Pesquisa e Inovação

Medicina e HC vão testar anticorpos monoclonais no tratamento da covid-19

Usadas em caráter experimental nos EUA, proteínas impedem a ligação do Sars-CoV-2 com as células do organismo

Vírus Sars-Cov2, causador da covid-19
Vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19 Pixabay

Vários estudos tentam encontrar um medicamento eficaz para combater o novo coronavírus. Dois desses estudos estão sendo realizados na UFMG e utilizam anticorpos monoclonais (mAbs), produzidos em laboratório e introduzidos no organismo por meio de injeção ou infusão, com o objetivo de ajudá-lo a combater o vírus e bactérias específicos. Esses anticorpos já são largamente usados na medicina em pacientes com câncer e outras doenças inflamatórias. No caso do tratamento da covid-19, seu uso já foi aprovado de forma emergencial nos Estados Unidos, onde está sendo administrado em pacientes com infecção leve ou moderada.

O estudo internacional Accelerating covid-19 therapeutic interventions and Vaccines (Activ-2) ocorre paralelamente na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh. Trata-se de plataforma de tratamento para pacientes ambulatoriais com covid-19 coordenada pela National Institutes of Health (NIH), que utiliza anticorpos de pessoas que tiveram a infecção pelo coronavírus. Além da UFMG, a pesquisa envolve centros nos EUA, na Argentina, no Peru, na África do Sul e em outras cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Aderência
Os anticorpos monoclonais bloqueiam a ligação do Sars-CoV-2 com as células do organismo. No laboratório, as proteínas passam por processos de purificação e expansão e, quando aplicados no organismo, conseguem aderir à espícula da superfície do vírus que causa a infecção. Assim, eles impedem que o vírus entre nas células e as infecte.

O tratamento com os anticorpos monoclonais é importante principalmente para pessoas com comorbidades e risco aumentado de evoluir para formas graves da covid-19, visto que pode prevenir o aparecimento da doença e a sua progressão. De acordo com o imunologista Jorge Andrade Pinto, líder da equipe que conduz o estudo na Faculdade de Medicina, os testes com os anticorpos são seguros, uma vez que a tecnologia atual possibilita que sejam produzidos por meio da cultura de tecidos ou de sistemas de expressão microbiana. “A potencial toxicidade de mAbs humanizados é comparável à dos antibióticos”, diz.

O professor acrescenta que é necessário demonstrar que os mAbs são seguros e eficazes para o tratamento de pacientes de alto risco não hospitalizados. “É importante que haja tratamentos efetivos e cientificamente comprovados e que possam ser utilizados nas fases iniciais da covid-19, prevenindo a progressão da doença para formas graves e a necessidade de tratamento hospitalar”, diz.

A infectologista Flávia Ribeiro, que coordena o estudo no Centro de Pesquisas do HC-UFMG/Ebserh, ressalta a importância de as pessoas participarem dos testes do tratamento. “Integrar essa rede de pesquisa gera para o HC a possibilidade de contribuir ainda mais com o combate à pandemia. Para isso, é necessário que a população se mobilize. A participação do cidadão é fundamental."

Em dose única
A Faculdade de Medicina e o HC já recrutaram os voluntários para os testes sobre evolução clínica com o tratamento, transmissão para os contatos e tempo de duração para a excreção do vírus. Nessa primeira fase, os voluntários serão submetidos ao tratamento com os mAbs BRII-196 e BRII-198 produzidos pela Brii Bioscience. Os anticorpos serão aplicados em dose única, por infusão venosa (por meio de uma agulha ou de um cateter esterilizado). 

A expectativa é que mais voluntários sejam convocados para testar novos medicamentos da plataforma Accelerating covid-19 therapeutic interventions and vaccines (Activ-2).

Com assessorias de comunicação da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicass