Ensino

Congresso discute papel da EaD na extensão e experiências universitárias

Especialistas recomendam reflexão e indicam práticas que deram bons resultados

Fernando Fidalgo, Wagner Corradi, Cláudia Mayorga, Cristiano Bickel e Evandro Lemos durante a abertura do evento
Fernando Fidalgo, Wagner Corradi, Claudia Mayorga, Cristiano Bickel e Evandro Lemos na abertura do evento Pedro Nascente / Caed UFMG

A responsabilidade da universidade em difundir o conhecimento acadêmico para além de seus muros, a importância da extensão para a formação dos alunos e o papel da educação a distância nesse processo foram aspectos destacados ontem, dia 6, na abertura e nas primeiras discussões do Colóquio de Extensão Universitária na Educação a Distância, que está sendo realizado na Escola de Belas Artes.

O evento foi aberto pelo diretor do Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed/UFMG), Wagner Corradi, pela pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga, pelo diretor da Escola de Belas Artes, Cristiano Bickel, e pelo coordenador do Núcleo de Pesquisas em Educação a Distância do Caed, Fernando Fidalgo.

Na primeira mesa do dia, sobre Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, a professora Maria Isabel da Cunha, da Universidade Federal de Pelotas, salientou que, após o fim do regime militar, a educação se afastou da visão tecnicista e começou a focar na responsabilidade social da Universidade. “A universidade pública, que é financiada por todos, deve servir a todos”, defendeu a professora.

Para Maria Isabel, a EaD possibilita que as questões sociais tenham presença mais consistente nas discussões acadêmicas e que a extensão cumpra um de seus papéis fundamentais, a reflexão sobre o fazer profissional. “Na EaD, com horários mais flexíveis, muitas vezes trabalhamos com alunos que já têm prática na área que estão estudando.”

Jussara Paschoalino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresentou suas experiências na coordenação do projeto de extensão Aproxime-se, do Caed, que organiza atividades culturais e científicas nos municípios onde são oferecidos os cursos. “O Aproxime-se conseguiu ultrapassar os muros da universidade, não com conhecimento messiânico, mas com o saber construído coletivamente”, frisou Jussara.

As experiências bem-sucedidas do programa foram aprofundadas na segunda mesa-redonda. Fernando Fidalgo, coordenador dos cursos do Observatório Nacional do Sistema Prisional oferecidos pelo Caed, apresentou as atividades do Aproxime-se nos municípios de apoio presencial e chamou a atenção para a necessidade de se pensar na criação de programas de extensão para além desses polos. “Precisamos criar a extensão a distância, usar as ferramentas da EaD e as mídias sociais para criar atividades de extensão que extrapolem as atividades presenciais nos polos”, defendeu Fidalgo.

Wagner Corradi fez uma exposição sobre o UEADSL, congresso acadêmico sobre Universidade, EaD e Software Livre integralmente feito a distância e com programação assíncrona, promovido pelo grupo Texto Livre da Faculdade de Letras da UFMG, com apoio do Caed. “O congresso possibilita ao aluno da graduação a distância experienciar a dinâmica da produção acadêmica e da publicação científica.” O congresso recebe artigos escritos por alunos de graduação e, em edições passadas, foi aberto a estudantes e pesquisadores de instituições externas à UFMG.

Práticas de sucesso
Nas mesas da tarde, outras instituições apresentaram suas ações de extensão. O professor José Wilson da Costa, que atua no ensino médio profissionalizante do Cefet-MG, fez retrospectiva da implantação dos cursos técnicos a distância no centro de educação tecnológica, ofertados a partir de 2010, e do desenvolvimento das suas ações de extensão. 

O modelo de gestão de condução das capacitações, a distância entre os campi e os polos presenciais e a resistência por parte de colegas foram alguns dos desafios enfrentados. Para lidar com eles, segundo o professor, foi necessário repensar a distribuição dos pontos de apoio nos municípios e deslocar as atividades presenciais dos polos para as unidades do Cefet-MG a fim de aproveitar a estrutura disponível. Houve ainda uma reformulação pedagógica: além dos tutores presencial e a distância e do professor-formador, o Centro propôs a figura do “professor-mediador”, que também ministraria aulas e supervisionaria tarefas práticas.

Os resultados foram positivos. “Depois que os polos viraram unidades, os alunos passaram a ter um sentimento de pertencer à instituição. Eles começaram a se interessar e até a exigir a participação também nas ações de extensão. Mas só isso não bastava: era preciso também estarmos ligados à comunidade, o que foi feito por meio de parcerias”, explica.

De acordo com José Wilson, está em andamento um projeto de extensão, com o apoio da prefeitura de Nova Lima, na região metropolitana, para o desenvolvimento de um sistema de aquaponia, que envolve criação de peixes e cultivo hidropônico de hortaliças. O trabalho contará com a participação de alunos dos três cursos técnicos a distância do Cefet-MG: Informática para Internet, Meio Ambiente e Eletroeletrônica.

Na mesa seguinte, as professoras Erica Tavares, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Inajara Viana e Márcia Ambrósio, da Ufop, ressaltaram o impacto social das práticas extensionistas. Coordenadora do Núcleo de Estudos da Pedagogia à Distância (Nepedi) da UFLA, Érica defendeu a associação entre pesquisa, ensino e extensão proposta pelo grupo, que se reúne semanalmente para discutir aspectos práticos e teóricos de suas ações. Adeptos de metodologia baseada na escuta da comunidade e da avaliação de formas de responder a esses anseios, os membros do Nepedi visitaram polos e se reuniram com os alunos e com os moradores dos municípios em que são ofertados os cursos para listar suas demandas. Essa movimentação deu origem a projetos de contação de histórias em turmas do ensino básico e oficinas sobre plágio acadêmico.

Na opinião de Érica Tavares, para quem um dos maiores desafios é lidar com a falta de bolsas de extensão, a educação a distância não é um problema, mas um trunfo. “Nós, da EaD, já estamos dentro daquela comunidade, já temos um braço lá.”

As professoras da Ufop discorreram sobre alguns dos 35 projetos ativos de extensão da instituição, especialmente aqueles desenvolvidos em parceria com o Centro de Educação Aberta e a Distância, mas manifestaram-se contra a desvalorização das ações de extensão no meio acadêmico. Inajara lembrou a importância de que as práticas extensionistas sejam acompanhadas por sólidos aportes teóricos e constante reflexão para que não se desfigurem em mero assistencialismo. “O aluno que se envolve com a extensão tem uma empolgação especial porque ele pode ver aplicação direta do seu conhecimento.”

Márcia Ambrósio, que está à frente de projetos sobre estratégias lúdicas de ensino, como o uso de jogos de tabuleiros como recurso didático, acredita que “o papel da Universidade é chegar à comunidade, e não há meio melhor para fazê-lo do que a extensão”. No entanto, apesar do impacto sobre a sociedade, as iniciativas extensionistas ainda são pouco valorizadas. “A extensão não tem o mesmo valor que a pesquisa no meio acadêmico, quando se analisam quesitos como produtividade docente, e isso é um problema porque desmotiva os professores a se envolverem com os projetos. Hoje faz extensão quem gosta”, resume.

O Cenexed prossegue nesta quarta, 7, com debates sobre institucionalização da EAD como elemento para promoção da indissociabilidade e ações extensionistas na visão dos alunos.

Com Assessoria de Comunicação do Caed/UFMG