Institucional

Jornalista português chama ataques de 'fascismo com pezinhos de lã'

Cresce uma inquietação no mundo universitário brasileiro pelo ataque conjugado às universidades públicas, num cenário que configura aquele tipo de práticas próprias de poderes autoritários de cariz fascizante. 

Está, neste caso, a invasão do espaço universitário pela Polícia Federal. Com o pretexto de ir buscar sob "condução coercitiva" reitores, vice-reitores ou professores para prestarem declarações - como se eles não fossem pelo seu próprio pé! -  em investigações que parece terem o nebuloso objectivo de humilhar prestigiados académicos. Esta realidade é paralela à intolerância desencadeada no campus, como tem acontecido em S. Paulo, por grupos da extrema direita.

Um dia destes foi a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), uma das mais prestigiadas da América Latina, a ser palco de acontecimentos deste tipo, por via de dúvidas sobre os recursos destinados à construção do Memorial da Anistia Política. 

Ouvia as descrições destes ataques ao coração da sede do conhecimento, que faz tábua rasa de sagrados princípios de autonomia, os sublinhados sobre a desproporcionada invasão policial, e não pude deixar de lembrar-me dos tempos ominosos da ditadura, da crise de 69, quando, em Coimbra, se fazia humor sobre a opressão. Até havia uma anedota sobre a presença da polícia na universidade.

- Sabes qual é a polícia mais culta do mundo? - perguntava um tipo.

- Não... - respondia o outro.
- É a portuguesa. Os polícias, quando se levantam, avisam logo as mulheres: "prepara-me o pequeno-almoço, que tenho de ir para a universidade!"

Voltando a esta escalada contra a Academia, a perigosa tendência para a judicialização indiscriminada, o recurso à humilhação de pessoas de bem, deve dizer-se que se arrasta há algum tempo. Recorde-se o que aconteceu recentemente com o Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que, detido e humilhado, depois liberto por estar inocente, não suportou a proibição de ir à sua universidade e se suicidou.

Pensei que este caso dramático levasse as estruturas judiciárias a repensar as implicações do seu modus faciendi. Vejo que o problema se agravou. Os ataques à Universidade são um sinal daquele fascismo com pezinhos de lã que subtilmente se vai instalando na sociedade para semear medos e arbitrariedades.

Fernando Paulouro Neves é titular do blog Notícias do Bloqueio. Foi chefe de redação e diretor do Jornal do Fundão, de Portugal