, para nos fortalecermos, já que temos desafios semelhantes.

Bárbara Gonçalves / Assessoria de Comunicação da Proex