Extensão

Para especialistas, ações afirmativas transformaram as universidades

Debate sobre o assunto educou a sociedade, disse professor da UFMG em mesa do congresso de extensão

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No sentido horário, Cláudia Gonçalves, Rodrigo Ednilson, Flavi Lisboa e Maria Santana Milhomem, que debateram a relação entre extensão, inclusão e ações afirmativas
Reprodução de tela: Raphaella Dias | UFMG

A concepção de extensão, que até pouco tempo atrás dizia respeito a um fenômeno que ocorria “de dentro pra fora”, ou seja, de condução do saber das universidades para a comunidade, passou a ser caracterizada pela construção mútua do saber. Essa transformação é decorrente da aproximação dos próprios moradores das comunidades com a universidade.

Essa foi uma das observações feitas nesta quarta-feira, dia 10, pelo professor Rodrigo Ednilson, da Faculdade Educação, na mesa-redonda Políticas afirmativas e de inclusão na Universidade, que integra a programação do 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU). O evento foi transmitido pelo canal da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) na plataforma YouTube

“Vivenciei a experiência mais marcante de tensionamento dessa percepção no projeto Conexão de Saberes, no âmbito da Fafich e da FaE. Nesse projeto, estudantes que viviam nos aglomerados urbanos reivindicaram a construção conjunta e o compartilhamento”, relatou.

De acordo com Rodrigo Ednilson, o debate sobre ações afirmativas “educou a sociedade brasileira e nos fez pensar sobre a nossa identidade nacional”. “Se somos todos mestiços e somos todos iguais, por que existe racismo?”, provocou. Esse aprendizado, segundo o professor, nasceu do protagonismo dos movimentos sociais. “A universidade precisa reconhecer isso para avançar”, completou o professor, que também preside a Comissão Permanente de Ações Afirmativas e Inclusão da UFMG.

Características fenotípicas
Para a pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Cláudia Gonçalves de Lima, as características fenotípicas, como a cor da pele, os traços faciais e a textura do cabelo, devem ser levadas em conta para o enquadramento dos estudantes nas políticas de cotas raciais nas universidades, em vez da mera autodeclaração, fundamentada pela ancestralidade negra.

“A estigmatização pelo fenótipo é que se alinha, de forma mais coerente, com o racismo que é praticado no Brasil, onde são vulneráveis as pessoas com a negritude visível em seus corpos. A autodeclaração deve ser contextualizada como um traço de empoderamento, que foi muito importante, mas ela, sozinha, sem verificação autônoma das universidades, não basta”, reforçou a dirigente.

Segundo Cláudia Gonçalves, a extensão universitária brasileira busca fortalecer a educação étnico-racial, e a política afirmativa de inclusão é uma etapa desse processo histórico. “É importante afirmar que podemos, no desempenho da autonomia universitária, exercer condições reais de garantia e ampliação de políticas afirmativas e de inclusão.”

O pró-reitor de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Flavi Ferreira Lisboa, listou algumas das ações desenvolvidas no âmbito de sua instituição, como o Observatório dos Direitos Humanos, o programa de rádio Protagonismo negro, o GT Negros, que promove discussões das temáticas étnico-raciais, e outras ações de conscientização desenvolvidas em escolas e comunidades.

Para Lisboa, além das políticas de inclusão das minorias nas universidades, que são "reparadoras das injustiças históricas", também é importante pensar em políticas de permanência. “A universidade é o espaço da pluralidade. A dificuldade de lidar com ela decorre de uma perspectiva pouco construtiva, de uma opinião da maioria muito arraigada no senso comum, aquilo que a sociedade definiu como padrões hegemônicos”, refletiu.

O debate foi mediado pela professora Maria Santana Ferreira dos Santos Milhomem, da Universidade Federal de Tocantins (UFT).

Matheus Espíndola