Pesquisador lança 'tributo audiovisual' a Vander Lee
Filme de Fred Le Blue, que foi residente de pós-doutorado na EBA, reúne momentos emblemáticos da carreira do cantor e compositor mineiro
O arquivo público virtual do compositor mineiro Vander Lee, morto em 2016, acaba de ganhar uma edição do pesquisador Fred Le Blue, que foi residente de pós-doutorado na Escola de Belas-Artes. O tributo audiovisual é "uma homenagem que busca preencher o vazio causado em BH, em Minas e no Brasil pela ausência física desse gênio da comunicação musical, que sabia unir os pontos dos retalhos da alma nua na primeira pessoa, sem heterônimos", informa Blue, em texto de divulgação.
A natureza de Vander Lee Catarina reúne diversas entrevistas e apresentações do cantor e compositor belo-horizontino, entre elas, participações nos programas de Jô Soares, de Rolando Boldrin (Sr. Brasil) e uma homenagem da Orquestra Ouro Preto, na Serra da Piedade, em Caeté, Minas Gerais.
Vander Lee morreu aos 50 anos em decorrência de um ataque cardíaco. Na ocasião, ele completaria duas décadas de carreira. Em bares e teatros de Belo Horizonte e de outras cidades mineiras, o cantor pavimentou seu caminho até se tornar conhecido em 1996, quando a música Gente não é cor rendeu-lhe o segundo lugar no festival Canta Minas, promovido pela TV Globo Minas. Em seguida, ele produziu seu primeiro disco, ainda como Vanderly. A partir do segundo álbum, ele passou a usar o nome pelo qual é conhecido atualmente.
Com nove discos, Vander Lee cantava o amor; suas letras e canções retratavam o futebol e o cotidiano urbano. Entre suas composições estão as baladas Esperando aviões, Onde Deus possa me ouvir, Estrela, Iluminado, Contra o tempo, Eu e ela e sambas como Galo e Cruzeiro, Sambado, Piti e Passional.
Da margem ao centro do palco
Vander Lee é considerado um ícone interrompido da música romântica e popular brasileira e teve seu talento reconhecido por nomes como Maurício Tizumba, Elza Soares e Maria Bethânia. Nascido no bairro Olhos d´Água, em Belo Horizonte, o artista, antes de se tornar músico profissional, trabalhou como ambulante, gandula e soldado. "Ele foi tatuado com as marcas de uma vida de invisibilidade social, que ameaçava até mesmo o direito a uma vida segura. Pobre, preto e periférico, Lee conseguiu vencer quase tudo, até mesmo sua timidez nos palcos, desenvolvendo um carisma singular por meio de uma horizontalidade despojada na relação entre palco e plateia", diz Le Blue.
"A música vanderleeana, universal e atemporal, funciona, ainda hoje, como um bálsamo de cura dos traumas causados pelo preconceito de classe e raça da sociedade. A obra de Vander reflete as adversidades da vida cotidiana e amorosa e aponta para uma perspectiva de esperança utópica com urbanidade e clarividência. Por isso, ele virou estrela muito cedo e segue iluminando os românticos ameaçados de extinção, sem preciosismos de apegos e aversões estéticas, por meio de uma obra sincrética e eclética, de um campo de força vibracional do pró-reencantamento do mundo", prossegue o artista no texto de divulgação do filme.
Editor do acervo digital de Vander Lee, Fred Le Blue é professor e pesquisador em Urbanismo Sustentável e Artístico na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Fez residência pós-doutoral em Artes Visuais pela UFMG (biênio 2021-2022) com o tema "direito à cidade e à diferença de gênero no verde urbanizado". Idealizou o Movimento Artetetura e Humanismo e é autor de livros, filmes, músicas e webséries de educação política, patrimonial e ambiental.
Assista ao filme:
Nas ruas de Santa Teresa
Vander Lee será homenageado nas ruas de Santa Tereza, durante o carnaval de Belo Horizonte, pelo bloco Românticos são loucos, criado pelo irmão, Marcos Catarina. O bloco desfilará no domingo, 11 de fevereiro, com concentração às 8h, na Rua Mármore, 165. O desfile será às 11h e a dispersão, às 14h, na praça Duque de Caxias.
Os foliões serão embalados pelos sucessos de Lee e de músicas temáticas do repertório afro-brasileiro. Oito músicos de frente, três naipes de metais, percussões, bateria, baixo, guitarras elétricas tocarão sambas, marchinhas, reggaes, ijexás e uma variedade de ritmos afro-mineiros.