'É falsa a crença que jovem não corre riscos com a Covid-19', diz professor da Medicina
Mateus Westin defende isolamento social para que país não tenha 'explosão de casos', tornando até mesmo essa medida pouco eficaz
Um jovem de 26 anos morreu com coronavírus, em São Paulo, nesta semana. De acordo com os pais, ele não tinha complicações de saúde e corria maratonas. Além dele, uma adolescente de 16 anos está entre as novas vítimas do coronavírus na França, de acordo com o governo. Julie, que não teve o sobrenome divulgado, era saudável e não estava no grupo de risco da Covid-19. Nos últimos dias, uma mulher de 21 anos, no Reino Unido, sem doenças pré-existentes, também morreu, vítima da mesma doença. Esses e outros tantos casos alertam sobre a letalidade do coronavírus entre jovens.
“É um erro e uma falsa crença [acreditar que pessoas com menos de 60 anos e sem outras comorbidades não correm riscos mais graves com a Covid-19], uma vez que as estatísticas nos ajudam apenas a definir os grupos de maior risco e vulnerabilidade para o agravamento dessa condição”, explicou o professor Mateus Rodrigues Westin, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nessa terça-feira, 31.
Segundo Mateus Westin, estar fora do grupo de pessoas consideradas como as de maior risco para uma doença não é sinônimo de imunidade. Em caso de desenvolvimento da Covid-19, assim como ocorre com toda condição infecciosa, há fatores de risco atrelados ao agravamento da doença: pessoas com mais de 60 anos que tenham outras comorbidades, principalmente doenças cardiovasculares, pulmonares e diabetes.
No entanto, de acordo com Mateus Westin, “isso não significa que, naquelas pessoas que não têm fatores de risco determinados ou não fazem parte de uma faixa etária de maior risco, a doença não possa evoluir também com gravidade.”
O especialista lembrou que pesquisas publicadas sobre o novo coronavírus em diversos países afetados pela pandemia demonstram que “jovens, saudáveis, sem nenhuma comorbidade e que tenham perfil de atleta ou que façam atividade física também adquirem a infecção e são passíveis de [sofrer com o] agravamento", mesmo que isso ocorra em uma frequência menor se comparada a outras faixas, especialmente aquelas consideradas como de maior risco.
Mateus Westin reforçou, ainda, a necessidade de o jovem se cuidar e seguir as orientações das autoridades de saúde, a fim de, em casos de menor gravidade ou até mesmo assintomáticos, não ser agente transmissor do vírus Sars-CoV-2. De acordo com o professor, o comportamento da doença entre jovens tem variado, de país para país. O que tem ficado evidente é que, quando a pandemia se torna um problema grande para o país e para os sistemas de saúde, “a população inteira se conscientiza e passa a tomar as precauções necessárias", destacou.
Olhar para os exemplos de outros países e aplicá-los, lembrou o professor, pode contribuir para amenizar os impactos da pandemia no Brasil. “O que precisamos aprender com a evolução recente da epidemia em outros países é que é melhor acreditar nos dados científicos precocemente e tomar as medidas de isolamento social e restrição de circulação de pessoas antes que a gente tenha uma explosão de casos, numa fase em que até mesmo o isolamento domiciliar passa a ser pouco eficaz”, alertou Westin.