Mais poesia, menos remédio: arte de rua e hip hop são aliados da saúde do jovem
Pesquisa da Faculdade de Medicina revela que a cultura produzida nas periferias abre espaço para os adolescentes se expressarem e construírem identidades e laços sociais
“O que te inquieta: ver menores de idade na cadeia ou ver menor virando poeta?” Essa pergunta dá título a um trabalho acadêmico, mas seu alcance vai muito além disso. Ela resume a linha de investigação do estudo feito pela pesquisadora Juliana Assunção em sua dissertação defendida no Programa de Pós-graduação em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG.
Juliana analisou a relevância da arte de rua e da cultura hip hop para adolescentes e jovens de Belo Horizonte, que acabam sendo silenciados pela colonialidade, pelo racismo e pela segregação, tornando-os menos ouvidos socialmente. “É importante salientar ainda que esse tema foi pensado e construído com base na escuta das juventudes e na pluralidade de adolescentes, ou seja, a pesquisa tem é estruturada sobre o saber dos adolescentes e jovens”, complementa a pesquisadora.
Prevenção do adoecimento
Quando se trata de saúde, sobretudo a saúde mental, a arte pode ser um dos recursos para o cuidado e para a prevenção do adoecimento, principalmente entre jovens e adolescentes, que são impactados diariamente por violências sociais. Juliana dá como exemplo o caso de um adolescente que acompanhou durante sua pesquisa: ele teve todo seu percurso modificado pela arte, inclusive sua relação com a saúde.
“Esse adolescente tomava tantos medicamentos que, muitas vezes, não conseguia falar. Chegou a ser considerado um jovem agressivo por alguns profissionais da rede. Com o tempo, durante os atendimentos, ele foi conseguindo se expressar por meio da rima, do hip hop e da poesia. Tinha como inspiração o Duelo de MCs e as batalhas de poesias faladas”, conta.
A pesquisadora destaca que proporcionar a esse adolescente um espaço de escuta e de produção de arte foi essencial para que ele pudesse se expressar melhor. Aos poucos, a medicação foi diminuindo e dando lugar à poesia.
A íntegra da reportagem sobre a dissertação de Juliana Assunção pode ser lida no Portal da Faculdade de Medicina.