Institucional

Semana de Saúde Mental é aberta oficialmente na UFMG

Mesa de abertura do evento
Mesa de abertura do evento Foto: Foca Lisboa / UFMG
Benigna Maria de Oliveira
Benigna Maria de Oliveira Foto: Foca Lisboa / UFMG

A complexidade e a crise que marcam o cenário doméstico e nacional deram o tom das intervenções feitas na manhã de hoje, 16, durante abertura da quinta edição da Semana de Saúde Mental, no auditório da Reitoria. “A Semana de Saúde Mental ocorre em um momento em que não estamos felizes”, afirmou a pró-reitora de Extensão, Benigna Maria de Oliveira.

Tarcísio Mauro Vago
Tarcísio Mauro Vago Foto: Foca Lisboa / UFMG

Segundo ela, as últimas semanas foram especialmente difíceis para a comunidade acadêmica, em razão da perda de alguns estudantes. “Paralelamente, estamos comemorando os 90 anos da UFMG em um momento também muito difícil para o país. Não podemos fazer a nossa discussão descontextualizada de tudo isso que nos cerca. Devemos manter a Universidade como um espaço de resistência”, defendeu.

Claudia Mayorga
Claudia Mayorga Foto: Foca Lisboa / UFMG

O pró-reitor de Assuntos Estudantis, Tarcísio Mauro Vago, valeu-se de um paradoxo – “alegria entristecida” – para definir o momento. “Alegria por estarmos aqui, realizando a quinta edição deste evento, mas entristecida por estarmos perdendo nossos estudantes, seja pela evasão, seja pela forma mais bárbara de perdê-los, que é quando eles escolhem se retirar da vida”, afirmou Tarcísio Vago.

Laura Fusaro
Laura Fusaro Foto: Foca Lisboa / UFMG

O pró-reitor referia-se ao suicídio de um estudante da UFMG no início deste mês, em sua cidade natal. Segundo ele, o jovem enfrentava um quadro histórico de depressão e havia trancado a matrícula no primeiro semestre de 2017. A professora Claudia Mayorga, pró-reitora adjunta de Extensão, pediu aos participantes do evento para guardar um minuto de silêncio em sua memória e em memória de todos aqueles que, em algum momento de suas vidas, sucumbiram ao sofrimento mental. “Estamos em luto”, resumiu.

Após a pausa, Mayorga, emocionada, conclamou a comunidade a manter a esperança. “Mesmo diante de tanta escuridão, não podemos perdê-la”, salientou. “Para construirmos uma Universidade diferente, uma sociedade diferente, não podemos perder a alegria nem a esperança. E eu entendo que a Rede de Saúde Mental que temos aqui é um movimento que traz esperança”, disse.

A vida tem pressa
Além de Benigna, Tarcísio e Claudia Mayorga, integraram a mesa a pró-reitora de Recursos Humanos, Maria José Cabral Grillo, o ex-presidente e representante da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (Asussam-MG), Edmundo Veloso Caetano, o pró-reitor adjunto de Graduação, Walmir Matos Caminhas, e a estudante Laura Fusaro, que representa os estudantes da UFMG que enfrentam o sofrimento mental.

Na ocasião, Laura Fusaro leu uma espécie de manifesto dos alunos que residem nas moradias universitárias da UFMG. Na nota, o grupo expressou sua solidariedade aos familiares e amigos do aluno que morreu. Antes de trancar o curso, ele residia na moradia universitária.

No manifesto, os estudantes chamaram a atenção para a alta incidência de sofrimento mental entre os residentes nas moradias. Por isso, demandaram uma melhoria na oferta de escuta psicológica. “Nós, estudantes, estamos sempre pressionando muito, mas não fazemos isso por não reconhecermos o esforço [da Universidade em melhorar as condições oferecidas], mas, sim, porque a nossa vida tem pressa. E as pessoas que perdemos não voltam”, disse.

Política e atuação
Para atender a essa demanda por acolhimento, a UFMG vem trabalhando em várias frentes. Em sua intervenção na mesa de abertura, o professor Walmir Caminhas, pró-reitor adjunto de Graduação, informou que os colegiados de curso estão sendo orientados a acolher, de forma diferenciada, as necessidades do aluno com sofrimento mental, de modo a favorecer a flexibilização de sua rotina acadêmica.

Já a Comissão Institucional de Saúde Mental (Cisme), criada no atual Reitorado, apresentou relatório em que condensa as suas grandes linhas de reflexão sobre o problema. O documento expõe uma concepção de Universidade acolhedora, flexível, acessível, inclusiva, solidária e disposta a conferir protagonismo às pessoas que vivem a experiência de sofrimento mental. O texto, que também está sintonizado com a Política de Direitos Humanos da UFMG, defende uma atuação em consonância com o Sistema Único de Saúde (SUS) e com os dispositivos legais que compõem e orientam os programas municipal, estadual e nacional de saúde mental.

A pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga, afirmou, em matéria publicada na edição desta semana do Boletim UFMG, que a Universidade precisa ter uma atuação efetiva nessa área. “Não é função da Universidade fazer atendimentos, mas é fundamental que ela acolha as pessoas que necessitam de apoio e se articule com as políticas públicas de saúde mental do município e do estado", afirma.

Problemas decorrentes de sofrimento mental não afetam apenas a rotina acadêmica do corpo discente. De acordo com relatório do Departamento de Atenção à Saúde do Trabalhador (Dast) da UFMG, que cobre o período de 2011 a 2015, os transtornos mentais e comportamentais são a primeira causa de longos afastamentos de servidores por doenças na Universidade.

Segundo a pró-reitora de Recursos Humanos, Maria José Cabral Grillo, que também participou da atividade de abertura, discussões propostas em edições anteriores da Semana de Saúde Mental convergem com ações planejadas pela Pró-RH, como a criação de formas de acompanhamento funcional para prevenção do sofrimento dos servidores e de escuta qualificada e resolutiva nos ambientes de trabalho. Algumas comissões foram instituídas com essa finalidade e estão trabalhando em uma proposta de resolução.

A 5ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG vai até sexta-feira, 19, com debates, oficinas, exposições e atividades artístico-culturais. A programação pode ser conferida no site do evento.