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‘Outra estação’ discute gargalos do ensino médio no Brasil

Programa da Rádio UFMG Educativa, que ouviu especialistas da área de educação e estudantes, também analisa a reforma que entra em vigor no próximo ano

Moradora de zona rural, Gabriela Dias enfrentou dificuldades para estudar remotamente durante a pandemia
Moradora da zona rural, Gabriela Dias enfrentou dificuldades para participar das aulas remotas durante a pandemia Acervo pessoal

Infraestrutura precária, déficit de professores, dificuldade de manter os estudantes na escola. Os problemas no ensino médio brasileiro são históricos e atravessam gerações. Na falta de uma política de Estado, governo federal e governos estaduais volta e meia apresentam reformas ou novos programas que prometem resolver esses gargalos. A mais recente delas, a reforma que implementa o chamado Novo Ensino Médio, foi proposta em 2016, durante a gestão de Michel Temer. Ela entra em vigor no próximo ano e chega com muitas promessas alimentadas por campanhas institucionais veiculadas na TV de um ensino mais alinhado à realidade dos estudantes. Mas será que essas promessas serão cumpridas?

Para analisar os gargalos dessa etapa de ensino no Brasil e a nova reforma, a Rádio UFMG Educativa conversou com estudantes e com os professores da Faculdade de Educação da UFMG Francisco Soares, Eduardo Mortimer e Juliana Batista dos Reis.


Abismo entre ricos e pobres

Francisco Soares: ensino médio é pouco atrativo para os jovens
Francisco Soares: ensino médio é pouco atrativo para os jovens Acervo pessoal

Na última edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgada em 2019, o ensino médio alcançou a nota 4,2 na média das escolas públicas e privadas. O número ficou abaixo da meta para o ano, que era de 5. E mais longe ainda do objetivo proposto para 2022, que era de alcançar o índice 6, patamar que significaria uma qualidade de ensino equivalente à de países desenvolvidos. 

Divulgado a cada dois anos, o Ideb é o principal indicador de qualidade da educação básica no Brasil e leva em conta a aprovação dos alunos e o aprendizado em português e matemática. Ele também mostra como as desigualdades socioeconômicas se refletem na qualidade do ensino no Brasil. Considerando apenas as escolas privadas, a nota foi 6,0; na rede pública, o índice foi de apenas 3,9. 

As desigualdades socioeconômicas também ficam evidentes nos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ano após ano, estudantes de colégios particulares – especialmente aqueles considerados de elite – e de instituições de ensino federais – com processos seletivos excludentes – têm, em geral, desempenho muito acima daqueles que estudam em escolas públicas. Embora seja preciso adotar certo cuidado com resultados de avaliações, uma vez que têm limitações, elas fornecem um norte sobre a qualidade do ensino e as múltiplas camadas de exclusão perpetuadas pelo sistema educacional no Brasil. 

No primeiro bloco do programa, os professores da Faculdade de Educação da UFMG explicam quais são os principais problemas do ensino médio no Brasil, como a infraestrutura precária em boa parte das escolas e o déficit de professores. Eles também analisam como a pandemia e o ensino remoto contribuem para aumentar ainda mais o abismo entre ricos e pobres no país.

Novo ensino médio

A estudante Marina Carletto considera que é importante
Marina Carletto considera que é importante "estudar de tudo um pouco" Arquivo pessoal

O foco do segundo bloco do programa é a discussão sobre o Novo Ensino Médio, que entra em vigor no 1º ano desse segmento em escolas públicas e privadas em 2022 com a promessa de flexibilizar o currículo e dar mais opções de escolha para os jovens. Segundo o Ministério da Educação, nenhuma matéria vai deixar de ser ensinada, mas as disciplinas passam a ser organizadas por áreas do conhecimento, seguindo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é o documento que define os currículos e as propostas pedagógicas para a educação básica. Com isso, cinco itinerários formativos serão potencialmente ofertados aos alunos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional. 

O Novo Ensino Médio também prevê a oferta do chamado Projeto de vida, um espaço para que os alunos trabalhem em conjunto com os professores na reflexão sobre os caminhos que vão seguir ao longo do período e também na vida profissional, e amplia a carga horária mínima de 2,4 mil para 3 mil horas. Nessa parte do programa, especialistas discutem as vantagens e desvantagens dessa proposta e até que ponto ela resolve ou não os gargalos do ensino médio no Brasil. Outra questão abordada é a mudança que deve ocorrer no Enem com a implementação da reforma.

Para saber mais
Página do Ministério da Educação sobre o Novo Ensino Médio
Site do Observatório da Juventude da UFMG
Podcast do Ministério da Educação sobre o Novo Ensino Médio
Resultados da Pnad Contínua do IBGE sobre acesso à internet no Brasil
Resultados da Pnad Contínua do IBGE sobre a educação no Brasil
Estudo da Fundação Getúlio Vargas sobre o tempo para a escola na pandemia
Entenda a tramitação de uma Medida Provisória
Portal do Conselho Nacional de Secretários de Educação traz um mapa da implementação do Novo Ensino Médio no Brasil
Efeitos do rendimento escolar, da infraestrutura e da prática docente na qualidade do ensino médio no Brasil (estudo publicado por professores da UFMG)

Produção
O episódio 80 do Outra estação foi apresentado por Igor Costa, que fez também a produção, juntamente com Paula Alkmim, coordenadora de jornalismo da UFMG Educativa. A coordenação de operações é de Judson Porto, e a de programação, de Luíza Glória.

O programa vai ao ar quinzenalmente, às quintas-feiras, às 18h, com reprise às sextas, às 7h. Também é possível ouvir os episódios nos aplicativos de podcast, como o Spotify.