Pandemia provoca cancelamento de pesquisas na Antártica no verão 2020-2021
UFMG mantém três linhas de estudos no continente; atividades remotas estão mantidas
![Marinha do Brasil Nova Estação Comandante Ferraz na Antártica](https://ufmg.br/thumbor/XGu_r_RsOAUxEG-S_FsCx2kBbr4=/0x0:1608x1072/712x474/https://ufmg.br/storage/d/0/c/e/d0ce35ec282e4003d1869777a891ed65_1579093020332_363005436.jpg)
Todas as pesquisas de campo programadas pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar) na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), base brasileira localizada na ilha de Rei George, na Antártica, para o verão de 2020-2021, foram canceladas. O motivo é a pandemia do vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.
A decisão foi tomada devido ao risco para a saúde dos pesquisadores e do pessoal de apoio, à inviabilidade de se realizar as quarentenas médicas necessárias nos deslocamentos de ida e volta e para evitar a transmissão do coronavírus para espécies da fauna antártica. O continente é o único ainda sem registros da doença.
A decisão tomada pelo Programa Antártico Brasileiro se alinha às dos principais programas antárticos nacionais do mundo – como os da Austrália, dos Estados Unidos, da Nova Zelândia e do Reino Unido –, que já anunciaram o cancelamento da maior parte ou de todas as expedições científicas programadas para o verão 2020-2021.
Os estudos laboratoriais realizados a distância (por satélites, modelos, reuniões científicas on-line etc.) seguem normalmente. A previsão é que os trabalhos presenciais retornem no verão de 2021-2022, “quando, então, os pesquisadores esperam que a pandemia tenha passado e/ou uma vacina efetiva esteja disponível”, informa em comunicado o INCT da Criosfera, sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
![Luiz Rosa / UFMG Pinguim que tem a Antártica como habitat](https://ufmg.br/thumbor/Jf7EP7KGKfR2Ii5w2XkqeilxkD0=/0x0:3669x5631/352x540/https://ufmg.br/storage/1/4/f/9/14f9743a232a511fd2c88852880f6d1e_15125072281666_1296591930.jpg)
A opinião dos pesquisadores da UFMG
"Como biólogo e microbiologista, reforço minha grande preocupação com a questão sanitária referente à covid-19”, diz o professor Luiz Henrique Rosa, do Departamento de Microbiologia do ICB, que desenvolve pesquisas no continente e colaborou com a montagem e a instalação dos equipamentos da nova estação, inaugurada no início deste ano.
Com 14 anos de atuação no Proantar e participação em 12 operações no continente, Luiz Rosa destaca o acerto da decisão, se consideradas todas as variáveis envolvidas, como a impossibilidade de acesso a UTIs e as alterações que o clima no continente provoca na resposta imunológica humana.
“Vale ressaltar que, caso algum pesquisador ou militar sofresse com os efeitos danosos da covid-19 nos navios ou na Estação Antártica, seria muito difícil transportá-lo com segurança para o Chile ou para o Brasil para um tratamento adequado, considerando que, nos navios e na Estação Antártica, não há ventiladores mecânicos e centros de tratamento intensivos", registra.
A médica Rosa Maria Esteves Arantes, professora do Departamento de Patologia do ICB, que participa de trabalhos no continente, sustenta que, para garantir a segurança da equipe que passou o último inverno (2019) na Estação Comandante Ferraz e a continuidade da operação, será preciso planejar uma logística operacional específica para a troca das equipes no fim deste ano. “Precisaremos de protocolos robustos de pré-triagem, testes e medidas rigorosas de isolamento da equipe que fará o lançamento dos navios e cargas e do grupo de militares que partirá do Brasil no início do verão austral (outubro/novembro) e substituirá o grupo que lá se encontra isolado desde março deste ano”, lembra.
Reinauguração
Com forte participação da UFMG, a Estação Antártica Comandante Ferraz foi reinaugurada em janeiro deste ano. Ela havia sido destruída por um incêndio no início de 2012. A Universidade mantém três linhas de pesquisas no âmbito do Proantar.
O projeto Mycoantar desenvolve estudos sobre a diversidade de fungos presentes no continente, com o objetivo de avaliar a possibilidade de catalogá-los e utilizá-los como fonte de antibióticos para uso na medicina. Esse projeto é liderado por Luiz Rosa.
O Mediantar, por sua vez, reúne investigações sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos que o ambiente inóspito da Antártica – e o isolamento que é inerente a ele – gera ou pode gerar na saúde dos pesquisadores e militares que trabalham no continente. Rosa Arantes coordena esse programa.
Por fim, o Laboratório de Estudos Antárticos em Ciências Humanas (Leach) investiga – por meio da recuperação de artefatos arqueológicos – a dinâmica social e os modos de vida estabelecidos nas primeiras ocupações da região, nos séculos 18 e 19. O laboratório é coordenado por Andrés Zarankin, professor do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG.
Gerenciado pelos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), das Relações Exteriores (MRE) e da Defesa (MD), o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) é a instância do governo federal que coordena toda a pesquisa brasileira na região da Antártica e mantém a Estação Antártica Comandante Ferraz.
Assista a um dos vídeos da série produzida pela TV UFMG que registra a missão de pesquisa do MycoAntar no continente.