Institucional

Encontro na UFMG inicia discussões sobre o aprimoramento da avaliação do ensino superior

Evento organizado pelo Inep também contou com grupo de trabalho para discutir diretrizes curriculares para os cursos de engenharia

Da esquerda para a direita, Luiz Curi (CNE) e Manuel Palacios (Inep), ao lado da reitora Sandra Goulart e do vice-reitor Alessandro Moreira
Da esquerda para a direita, Luiz Curi (CNE) e Manuel Palacios (Inep), ao lado da reitora Sandra Goulart e do vice-reitor Alessandro Moreira Foto: Raphaella Dias | UFMG

Uma discussão inicial para a criação e implementação de diretrizes, procedimentos e instrumentos para aprimorar a avaliação da educação superior no Brasil teve lugar, na manhã desta sexta-feira, 30 de junho, na Sala de Sessões do prédio da Reitoria, campus Pampulha da UFMG. Promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria com a UFMG e o Conselho Nacional de Educação (CNE), o encontro também reuniu um grupo de professores e pesquisadores que discute as novas diretrizes curriculares para os cursos de engenharia oferecidos nas universidades brasileiras. 

“A reunião de hoje tem um duplo objetivo: o primeiro é promover discussões sobre as novas diretrizes curriculares dos cursos de engenharia, que necessitam do desenvolvimento de novos instrumentos e procedimentos, com a finalidade de avançar na avaliação de um setor tão importante quanto a área de engenharias; o outro [objetivo] é promover uma discussão inicial, com alguns convidados, para criarmos também os procedimentos e instrumentos para uma avaliação das universidades orientadas para pesquisa, desenvolvimento e tecnologia”, explicou o presidente do Inep, professor Manuel Palacios.

Manuel Palacios: avançar na avaliação
Manuel Palacios: avançar na avaliação Foto: Raphaella Dias | UFMG

De acordo com Palacios, o Inep convidou pesquisadores de diferentes instituições, que já desenvolvem reflexões e pesquisas relevantes sobre o tema. “Queremos começar a discutir tanto com as instituições como dentro do Inep a possibilidade de produzir mais informações para as grandes universidades brasileiras, de modo que elas consigam pensar e refletir sobre o seu desenvolvimento, com base em informações mais detalhadas sobre o que fazem. Vamos discutir como produzir um processo diferenciado, para que as instituições tenham mais dados sobre a sua atuação, o impacto de suas atividades na sociedade, para que possam, portanto, pensar melhor o seu futuro”, detalha.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida destaca que a política de autoavaliação adotada pela Universidade, que resultou, entre outras coisas, na Avaliação Diagnóstica da Pós-graduação da UFMG, lançada neste ano, é uma das ações que torna a UFMG protagonista nessas discussões. “Nossa instituição já tem um protagonismo na área de avaliação. Fizemos recentemente uma autoavaliação da pós-graduação, que foi lançada em evento que contou com conferência da presidente da Capes, professora Mercedes Bustamante. Isso ajuda a exemplificar que essa questão da avaliação é algo que é, de fato, central para a nossa prática como instituição”, diz. 

O presidente do Inep também destaca a importância da parceria com a UFMG e com o Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão também vinculado ao MEC. “Nosso objetivo é começar a trabalhar de forma mais consistente nessa área, e a UFMG tem sediado e apoiado significativamente esse esforço. A reitora Sandra colocou a universidade à disposição para isso, então é a nossa principal colaboradora no momento para o desenvolvimento dessa proposta. Temos aqui também o presidente do Conselho Nacional de Educação, que é outra das instituições que tem apoiado fortemente essa iniciativa. Hoje, juntos, estamos começando a construir este edifício que, tudo dando certo, deve representar um avanço importante na avaliação das nossas universidades”, contextualiza.

Relevância social
A perspectiva de uma avaliação transformadora, que aproxime as instituições de ensino superior da sociedade, diferenciando-as, deve ser o norte do processo que se inicia, segundo percepção do presidente do CNE, o sociólogo Luiz Roberto Liza Curi. Para ele, uma avaliação que iguale as instituições, desconsiderando suas especificidades, não é vantajosa para a educação superior brasileira.

“O processo avaliativo, agora com o professor Palacios à frente do Inep, resgata a relevância social da avaliação, a relevância da inclusão no processo de formação da educação superior. A avaliação tem a função de estimular as instituições a ampliar seu compromisso com a sociedade, estimulá-las a transformar esse compromisso em processo transformador da sociedade. Uma avaliação morna, regulatória, normativa, burocrática, que apenas verifica normas, é antissocial: ela pode ajudar as instituições a não fazer coisas muito erradas, mas não as estimula a fazer o certo, o necessário para o país”, defende.

Parâmetros próprios
O evento desta sexta-feira, segundo Sandra Goulart, é o início de uma conversa capitaneada pelo Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). “O Inep é uma instituição sólida, que já desenvolve, sistematicamente, avaliações das universidades há muitos anos e nos propôs fazer essa reunião. A questão da avaliação é um tema em que a UFMG já vem trabalhando e com o qual tem estado muito preocupada, especialmente em relação aos rankings: muitos deles surgem com pauta e agenda próprias, sem a participação das instituições de ensino, e isso é algo que nos preocupa muito”, diz.

Sandra Goulart: avaliação adequada ao momento atual
Sandra Goulart: avaliação adequada ao momento atual Foto: Raphaella Dias | UFMG

Na abertura do evento, Sandra Goulart reforçou suas críticas às avaliações feitas por rankings e a necessidade de modificação nos instrumentos atuais, feitos pelos órgãos vinculados ao MEC, tendo em vista a mudança no perfil das universidades. “Como toda a avaliação, [a avaliação feita pelo Inep] precisa ser revista e repensada. A UFMG se dispõe a fazer isso, porque é uma área do nosso interesse: pensar a avaliação nas nossas instituições, tendo sempre em vista que a avaliação tem que partir da nossa própria reflexão, já que o que fazemos hoje é diferente do que a gente fazia 20 anos atrás. É importante que as avaliações acompanhem também esse momento da universidade, que mantém sua qualidade, mas está mais próxima da sociedade e mais inclusiva. A qualidade sem inclusão cria instituições elitizadas. Por outro lado, com inclusão sem qualidade, nós não estaremos gerando, de fato, o impacto social que precisamos ter na vida das pessoas”, situa.

A reitora da UFMG defende também que as diretrizes para avaliação de universidades brasileiras não podem perder de vista o foco nas experiências vividas no contexto de instituições sediadas no Brasil e na América Latina. “A avaliação nos ajuda a melhorar, a nos tornarmos instituições cada vez mais consistentes. Mas temos que estabelecer os nossos próprios parâmetros, que são importantes para nós, e não ficar a reboque de avaliações internacionais, algumas delas com fins lucrativos e que têm sua própria agenda”, destaca.

Participantes
Também participaram das discussões o vice-reitor da UFMG, Alessandro Moreira, o pró-reitor de Graduação da UFMG, Bruno Teixeira, a diretora de Avaliação Institucional da UFMG, Viviane Birchal, a presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), Adriana Tonini, além de outros membros da equipe do Inep e representantes das universidades federais de Juiz de Fora (UFJF), Uberlândia (UFU), Rio de Janeiro (UFRJ), das estaduais de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp), da PUC Rio e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Após a abertura, os participantes se dividiram em dois grupos: o primeiro tratou da diferenciação de perfis institucionais na avaliação da educação superior brasileira, o segundo, com foco nas engenharias, abordou os processos avaliativos dos cursos e a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Engenharia.

Sala de Sessões, no prédio da Reitoria, recebeu especialistas em avaliação do ensino superior
Sala de Sessões, no prédio da Reitoria, recebeu especialistas em avaliação do ensino superior Foto: Raphaella Dias | UFMG

Hugo Rafael